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CARDÁPIO INDIGESTO
Arroz e feijão perdem espaço para industrializados; melhora de hábitos evitaria 260 mil mortes/ano, diz governo
Alimentação do brasileiro piora em 30 anos
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A alimentação do brasileiro piorou nos últimos 30 anos. Alimentos fundamentais para uma dieta
saudável e rica em nutrientes
-como arroz e feijão- estão cada vez menos presentes no cardápio da população. Por outro lado,
o consumo de produtos industrializados e com poucos nutrientes apresentou um aumento de
82% no mesmo período.
Segundo o Ministério da Saúde,
a má qualidade da dieta está diretamente associada aos riscos de a
pessoa desenvolver doenças crônicas não-transmissíveis, como o
diabetes, obesidade e problemas
no coração.
Ainda segundo o ministério, essas doenças estão relacionadas às
causas mais comuns de morte registradas atualmente. O governo
calcula que cerca de 260 mil mortes poderiam ser evitadas todos os
anos caso o brasileiro mantivesse
uma alimentação saudável.
Para melhorar a dieta da população, o governo federal divulgou
os dados do "Guia Alimentar da
População Brasileira", que contém as primeiras diretrizes nutricionais oficiais do país.
"O objetivo é evitar que as pessoas adoeçam por causa da má
alimentação. E, para isso, precisamos compor políticas públicas de
alimentação e incentivar uma dieta adequada", diz Maria de Fátima Carvalho, consultora técnica
da Coordenação Geral da Política
de Alimentos e Nutrição do Ministério da Saúde.
Arroz e feijão
Comidas típicas do Brasil, o arroz e o feijão estão cada vez menos freqüentes nos pratos da população. O consumo do feijão per
capita caiu 31% nos últimos 30
anos. Como se não bastasse a queda, a tendência ainda é de diminuição.
"O arroz e o feijão estão perdendo a importância na alimentação
diária da população. A gente quer
reverter essa situação porque esses alimentos existem em abundância no país e são importantes
na nutrição", diz Maria de Fátima.
Segundo a nutricionista Renata
Maria Padovani, pesquisadora no
Nepa (Núcleo de Estudos de Pesquisa em Alimentação) da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), o hábito de comer arroz e feijão deve ser mantido.
"É um prato extremamente rico. Eles têm proteínas complementares. E o feijão ainda é rico
em ferro. Esse é um hábito que
sempre existiu e que sempre foi
muito saudável", afirma a nutricionista.
Outro fator que caracteriza o
desequilíbrio nutricional do brasileiro é a queda na ingestão de
verduras, legumes e peixes.
Segundo o guia alimentar, a
quantidade de "verde" que consumimos caiu 19,3%. A ingestão
de peixes foi reduzida pela metade, apesar de o Brasil ser rico na
produção de pescados.
"O peixe é fundamental para
uma dieta saudável porque é rico
em ômega 3, que diminui o colesterol ruim (LDL) e aumenta o colesterol bom (HDL) no organismo", alertou o médico nutrólogo
Edson Credídio, diretor da Abran
(Associação Brasileira de Nutrologia). O ideal, segundo Credídio,
seria consumir peixe pelo menos
duas vezes por semana.
Carnes, leite e ovos
Os dados do guia alimentar
mostram também uma tendência
crescente no consumo de carnes e
leite. A exceção ficou para os ovos,
que registraram uma queda de
84% no período.
"Os ovos sempre foram vistos
como vilões, por estarem associados ao aumento do colesterol,
mas pesquisas mostram que eles
têm outros nutrientes que são importantes para a saúde", afirmou
Maria de Fátima.
O consumo de carnes aumentou 46% e é visto positivamente
pelos nutricionistas. "A carne é rica em ferro, zinco e proteínas" diz
Credídio. A recomendação é evitar as gordurosas, pois elevam os
riscos de doenças no coração.
Segundo Renata, o aumento do
consumo de leite é positivo. Mesmo assim, não atinge a quantidade recomendada pelos nutricionistas. "A ingestão de cálcio do
brasileiro é baixa. E diminui conforme a renda cai", afirma.
Colaborou SIMONE HARNIK, da Reportagem Local
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