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TRAGÉDIA
Três novos cadáveres foram localizados; moradores de região atingida entraram em pânico por causa de boato
Mortes em Angra dos Reis sobem para 37
MARIO HUGO MONKEN
ANTÔNIO GOIS
ENVIADOS ESPECIAIS A ANGRA DOS REIS (RJ)
Subiu para 37 o número de
mortos em decorrência das fortes
chuvas que vêm atingindo a região de Angra dos Reis (168 km do
Rio de Janeiro) desde domingo.
Às 16h30 de ontem, chegou ao
IML (Instituto Médico Legal) o
corpo da auxiliar de serviços gerais Maria da Conceição Coutinho, 40, morta no bairro de Areal
após o desabamento de sua casa.
Foi a 35ª morte confirmada.
À noite, o IML anunciou que
mais dois corpos foram localizados sob os escombros. Um deles
seria o de uma criança, em Areal.
O outro é de um homem, soterrado no bairro de Belém.
Segundo a prefeitura, duas
crianças ainda estão desaparecidas, e 1.500 moradores estão desabrigados ou desalojados.
Cerca de 500 homens, entre
bombeiros, policiais e voluntários, continuavam ontem nos trabalhos de resgate e remoção.
Internados
Até o fechamento desta edição,
20 pessoas ainda permaneciam
internadas no Pronto-Socorro
Municipal de Angra dos Reis
-três em estado grave. A situação mais crítica é a da estudante
Carolina Rodrigues Antunes, 13,
que sofreu fraturas no fêmur, na
bacia e perdeu o baço.
Até o início da noite, os médicos
cogitavam levá-la para o Hospital
da Lagoa (zona sul do Rio), mas a
decisão não foi adotada. Ela sobreviveu ao desabamento de sua
casa, no bairro da Ribeira, no qual
morreram o pai, a mãe e o irmão.
Outro caso grave é o de Jocelina
Mariano da Silva, que perdeu o
bebê após o quinto mês de gestação. Ela também está no CTI.
Ontem, foi grande o movimento de pessoas nos oito abrigos
montados pela prefeitura para receber os desabrigados. As famílias
que perderam tudo estão recebendo alimentos, roupas, apoio
psicológico e auxílio médico.
No bairro de Areal, o mais afetado pelas chuvas, uma cena comum marcou o dia: moradores
carregando objetos que conseguiam achar depois da enxurrada.
O drama da família Moreira
Bastos, que teve 14 parentes mortos, era o mais comentado na cidade. Ontem, 6 dos 14 membros
da família foram velados em conjunto, numa escola estadual.
Apesar de a chuva ter diminuído ontem, ainda temiam-se novos desabamentos. Em Areal, um
boato fez com que cerca de 500
pessoas entrassem em pânico,
com medo de que uma represa
desabasse sobre suas casas. Elas
correram e ficaram às margens da
rodovia Rio-Santos.
Alguns bombeiros tentavam,
em vão, convencer os moradores
de que não havia perigo na área.
No fim da tarde, a prefeitura dizia que a situação estava sob controle. Bombeiros e Defesa Civil,
no entanto, seguiam em alerta, já
que havia a previsão de que as fortes chuvas poderiam voltar.
Novas tragédias
O assessor da Secretaria de Defesa Civil do Estado do Rio, coronel Jorge Lopes, considera que a
falta de vontade política é uma
das principais causas de tragédias
como a que ocorreu em Angra.
"Remédio que dói a gente não
gosta de tomar. Não interessa a
um governante retirar pessoas
desses locais porque isso cria uma
animosidade, e essas pessoas votam. Há conivência das autoridades municipais, que mantêm essas pessoas nas encostas por causa de interesses políticos. Os acidentes ocorrem por causa disso."
Para Lopes, a tendência é de
agravamento da situação. Se voltar a chover forte, novas tragédias
vão acontecer "com certeza".
"A ocupação das encostas vêm
aumentando. Eu vou a Angra periodicamente. A cada vez muda
tudo, surge outra favela, outro local invadido. Na cidade do Rio
existe uma tentativa de se conter
essa invasão. Nas outras, não sei
se existe esse trabalho", disse.
Lopes estima que 60% da população de Angra viva em encostas.
No Estado, essa taxa, afirmou, é
de 40% da população -a maior
parte em situação de perigo.
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