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Foco
40 esperam em fila para comprar calça por R$ 300 em "saldão" de grife italiana
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A advogada Flávia Gomes
adora uma pechincha: ela segura uma bolsa Louis Vuitton
que custou "só 400 em Nice", enquanto aguarda na fila
para comprar uma calça Diesel por R$ 300. "Dá pra vender
por US$ 2.000 [R$ 4.621],
meu, fazer leilão", diz Flávia,
rindo, na calçada da rua Haddock Lobo, nos Jardins.
Em seu aniversário de 30
anos, a marca italiana de jeans
vendeu calça a 30, em uma
promoção mundial de um dia
só. Na conversão para o real, a
brincadeira aqui ganhou um
zero a mais e virou R$ 300 (ou
pouco menos de 100).
Esber Hajli, 45, representante da Diesel no Brasil, explica a diferença de preços:
"Essa leva de calças veio de
avião ontem, em embalagens
especiais, e há uma taxação de
200%. É o custo Brasil".
A promoção só valia para
um modelo. E, mesmo assim,
das 550 calças que vieram, sobraram 205 -o restante foi
para quem reservou antes.
Venderam tudo rápido, em
quatro horas -o que não significa que alguém tenha se esbofeteado pelas calças.
Às 9h30, pouco antes de
abrirem as portas, havia cerca
de 20 pessoas esperando para
entrar: a fila chegou a 40, mas
foi minguando.
Será que o cliente não quis
se ver agregado a uma pechincha? Não, diz o coordenador
da área de marketing da Escola Superior de Propaganda e
Marketing, Edson Crescitelli.
"A tendência é a calça ser valorizada com o tempo. Quem é
ligado em rótulos vai reconhecer a peça como uma espécie
de relíquia." E como explicar o
desdém que alguns "ligados
em rótulos" demonstram em
relação a alguém que pegou fila para comprar uma calça?
"Eles desdenham para se valorizar. Na verdade, querem
mostrar que quem agrega valor são eles, e não a calça."
Quem despreza a fila, mas
não resiste a entrar nela, em
geral põe a culpa do "mico" em
um familiar. "Vim porque meu
sobrinho que mora em Londres me pediu para comprar
para ele", diz o cabeleireiro
Carlos Fernandes, 40, com sua
melhor expressão de enfado.
Mas em Londres também
tem promoção. "A fila lá é gigantesca", diz o cabeleireiro.
O modelo à venda não era
exatamente barato, visto que
grifes brasileiras caras, como
Forum e Osklen, vendem por
esse preço calças da estação.
Ontem, o preço em Nova York
era de US$ 50 [R$ 116].
Nos EUA, a Diesel, que fatura 1,5 bilhão por ano, não é
considerada artigo de luxo, como as também italianas Versace, Prada e Dolce & Gabbana.
Por aqui, talvez devido ao
"custo Brasil", as calças da grife são consideradas "objeto de
desejo" pela chamada "playboyzada". Eles pagam entre
R$ 595 e R$ 1.330 por uma.
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