UOL


São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Além do medo, fuga causa prejuízos a vizinhos

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois da fuga em massa da Penitenciária do Estado, no complexo do Carandiru, moradores das proximidades contabilizavam ontem os prejuízos provocados pela invasão de suas casas pelos detentos. Portas, móveis e eletrodomésticos foram danificados. Apesar do susto, não há registro de moradores feridos.
A dona-de-casa Edinair Silva, 33, estava na frente de casa, anteontem à tarde, quando viu um grupo de cerca de 15 presos, completamente sujos de lama.
"Eles vinham todos juntos, caminhando calmamente pela rua. Pareciam aquelas obras de arte feitas com gente pintada", disse a dona-de-casa.
Ela só percebeu o perigo quando parte do grupo entrou em sua casa. Os detentos gritavam por roupas e um lugar para tomar banho. "Eu disse que não tinha roupa nenhuma e eles começaram a quebrar tudo", disse Silva.
Ontem, ela mostrou o aparelho de som e de vídeo danificados e o quarto totalmente revirado. Depois de tomar banho, os detentos se esconderam no andar de cima e no telhado, onde foram presos. "Vou me mudar daqui hoje mesmo", disse Silva, chorando.
A dona-de-casa Maria Iva Almeida da Silva, 35, disse que pegou os filhos e se trancou no quarto quando viu os presos. Um detento arrombou a porta de sua casa e foi preso pela PM na sua cozinha. "Percebi logo que eram fugitivos", disse ela.
A rapidez no julgamento veio de uma experiência anterior. Há cerca de um ano, segundo ela, um preso foi recapturado no quintal de sua casa. "A gente tem muito medo. Poderia ter acontecido algo bem pior."
O biólogo Silvio Eduardo Barbosa, 48, fez o cálculo dos prejuízos na madrugada de ontem. Parte dos detentos saiu de uma casa ao lado -usada como base para a construção do túnel- durante o cerco policial e arrombaram a porta dos fundos de sua residência, anteontem à tarde.
Outros móveis também foram quebrados e revirados. "Quebraram tudo, não sobrou quase nada", disse o biólogo, carregando duas malas de roupas que conseguiu recuperar.
Segundo o advogado Clóvis Beznos, professor de direito administrativo da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), os moradores têm o direito de cobrar o prejuízo do Estado.
"O Estado tem a responsabilidade sobre a guarda dos presos e responde administrativamente por isso", disse o advogado.
Segundo Beznos, o morador que comprovar os prejuízos -com fotos e testemunhas- pode entrar com uma ação na Justiça por ressarcimento de danos ou até por danos morais, se houver um trauma psicológico, por exemplo. (GP)


Texto Anterior: Segurança: Traficantes encomendaram fuga de presídio
Próximo Texto: Família: Menina de 14 foge com namorado para "conhecer o litoral do país"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.