São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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SAÚDE

Médicos dizem que qualquer alimento pode provocar reação alérgica, que causa desde urticária até choque anafilático

Alergia alimentar afeta 6% das crianças

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

"O que é alimento para um homem pode ser potente veneno para outro." A frase do filósofo romano Lucrécio (96 a.C.-55 a.C.) cai como uma luva quando o assunto é alergia alimentar, um problema que afeta pelo menos 6% das crianças e 2% dos adultos, segundo estudos internacionais.
Em tese, qualquer alimento pode causar alergia. Alguns, como o leite, o ovo e o camarão, são alérgenos bem conhecidos e de fácil diagnóstico, especialmente quando as reações alérgicas são agressivas. Em alguns casos mais graves, a pessoa pode apresentar dificuldade de respiração e sofrer um choque anafilático.
Há alimentos, porém, que parecem insuspeitos. Quem poderia imaginar, por exemplo, que o arroz, o feijão, a cebola, o alho e o açúcar pudessem figurar entre os vilões alérgenos?
Pois não só esses alimentos como outros 20 foram diagnosticados como causadores de alergia em um exame de sangue feito pelo empresário Marco Antônio de Oliveira. Ele diz que durante dez anos conviveu com uma dor de cabeça, atribuída a uma sinusite. "Cheguei a fazer uma cirurgia para corrigir um desvio de septo."
No ano passado, após uma série de exames, descobriu que a dor de cabeça era provocada por alergia a alguns alimentos, especialmente ao arroz e ao alho. Começou a tomar uma vacina que funcionaria como antídoto a esses alimentos (leia texto ao lado). "A dor desapareceu. Só volta de forma muito branda quando me esqueço de tomar a vacina", conta.
Segundo o médico Fábio Morato Castro, 46, professor de imunologia clínica da Faculdade de Medicina da USP-SP e supervisor do ambulatório de alergia do Hospital das Clínicas, há reações alérgicas associadas. "Pessoas que são alérgicas a frutas tropicais, por exemplo, também o são ao látex."
Outra reação alérgica frequente, porém de difícil diagnóstico, é a provocada por corantes e conservantes. Segundo a médica Márcia Carvalho Mallovi, 45, responsável pelo ambulatório de alergia do Departamento de Pediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vários produtos usados para realçar o sabor dos alimentos contêm toxinas ou substâncias químicas alérgenas.
Muitas pessoas também confundem intolerância alimentar com alergia. Os sintomas são semelhantes, mas as causas, distintas. No caso da intolerância, diz Castro, os problemas são associados à falta de uma enzima necessária para a digestão do alimento.
As alergias estão relacionadas a uma predisposição genética e a um contato inicial com o agente alérgeno. Os médicos dizem que esse contato geralmente ocorre na infância em razão da imaturidade do sistema imunológico e da flora intestinal. O organismo identifica parte do alimento como substância ameaçadora, que precisa ser eliminada por meio dos mecanismos de defesa.
Segundo Fábio Castro, o diagnóstico de uma alergia alimentar é baseado na história clínica do paciente, em testes cutâneos, em exame de sangue e em uma dieta de exclusão de alimentos.


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