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São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

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SEGURANÇA

Polícia diz que túnel que ligava casa à Penitenciária do Estado tinha como objetivo facilitar a fuga de pelo menos 4 presos

Traficantes encomendaram fuga de presídio

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O alvo do plano de fuga na Penitenciária do Estado, no complexo do Carandiru, na zona norte de São Paulo, era um grupo de quatro a seis traficantes, provavelmente membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo investigação da Polícia Civil. Eles teriam sido os primeiros a sair do túnel usado na fuga e estariam entre os foragidos.
Dos 87 detentos que tentaram fugir anteontem, oito presos morreram soterrados quando o túnel desmoronou -o trabalho de busca foi encerrado pelos bombeiros às 13h de ontem. Um preso foi morto em um tiroteio com a Polícia Militar e 30 detentos ainda estavam foragidos até o final desta edição, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária.
Os supostos alvos da fuga estão no grupo de foragidos. A polícia já identificou pelo menos um deles, mas não divulga o nome para não prejudicar as investigações.
Segundo o delegado titular do 9º DP (Carandiru), Roberto Pacheco de Toledo, existem indícios da existência de membros do PCC entre os fugitivos e as pessoas que organizaram a fuga, mas não há informações de que a cúpula da facção tenha participação no caso. "Se fossem tão organizados não teriam construído um túnel malfeito como esse que terminou na morte de tantos irmãos."
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também afirmou ontem que a fuga na penitenciária não tem relação com os últimos atentados supostamente organizados pelo PCC.
O delegado disse que um grupo de quatro a seis detentos que estava em um casa na rua Jovita, usada como base para a construção do túnel, conseguiu escapar antes do cerco policial. No grupo poderiam estar os alvos da fuga.
Na mesma casa, a PM prendeu 12 foragidos e dois operários. O servente Manoel de Almeida, 29, e o pedreiro Ailton Alves Vieira, 37, disseram, segundo a polícia, que foram pagos para ajudar na construção do túnel que dava acesso às galerias do esgoto. Os dois operários, que têm passagem por tráfico de drogas, também confirmaram que um grupo de seis presos conseguiu fugir antes do cerco.
Segundo o delegado, Almeida e Vieira afirmaram receber R$ 500 por semana. O túnel foi iniciado havia um mês e meio. Também segundo a polícia, os operários falaram que mais 10 ou 12 homens trabalhavam no local. Para se livrar dos restos da obra, eles telefonavam para uma empresa coletora de entulho.
Por um buraco no chão da casa, o grupo entrou nas galerias de esgoto e, a uma distância de 120 metros da penitenciária, cavou um túnel de uma oficina desativada da cadeia. O túnel, segundo a polícia, era muito frágil e desmoronou com a passagem de muitos presos. "Detentos que foram recapturados falam que eles passavam uns por cima dos outros durante a fuga", disse Toledo.
Os dois operários negam envolvimento com o crime organizado e afirmam que aceitaram o serviço porque estavam desempregados. Indiciados por facilitação de fuga, eles não tinham advogado e a polícia não permitiu que falassem com a imprensa.
A Secretaria da Administração Penitenciária divulgou os nomes de sete dos nove presos mortos. Josias José da Silva, Alexandre Nideval André, Eduardo de Jesus Caparoz, Arnaldo da Silva Lima, Elvis de Moraes Amorim e Flávio Tadeu Rodrigues da Silva morreram soterrados. Alexandre Silva Ferreira da Cruz foi morto em um tiroteio com a PM.


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