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Segurança em concursos públicos é falha
Para especialistas, falta de fiscalização em empresas organizadoras das provas é uma das principais causas de problemas
Durante todo o ano de 2009, 5 milhões de pessoas terão participado dos concursos públicos no Brasil para disputar 120 mil vagas
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fracasso do Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio), e a
descoberta de que uma prova
aplicada a 4,1 milhões de estudantes tinha um esquema de
segurança tão frágil, não foi
exatamente uma surpresa para
quem se dedica integralmente
a uma vaga no serviço público.
Denúncias de fraudes, favorecimento de candidatos e
ameaças de anulação de provas
fazem parte da rotina dos "concurseiros" assim como cursinhos e apostilas.
Não há uma única explicação
para tal vulnerabilidade, mas a
falta de controle sobre as empresas que vivem de organizar
concursos públicos é a mais
costumeira delas.
É o que ensinam casos recentes e o que relatam advogados
que militam na área e, sobretudo, promotores e procuradores
do Ministério Público ouvidos
pela Folha. São eles os encarregados de mover ações coletivas em nome de quem se sinta
prejudicado num concurso.
Este gigantesco mercado
-cerca de 5 milhões de pessoas
farão pelo menos um concurso
público este ano, na disputa por
quase 120 mil vagas- é praticamente desconhecido das autoridades.
O governo federal (maior
provedor de vagas) não sabe a
quem pertencem nem quantas
são essas empresas organizadoras. Administrações estaduais e municipais, tampouco.
Ao percorrer contratos com
o poder público e portais voltados para os concurseiros, a Folha identificou 195 empresas
que cuidam da logística dos
exames -muitas delas sequer
possuem página na internet. A
maioria atua em pequenos municípios, onde são mais comuns
-e mais grosseiras-as fraudes.
Prefeita afastada
Ano passado, a prefeita de
Campestre da Serra (RS), Orenia Goeltzer, foi flagrada combinando com os organizadores
do concurso para a prefeitura
os nomes das pessoas que deveriam ser aprovadas e as respectivas classificações. Ela acabou
afastada do cargo.
A empresa envolvida neste
concurso, Marcesa Serviços,
além de outras de pequeno porte que atuavam na região, são
suspeitas de terem cometido irregularidades em pelo menos
35 concursos no interior do Rio
Grande do Sul.
Em Itabela (BA), entre os
aprovados para cargos municipais havia parentes de servidores. Um deles, analfabeto. Depois da intervenção do MP da
Bahia, o concurso foi anulado.
"Nos pequenos lugares, concursos já nascem fraudados.
Empresas são criadas especificamente para isso", diz o advogado José Vânio Sena, presidente da Associação Brasileira
de Candidatos a Concursos Públicos, sem citar exemplos.
Hoje, não há uma lei que regulamente a realização de concursos públicos. Cada órgão estabelece as regras da seleção
que abrir, seguindo apenas as
normas que regem a contratação de qualquer empresa privada pelo poder público.
Segundo especialistas, a existência de uma lei que considere
as questões de segurança envolvidas na organização de um
concurso é uma oportunidade
de ouro para eliminar do mercado empresas de fundo de
quintal e com ficha suja, hoje livres de filtros específicos.
Certificado de qualidade
Há quem defenda um certificado de qualidade, que passaria
a ser exigido em licitações. "Seria dado a quem aplicou tantos
concursos e não foi alvo de processos", exemplifica o procurador regional da República Oswaldo José Barbosa Silva.
Apesar de defender a certificação, Barbosa Silva, com larga
experiência no assunto, é voz
destoante. Para ele, os concursos públicos são seguros: "Se
você considerar a quantidade
de provas no país, não são tantas denúncias assim. Todo candidato é um fiscal natural".
Algumas fundações não lucrativas, com tradição na organização de seleções, como Carlos Chagas e Cesgranrio, gozam
de maior credibilidade no
meio. Mas nem elas estão livres
de suspeitas.
Em 2005, num dos casos
mais rumorosos envolvendo
concursos, o Cespe (Centro de
Seleção e de Promoção de
Eventos), ligado à Universidade de Brasília, foi alvo da Operação Galileu, da Polícia Federal, que prendeu 82 pessoas
acusadas de fraudar provas em
cinco Estados.
Candidatos admitiram ter
pago até R$ 40 mil para ser
aprovados. Disseram ter recebido, por telefone, o gabarito da
prova e o tema da redação três
dias antes do teste. Em nota, o
Cespe informou que tem investido alto em segurança.
No governo federal, a abertura de concurso tem que ser autorizada pelo Ministério do
Planejamento, por razões meramente orçamentárias.
O Ministério da Educação informou não ter uma proposta
para a regulamentação dos
concursos.
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