São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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Gays que freqüentam parque dizem que mortes são "assunto antigo"

"Tem um tempão que morre gente aqui", explica um deles, que diz não ter medo

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO

A Folha esteve anteontem à noite no parque dos Paturis para fazer um "reconhecimento da área" depois da publicação da notícia dos assassinatos de pelo menos 13 homens no local, ponto de encontro de homossexuais.
Com 238 mil m2 (o Ibirapuera tem 1,5 milhão de m2), ainda assim o Paturis parece enorme, pelo estado de abandono e a escuridão. Segundo dois homossexuais que estavam no local -havia três pessoas a pé naquele espaço de tempo, das 22h às 23h-, os gays freqüentam principalmente duas partes.
A que eles estão é plana, tem chão de terra e grama alta, árvores esparsas, bancos de cimento, uma parafernália de parque de diversões e trailers.
Fica em um cotovelo do parque limitado de um lado por uma via expressa, um córrego e o Rodoanel Mário Covas; do outro lado está a avenida Integração, larga, mão dupla. Ali há um posto de gasolina com loja de conveniência (onde os freqüentadores do Paturis tomam cerveja). Na curva do cotovelo, há um entroncamento de avenidas e um viaduto.
A outra parte do parque, mais alta, abriga um bosque com um caminho sinuoso, asfaltado, mas escuro, suficiente para a passagem de um carro. A reportagem detectou quatro, de modelos dos anos 1980: um deles estava parado, com um casal de namorados dentro. Ali perto havia uma mulher caminhando, de jeans e camiseta: não abordava os motoristas nem aparentava ter medo. Entrou em um carro com três pessoas, que pareciam conhecê-la.
Conversando embaixo de uma árvore, na ala plana, a dupla de gays explicou que não tem medo de estar ali. "Para a gente, esse é um assunto antigo. Tem um tempão que morre gente aqui", diz um. Afirmam que estão na parte "segura". "Eles matam as pessoas ali, ó", e apontam para o bosque.
Conhecem alguém que morreu? Não propriamente. É sempre um "amigo do amigo" ou um "namorado do meu ex". "O povo ouviu tiros num dia em que isso estava cheio de gente. O resgate só entrou no bosque quando a polícia chegou, porque ficou com medo."
O coronel Álvaro Benedito Ferraz Prado, comandante da PM em Carapicuíba, disse ontem, antes da prisão do ex-PM suspeito de cometer os crimes, que o parque está sendo patrulhado "24 horas por dia". A reportagem não viu nenhum carro da polícia no local. Segundo a Secretaria da Segurança, a Polícia Civil não pode revelar se há policiamento -para não comprometer a investigação.


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