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Gays que freqüentam parque dizem que mortes são "assunto antigo"
"Tem um tempão que morre gente aqui", explica um deles, que diz não ter medo
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO
A Folha esteve anteontem à
noite no parque dos Paturis para fazer um "reconhecimento
da área" depois da publicação
da notícia dos assassinatos
de pelo menos 13 homens
no local, ponto de encontro de
homossexuais.
Com 238 mil m2 (o Ibirapuera tem 1,5 milhão de m2), ainda
assim o Paturis parece enorme,
pelo estado de abandono e a escuridão. Segundo dois homossexuais que estavam no local
-havia três pessoas a pé naquele espaço de tempo, das 22h
às 23h-, os gays freqüentam
principalmente duas partes.
A que eles estão é plana, tem
chão de terra e grama alta, árvores esparsas, bancos de cimento, uma parafernália de
parque de diversões e trailers.
Fica em um cotovelo do parque limitado de um lado por
uma via expressa, um córrego e
o Rodoanel Mário Covas; do
outro lado está a avenida Integração, larga, mão dupla. Ali há
um posto de gasolina com loja
de conveniência (onde os freqüentadores do Paturis tomam
cerveja). Na curva do cotovelo,
há um entroncamento de avenidas e um viaduto.
A outra parte do parque,
mais alta, abriga um bosque
com um caminho sinuoso, asfaltado, mas escuro, suficiente
para a passagem de um carro. A
reportagem detectou quatro,
de modelos dos anos 1980: um
deles estava parado, com um
casal de namorados dentro. Ali
perto havia uma mulher caminhando, de jeans e camiseta:
não abordava os motoristas
nem aparentava ter medo. Entrou em um carro com três pessoas, que pareciam conhecê-la.
Conversando embaixo de
uma árvore, na ala plana, a dupla de gays explicou que não
tem medo de estar ali. "Para a
gente, esse é um assunto antigo. Tem um tempão que morre
gente aqui", diz um. Afirmam
que estão na parte "segura".
"Eles matam as pessoas ali, ó",
e apontam para o bosque.
Conhecem alguém que morreu? Não propriamente. É
sempre um "amigo do amigo"
ou um "namorado do meu ex".
"O povo ouviu tiros num dia
em que isso estava cheio de
gente. O resgate só entrou no
bosque quando a polícia chegou, porque ficou com medo."
O coronel Álvaro Benedito
Ferraz Prado, comandante da
PM em Carapicuíba, disse ontem, antes da prisão do ex-PM
suspeito de cometer os crimes,
que o parque está sendo patrulhado "24 horas por dia". A reportagem não viu nenhum carro da polícia no local. Segundo
a Secretaria da Segurança, a
Polícia Civil não pode revelar
se há policiamento -para não
comprometer a investigação.
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