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Além do medo, fuga causa prejuízos a vizinhos
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois da fuga em massa da Penitenciária do Estado, no
complexo do Carandiru, moradores das proximidades contabilizavam ontem os prejuízos provocados pela invasão de suas casas pelos detentos. Portas, móveis e eletrodomésticos foram danificados.
Apesar do susto, não há registro
de moradores feridos.
A dona-de-casa Edinair Silva,
33, estava na frente de casa, anteontem à tarde, quando viu um
grupo de cerca de 15 presos, completamente sujos de lama.
"Eles vinham todos juntos, caminhando calmamente pela rua.
Pareciam aquelas obras de arte
feitas com gente pintada", disse a
dona-de-casa.
Ela só percebeu o perigo quando parte do grupo entrou em sua
casa. Os detentos gritavam por
roupas e um lugar para tomar banho. "Eu disse que não tinha roupa nenhuma e eles começaram a
quebrar tudo", disse Silva.
Ontem, ela mostrou o aparelho
de som e de vídeo danificados e o
quarto totalmente revirado. Depois de tomar banho, os detentos
se esconderam no andar de cima e
no telhado, onde foram presos.
"Vou me mudar daqui hoje mesmo", disse Silva, chorando.
A dona-de-casa Maria Iva Almeida da Silva, 35, disse que pegou os filhos e se trancou no quarto quando viu os presos. Um detento arrombou a porta de sua casa e foi preso pela PM na sua cozinha. "Percebi logo que eram fugitivos", disse ela.
A rapidez no julgamento veio de
uma experiência anterior. Há cerca de um ano, segundo ela, um
preso foi recapturado no quintal
de sua casa. "A gente tem muito
medo. Poderia ter acontecido algo
bem pior."
O biólogo Silvio Eduardo Barbosa, 48, fez o cálculo dos prejuízos na madrugada de ontem. Parte dos detentos saiu de uma casa
ao lado -usada como base para a
construção do túnel- durante o
cerco policial e arrombaram a
porta dos fundos de sua residência, anteontem à tarde.
Outros móveis também foram
quebrados e revirados. "Quebraram tudo, não sobrou quase nada", disse o biólogo, carregando
duas malas de roupas que conseguiu recuperar.
Segundo o advogado Clóvis
Beznos, professor de direito administrativo da PUC (Pontifícia
Universidade Católica) de São
Paulo e vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil), os moradores têm o direito de
cobrar o prejuízo do Estado.
"O Estado tem a responsabilidade sobre a guarda dos presos e
responde administrativamente
por isso", disse o advogado.
Segundo Beznos, o morador
que comprovar os prejuízos
-com fotos e testemunhas- pode entrar com uma ação na Justiça por ressarcimento de danos ou
até por danos morais, se houver
um trauma psicológico, por
exemplo.
(GP)
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