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Mania de gente grande
Colecionados por pura diversão, para muitos marmanjos, brinquedos são coisa séria
JAMES CIMINO
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem olhar a vitrine da Limited Edition, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), imediatamente vê que se trata de uma
loja de brinquedos. Seria natural, portanto, que o local fosse
cheio de crianças maravilhadas
com as réplicas de personagens
em quadrinhos como "X-Men",
naves espaciais do filme "Star
Wars" ou os carros que viram
robôs do filme "Transformers",
principalmente às vésperas do
Dia da Criança. No entanto, o
público predominante do local
é de adultos, todos em busca
desses brinquedos, mas para
presentear a si mesmos.
Inaugurada em abril deste
ano, a Limited Edition faz parte
de uma tendência de consumo
cada vez mais comum em São
Paulo: brinquedos para adultos, que os utilizam como objeto de decoração ou simplesmente como memória de infância. E mesmo lojas com foco
no consumo infantil, como a
Toy Toys, no shopping Frei Caneca, tem duas paredes inteiras
só de brinquedos para adultos.
Especializada em estátuas de
personagens, "action figures"
(bonecos com movimentos articulados e recursos eletrônicos) e réplicas em escala de veículos como o "tumbler" do Batman, a Limited Edition é iniciativa de três colecionadores de
brinquedos: Rodolfo Balestero
Pranaitis, 24, formado em educação física, Stevin Parreira
Zung, 35, psiquiatra, e Daniel
Altavista, 34, publicitário.
"Sempre sentimos carência
disso no mercado brasileiro,
então resolvemos criar uma loja de colecionadores para colecionadores, inclusive nossos
vendedores são colecionadores", diz Pranaitis. Segundo ele,
70% do faturamento vem da
faixa etária entre 20 e 45 anos, é
do sexo masculino, apreciador
da cultura pop e "resolvidas financeiramente".
Os preços dos objetos corroboram a tese do colecionador.
Um busto com o rosto do senador Palpatine, de "Star Wars", é
uma das peças mais caras da loja: R$ 3.000.
Pretexto
"Cheguei a comprar o boneco
do Hulk para o meu sobrinho,
mas ele tinha três anos e se assustou. Aí aproveitei o pretexto
e fiquei com o boneco", diz o
apresentador Marco Luque do
"CQC", que tem uma coleção de
quase 30 bonecos.
Sua última aquisição foi um
boneco do Homem de Ferro,
que emite sons de voo e luzes
das mãos. O apresentador admite que de vez em quando "dá
uns rolês" com o Homem de
Ferro por aí. Quando a reportagem pergunta sua idade, Luque, 35, responde com sua famosa irreverência: "Mental?
Porque eu de vez em quando
sonho que sou um super-herói
que voa e que atravessa paredes", afirma.
Na maioria dos casos, ser um
"kidult", mistura de kid (criança) e adult (adulto), é apenas
maneira de extravasar. Para o
psicoterapeuta da PUC-SP Ari
Rehfeld, brincar costuma ser
uma coisa boa.
"Se uma pessoa colecionar
selos, tudo bem. Mas se for colecionar sucata e a vida dos familiares dela virar um inferno
por isso, aí é problema". Rehfeld considera que colecionar,
torcer para times de futebol e
até manter uma relação amorosa são formas de brincar. "Uma
relação sexual, no sentido amplo, tem um lado lúdico."
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