São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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Erro de pilotos do jato Legacy desligou transponder, diz FAB

Relatório aponta que aparelho entrou em "stand by" após pilotos tentarem introduzir dados de combustível equivocadamente

Os norte-americanos Joe Lepore e Jan Paladino estariam tentando calcular o peso do avião para pousar no aeroporto de Manaus

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A "hipótese provável" para o desligamento do transponder do jato Legacy que se chocou com o Boeing da Gol é a de que os pilotos Joe Lepore e Jan Paladino puseram o aparelho em "stand by" ao tentar introduzir equivocadamente dados sobre o combustível no sistema RMU (sigla inglesa para unidade de monitoramento do rádio). No acidente, em 29 de setembro de 2006, 154 morreram.
É o que consta do relatório final da Aeronáutica divulgado ontem pelo coronel aviador Rufino Ferreira, presidente da comissão de investigação.
Ele descreveu o RMU como uma "caixinha" em que funcionam simultaneamente o transponder e o "back up" de diferentes funções, inclusive dados sobre peso, dimensões e quantidade do combustível do avião.
Para tornar o transponder inativo, eles provavelmente digitaram dois números errados por mais de 20 segundos. Com isso, ele passou a "stand by".
Assim, parou de transmitir e receber o sinal do TCAS (sistema anticolisão), tanto do jato quanto do Boeing, o que poderia ter evitado o choque.
Lepore e Paladino estariam tentando calcular o peso do avião, em que o querosene é dado fundamental, para pousar em Manaus numa situação de pista reduzida do aeroporto Eduardo Gomes, destino do Legacy antes de ir para os EUA.
Em sua apresentação, Rufino disse que os pilotos já deveriam ter esse cálculo no planejamento do vôo, antes da decolagem.
Além disso, o coronel disse várias vezes, citando o relatório, que os pilotos não estavam preparados para voar numa aeronave nova nem conheciam os procedimentos de vôo no país.
Além dos pilotos, o relatório de 261 páginas aponta vários erros dos controladores de tráfego como "fatores contribuintes" do acidente, um choque no ar, episódio raro na aviação.
São citados os controladores de São José dos Campos (SP), de onde o Legacy decolou; de Brasília, que o jato sobrevoou sem mudar a altitude; e o de Manaus, que seria a primeira parada. O de São José, João Batista da Silva, desprezou o plano de vôo original do Legacy, prevendo três altitudes até Manaus, autorizou o vôo citando uma só, de 37 mil pés.
Os controladores de Brasília cometeram sucessivas falhas, como não passar a orientação detalhada para São José dos Campos desde o início, não verificar a altitude errada na passagem pela capital e não atualizar a freqüência do rádio quando o Legacy saiu do setor ao sul e entrou no setor ao norte.
O relatório, por outro lado, inocentou completamente o sistema de equipamentos de radares usados na região onde ocorreu o acidente, nos ares de Mato Grosso, descartando a existência de um "buraco negro", como os próprios controladores alegaram em diversas ocasiões em sua própria defesa.
Os de Brasília não deram depoimento à comissão.
Uma das novidades do relatório foi a inclusão do controlador de Manaus, que "recebeu" o Legacy de Brasília, quando o jato saiu de uma área de cobertura para outra. Como o jato estava com o transponder inoperante, o procedimento correto teria sido cancelar o vôo por RVSM, ou seja, por um sistema especial que permite uma distância menor entre aviões.


Veja o relatório completo do acidente www.folha.com.br/083456


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