São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Foco

40 esperam em fila para comprar calça por R$ 300 em "saldão" de grife italiana

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A advogada Flávia Gomes adora uma pechincha: ela segura uma bolsa Louis Vuitton que custou "só 400 em Nice", enquanto aguarda na fila para comprar uma calça Diesel por R$ 300. "Dá pra vender por US$ 2.000 [R$ 4.621], meu, fazer leilão", diz Flávia, rindo, na calçada da rua Haddock Lobo, nos Jardins.
Em seu aniversário de 30 anos, a marca italiana de jeans vendeu calça a 30, em uma promoção mundial de um dia só. Na conversão para o real, a brincadeira aqui ganhou um zero a mais e virou R$ 300 (ou pouco menos de 100).
Esber Hajli, 45, representante da Diesel no Brasil, explica a diferença de preços: "Essa leva de calças veio de avião ontem, em embalagens especiais, e há uma taxação de 200%. É o custo Brasil".
A promoção só valia para um modelo. E, mesmo assim, das 550 calças que vieram, sobraram 205 -o restante foi para quem reservou antes.
Venderam tudo rápido, em quatro horas -o que não significa que alguém tenha se esbofeteado pelas calças.
Às 9h30, pouco antes de abrirem as portas, havia cerca de 20 pessoas esperando para entrar: a fila chegou a 40, mas foi minguando.
Será que o cliente não quis se ver agregado a uma pechincha? Não, diz o coordenador da área de marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Edson Crescitelli.
"A tendência é a calça ser valorizada com o tempo. Quem é ligado em rótulos vai reconhecer a peça como uma espécie de relíquia." E como explicar o desdém que alguns "ligados em rótulos" demonstram em relação a alguém que pegou fila para comprar uma calça?
"Eles desdenham para se valorizar. Na verdade, querem mostrar que quem agrega valor são eles, e não a calça."
Quem despreza a fila, mas não resiste a entrar nela, em geral põe a culpa do "mico" em um familiar. "Vim porque meu sobrinho que mora em Londres me pediu para comprar para ele", diz o cabeleireiro Carlos Fernandes, 40, com sua melhor expressão de enfado.
Mas em Londres também tem promoção. "A fila lá é gigantesca", diz o cabeleireiro.
O modelo à venda não era exatamente barato, visto que grifes brasileiras caras, como Forum e Osklen, vendem por esse preço calças da estação. Ontem, o preço em Nova York era de US$ 50 [R$ 116].
Nos EUA, a Diesel, que fatura 1,5 bilhão por ano, não é considerada artigo de luxo, como as também italianas Versace, Prada e Dolce & Gabbana.
Por aqui, talvez devido ao "custo Brasil", as calças da grife são consideradas "objeto de desejo" pela chamada "playboyzada". Eles pagam entre R$ 595 e R$ 1.330 por uma.


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