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Feito uma mulher nua em tempos de vendaval
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Minas é que tocou na ferida:
mostrou que o equilíbrio institucional é fragilíssimo, tirou os
panos quentes. Saem US$ 100
milhões do país hoje, saíram
US$ 300 milhões ontem, foram-se bilhões outro dia mesmo. E é um corre-corre, um tapa daqui, um esconde dali, um
ajeita daqui, um engendra dali. Vai Minas e puxa um único
palito em falso e faz desabar o
joguinho de varetas, faz ruir o
castelo de cartas.
Chocante o poder da oposição de Minas (do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, do
Mato Grosso do Sul, do Acre e
até de São Paulo, afinal todos
se lembram das relações conturbadas de Mário Covas com
o governo FHC, embora hoje
Covas pondere). O verdadeiro
resultado das eleições deu-se
agora, com a moratória de Minas. Ficaram os fortes de um
lado, os fracos do outro. Os fortes são os Estados ricos, que, se
quiserem, não compõem com a
colcha de retalhos da pífia "base de sustentação" do governo
FHC. Os fracos são os outros,
os governistas dependentes,
"bajuladores", como disse o governador de Minas.
Por mais que pesem interesses e vaidades pessoais do governador Itamar Franco na
decretação da moratória de
Minas, não deixa de ser impressionante que uma única
atitude de nacionalismo econômico vire o país (e as Bolsas
do mundo) de ponta-cabeça.
A coragem de Minas! Minas é
assim: está em todos os lugares, porque está onde sempre
esteve, um amigo meu, mineiro, brinca. Minas fica quieta,
quieta, quieta... Até que um
dia explode: não pago, não pago e não pago! Minas se agita
detrás das montanhas, defende seu ouro dos emboabas. Minas é nossa inconfidência.
Então deram para censurar
Minas, como se Minas fosse
uma subversiva inconsequente. Acontece que Minas é uma
senhora digna de muito respeito, uma escritora Guimarães
Rosa, um poeta Carlos Drummond de Andrade. Deram para censurar Minas!
Minas é nosso impasse, é
nosso meio do mundo. É um
trem, sô!, uma locomotiva puxando o mundo para o fim dele mesmo: "sorôco (seu louco),
sua mãe e sua filha" e todos esses loucos presidentes, governadores, ministros da economia, "essezins, essezinhos",
gente louca que se acha sã.
Com Minas é assim mesmo:
"pão ou pães, é questão de opiniães..." Minas é a nossa montanha e o nosso sertão: "Sim, se
os cimos -onde a montanha
abre asas- e as infermas grotas, abismáticas, profundíssimas". Minas diz: "Nada e a
nossa Condição". Tudo isso pela voz do maior escritor brasileiro, e mineiro, João Guimarães Rosa. "O mar não tem desenho", dizia ele. "O vento não
deixa. O tamanho..." O Brasil é
o mar que Minas não tem.
O Brasil está como saia de
mulher ao vento: é segura daqui, abaixa dali, censura daqui, censura dali, tapa daqui,
esconde dali. De nada adianta.
Vem Minas e dá um soprão:
mostra que o tempo é de vendaval, que a mulher é sem-vergonha e está nua. Minas não
fez nada demais, a não ser soltar "o diabo na rua, no meio
do redemunho...". O redemunho já vivemos, já existe, já é.
O demônio são os outros.
E-mail: mfelinto@uol.com.br
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