São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

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VÔO 1907/INVESTIGAÇÃO

Jato não precisava de recall, diz fabricante

Segundo a empresa Honeywell, Legacy envolvido no acidente que matou 154 pessoas não usa o tipo de transponder sujeito a falha

A Embraer, que vendeu o avião e poderia sanar as dúvidas, afirma que não se pronunciará até o final das investigações do caso

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


A fabricante norte-americana Honeywell informou que o Legacy envolvido no acidente com o Boeing da Gol não utilizava transponder e unidade de comunicação sob suspeita de falha pelas autoridades aeronáuticas dos Estados Unidos.
O Legacy foi incluído no rol de 1.365 aeronaves de sete fabricantes diferentes nas quais estão instalados algumas séries desses aparelhos sujeitas a um recall da FAA (Administração Federal de Aviação).
O transponder envia e recebe dados de navegação para o controle em terra e outros aviões, inclusive os do sistema anticolisão da aeronave.
A unidade de comunicação codifica alguns desses dados. Eles são integrados.
A FAA, alertada pela própria Honeywell, descobriu que o transponder poderia entrar automaticamente em modo de espera ("stand-by", inoperante para radares na prática).
A condição para isso seria o caso de alguém da tripulação operar por mais de cinco segundos o botão giratório da unidade de comunicação do avião para mudar o seletor de código de rota -um código que, transmitido pelo transponder com dados como altitude e velocidade, ajuda a identificar o avião no radar.
Por que o piloto do Legacy, que não teve contato com o controle aéreo após passar por Brasília em direção a Manaus, mudaria seu código é incógnita.
Investigadores do acidente aéreo especulam até um esbarrão acidental.
Uma eventual falha desse tipo no Legacy acidentado explicaria por que o avião sumiu do radar primário, aquele que traz essas informações detalhadas, após passar por Brasília.
Não explica, porém, por que o Legacy estava na altitude errada (37 mil pés), na contramão da rota do Boeing.

Recall
A Honeywell mudou sua versão sobre o equipamento durante contatos com a reportagem da Folha ontem, por telefone e e-mail.
A Embraer, que vendeu o jato para a norte-americana ExcelAire e poderia sanar as dúvidas dizendo o que há no seu avião, não se pronunciará até o fim da investigação.
Questionado, o porta-voz da Honeywell Bill Reavis inicialmente afirmou à Folha que nenhum Legacy estava sob recall, como havia dito à imprensa americana.
Confrontado com o fato de a Diretriz de Aeronavegabilidade 2006-19-04, da FAA, citar o EMB-135BJ, que é o nome oficial do Legacy, disse que "aquele avião específico do acidente" não estaria sob suspeita.
Depois, Reavis informou o número de série de componentes do transponder utilizado naquele avião (7510700-665), que não está sujeito ao recall. Só que esse é o código com que a Honeywell designa as unidades de comunicação.
Questionado novamente, reafirmou sua informação, mas acrescentou que o Legacy não utiliza o tipo de transponder listado como suspeito.
Os equipamentos que, segundo a FAA, podem levar à falha são alguns componentes das unidades de comunicação RCZ, modelos 833J/K, 851J/K e 854J equipadas com os transponders Modo S XS-852E/F, XS-856A/B e XS-857A. A Honeywell não especificou quais modelos estão no Legacy.
A diretriz, expedida em 12 de setembro, só valerá a partir do dia 17 deste mês.
Ou seja, os aviões estão dentro do prazo para as medidas de segurança, que eram três: troca em até 14 dias do manual do piloto, incluindo alerta sobre checagem do equipamento; checagem e eventual troca da unidade de comunicação em até 18 meses e; checagem e eventual troca de software do transponder em até 18 meses.


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