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Brinquedo pirata tem até lixo hospitalar
Análises do Inmetro em produtos contrabandeados constatou ainda presença de metal pesado acima do recomendado em bonecas
Outro risco dos brinquedos
contrabandeados, que
representam 15% do setor, é
que eles não têm texto sobre
recomendações para o uso
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Bonecas feitas de lixo hospitalar reciclado ou com excesso
de metais pesados, carrinhos
que soltam peças que podem
ser engolidas e brinquedos com
arestas ou pontas afiadas. Com
participação de 15% do setor e
consumidos por um em cada
quatro brasileiros, os brinquedos pirateados representam
um risco à saúde das crianças.
Análises feitas pelo Inmetro
(Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) em brinquedos
piratas apreendidos revelaram
dados assustadores. Uma boneca de plástico, por exemplo, tinha na composição 298 mg/kg
de chumbo, valor três vezes acima do máximo aceitável pela
OMS (Organização Mundial da
Saúde), que é de 90 mg/kg.
O excesso desse metal pesado, que dá a cor vermelha dos
brinquedos, contamina o sistema nervoso, a medula óssea e
os rins. Também interfere nos
processos genéticos ou cromossômicos.
Segundo Luiz Paulo Barreto,
presidente do CNCP (Conselho
Nacional de Combate à Pirataria), um dos casos mais alarmantes aconteceu há um ano.
Análises químicas mostraram
que bonecas pirateadas da China foram confeccionadas com
resíduos plásticos hospitalares.
"Para conseguir um preço
tão baixo, as máfias internacionais estavam usando, sem nenhum escrúpulo, o material
mais barato possível. Em algumas análises, foi constatado o
uso de plástico reciclado de lixo
hospitalar. Um material tóxico,
que as crianças colocam na boca, manuseiam", afirma.
Barreto diz que, além da péssima qualidade, os brinquedos
contrabandeados tornaram-se
um risco à saúde pública. "Ao
presentear os filhos com um
brinquedo pirata, os pais podem estar expondo a integridade deles em risco", alerta.
Outro problema constatado
pelo Inmetro é que os brinquedos pirateados não apresentam
o texto obrigatório para restrição de faixa etária ou recomendações antes do uso. Um tipo de
mordedor, indicado a crianças
abaixo de três anos, não trazia a
advertência de que o brinquedo
deveria ser colocado em água
fervente antes do uso.
Os testes mostraram que vários brinquedos liberam objetos pequenos, que podem ser
engolidos, ou, quando caem,
expõem pontas e cantos afiados, passíveis de ferir a criança.
Mesmo com tantos perigos,
24% dos brasileiros dizem
comprar brinquedos pirateados, revelou uma pesquisa da
Câmara de Comércio dos EUA,
realizada ano passado. Em média, são comprados nove brinquedos por ano, com valor
aproximado de R$ 18 cada.
Segundo Sinésio Batista da
Costa, presidente da Abrinq
(associação das indústrias de
brinquedos), há dez anos, a participação dos piratas chegava a
40% do setor de brinquedos.
Hoje, está em 15%. "Os consumidores estão se conscientizando do perigo que esses brinquedos representam."
No primeiro semestre deste
ano, o país bateu o recorde de
apreensões de brinquedos piratas. Foram 328 mil toneladas,
de janeiro a junho, ante 12 mil
no mesmo período de 2005, segundo a Receita Federal.
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