São Paulo, domingo, 11 de outubro de 1998

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CUSTO INFÂNCIA
Estudo mostra que 25,8% dos jovens e crianças das classes A e B ganham mesadas de até R$ 200
Mesada de crianças é maior que salário

da Reportagem Local

Estudo sobre hábitos de consumo revela que 25,8% dos adolescentes e das crianças das classes A e B que ganham mesada recebem entre R$ 101 e R$ 200.
Esse valor é superior ao que a empregada doméstica Joselina Rocha Silva, 44, gasta para alimentar, durante um mês, sua família. "Quando dá, faço uma compra grande de comida por mês. Sem contar mistura."
Além de garantir a alimentação da família, Joselina diz ter outra prioridade: a educação de seu filho Johny, 8.
O menino estuda em uma escola municipal na região de Pirituba, região noroeste de São Paulo, onde a família vive. "Ele tinha de aprender a mexer em computador, mas não sobra dinheiro." Joselina ganha R$ 500 por mês.
Para que ele consiga "subir na vida", ela espera que Johny se torne jogador de futebol. Subir na vida quer dizer ter dinheiro e "entender o mundo".
A idéia que o publicitário Marco Piva tem para seu filho Ítalo, 13, é parecida com o projeto de vida que Joselina tem para Johny.
A diferença é que Piva tem condições de aplicar R$ 1.300 de seus rendimentos mensais na formação de Ítalo. Proprietário de uma agência de publicidade e de assessoria de imprensa, ele também dá aulas na faculdade Casper Líbero.
"Além da escola, línguas e informática, a educação de qualidade também inclui vida social e cultural", diz Piva.
Por isso, parte dos R$ 1.300 gastos com Ítalo são aplicados em cds, livros e lazer. "Cinema é obrigatório. Também reservo um dinheiro para jantar fora com a família uma vez por semana."
É justamente por meio de cortes dos gastos com lazer que a dona-de-casa Leilane Camacho, 36, pretende garantir um dinheiro extra para pagar o curso de inglês da filha Nayara, 8, a partir do próximo ano.
A família (de quatro pessoas) vive com uma renda de R$ 2.400. "Tem de programar tudo com antecedência. Vamos diminuir um pouco as viagens e os jantares em restaurantes. Mas vale para assegurar uma boa educação."
Parte da boa educação, no caso de Nayara e Gustavo (os filhos de Leilane), no entanto, é garantida em uma escola pública: os dois estudam em uma das melhores escolas da rede estadual do Estado de São Paulo, a Experimental da Lapa (na região noroeste).
"Se eles não estudassem lá, provavelmente teria de pagar escola particular. Nesse caso, teria de voltar a trabalhar", diz Leilane, que é formada em administração.
Para reforçar a formação, Leilane vai ensinar informática aos filhos. "Quero comprar um computador. Como já trabalhei com informática, vou passar noções a eles até poder pagar um curso."



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