São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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TRAGÉDIA

Três novos cadáveres foram localizados; moradores de região atingida entraram em pânico por causa de boato

Mortes em Angra dos Reis sobem para 37

MARIO HUGO MONKEN
ANTÔNIO GOIS
ENVIADOS ESPECIAIS A ANGRA DOS REIS (RJ)

Subiu para 37 o número de mortos em decorrência das fortes chuvas que vêm atingindo a região de Angra dos Reis (168 km do Rio de Janeiro) desde domingo.
Às 16h30 de ontem, chegou ao IML (Instituto Médico Legal) o corpo da auxiliar de serviços gerais Maria da Conceição Coutinho, 40, morta no bairro de Areal após o desabamento de sua casa. Foi a 35ª morte confirmada.
À noite, o IML anunciou que mais dois corpos foram localizados sob os escombros. Um deles seria o de uma criança, em Areal. O outro é de um homem, soterrado no bairro de Belém.
Segundo a prefeitura, duas crianças ainda estão desaparecidas, e 1.500 moradores estão desabrigados ou desalojados.
Cerca de 500 homens, entre bombeiros, policiais e voluntários, continuavam ontem nos trabalhos de resgate e remoção.

Internados
Até o fechamento desta edição, 20 pessoas ainda permaneciam internadas no Pronto-Socorro Municipal de Angra dos Reis -três em estado grave. A situação mais crítica é a da estudante Carolina Rodrigues Antunes, 13, que sofreu fraturas no fêmur, na bacia e perdeu o baço.
Até o início da noite, os médicos cogitavam levá-la para o Hospital da Lagoa (zona sul do Rio), mas a decisão não foi adotada. Ela sobreviveu ao desabamento de sua casa, no bairro da Ribeira, no qual morreram o pai, a mãe e o irmão.
Outro caso grave é o de Jocelina Mariano da Silva, que perdeu o bebê após o quinto mês de gestação. Ela também está no CTI.
Ontem, foi grande o movimento de pessoas nos oito abrigos montados pela prefeitura para receber os desabrigados. As famílias que perderam tudo estão recebendo alimentos, roupas, apoio psicológico e auxílio médico.
No bairro de Areal, o mais afetado pelas chuvas, uma cena comum marcou o dia: moradores carregando objetos que conseguiam achar depois da enxurrada.
O drama da família Moreira Bastos, que teve 14 parentes mortos, era o mais comentado na cidade. Ontem, 6 dos 14 membros da família foram velados em conjunto, numa escola estadual.
Apesar de a chuva ter diminuído ontem, ainda temiam-se novos desabamentos. Em Areal, um boato fez com que cerca de 500 pessoas entrassem em pânico, com medo de que uma represa desabasse sobre suas casas. Elas correram e ficaram às margens da rodovia Rio-Santos.
Alguns bombeiros tentavam, em vão, convencer os moradores de que não havia perigo na área.
No fim da tarde, a prefeitura dizia que a situação estava sob controle. Bombeiros e Defesa Civil, no entanto, seguiam em alerta, já que havia a previsão de que as fortes chuvas poderiam voltar.

Novas tragédias
O assessor da Secretaria de Defesa Civil do Estado do Rio, coronel Jorge Lopes, considera que a falta de vontade política é uma das principais causas de tragédias como a que ocorreu em Angra.
"Remédio que dói a gente não gosta de tomar. Não interessa a um governante retirar pessoas desses locais porque isso cria uma animosidade, e essas pessoas votam. Há conivência das autoridades municipais, que mantêm essas pessoas nas encostas por causa de interesses políticos. Os acidentes ocorrem por causa disso."
Para Lopes, a tendência é de agravamento da situação. Se voltar a chover forte, novas tragédias vão acontecer "com certeza".
"A ocupação das encostas vêm aumentando. Eu vou a Angra periodicamente. A cada vez muda tudo, surge outra favela, outro local invadido. Na cidade do Rio existe uma tentativa de se conter essa invasão. Nas outras, não sei se existe esse trabalho", disse.
Lopes estima que 60% da população de Angra viva em encostas. No Estado, essa taxa, afirmou, é de 40% da população -a maior parte em situação de perigo.


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