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"BICHO DE SETE CABEÇAS"
Autor pode relatar supostos abusos
Justiça veta "censura" a escritor de livro que inspirou filme brasileiro
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça do Paraná julgou improcedente o pedido da Federação Espírita do Estado e do psiquiatra Alexandre Sech para proibir o escritor Austregésilo Carrano Bueno de falar sobre os supostos abusos que sofreu no hospital
psiquiátrico Bom Retiro, vinculado à entidade.
A história de Bueno inspirou o
filme "Bicho de Sete Cabeças", de
Laís Bodanzky, estrelado por Rodrigo Santoro. O filme relata violências sofridas por um rapaz que,
aos 17 anos, por ter fumado maconha, foi internado à força pelo
pai em um manicômio.
"Que fale, que chore, que esperneie, que gesticule, que escandalize, que ponha para fora sua revolta para aprimorar o sistema psiquiátrico brasileiro", diz o juiz Sigurd Roberto Bengtsson, da 5ª
Vara Cível de Curitiba, na sentença de 15 de outubro. Julgou improcedentes dois terços da ação.
O médico e a federação podem
recorrer. A Folha deixou recado
com secretárias da federação e do
advogado do psiquiatra ontem,
mas elas não ligaram de volta.
A federação e Sech entraram
com uma ação em que solicitavam tutela inibitória para que
Bueno não pudesse "prosseguir
nas injúrias e difamações noticiadas", sob pena de multa diária de
R$ 5.000. Também requisitavam
que os nomes da federação, do
hospital e do médico fossem retirados de futuros posfácios do livro de Bueno, "Canto dos Malditos", cuja venda está proibida.
Solicitavam ainda indenização
por danos morais e materiais.
Com a sentença de 15 de outubro,
a tutela antecipada foi derrubada.
O juiz deferiu apenas o pedido
para que o autor não mencione
mais o nome de Sech, pois o médico não poderia responder sozinho pelos supostos abusos que
ocorreram no hospital, explica. O
escritor também terá de suprimir
o nome de Sech do livro.
"Estou proibido de mencionar
os nomes dos médicos, mas posso
continuar criticando o sistema
manicomial brasileiro", afirmou
ontem Bueno.
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