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SP ILEGAL
Estudo mede ritmo de favelização no município e indica que, na última década, surgiram 464 áreas irregulares
Cidade ganha uma favela a cada oito dias
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob viadutos, penduradas em
encostas ou invadindo áreas públicas e privadas. Em locais como
esses surgiram 464 favelas em São
Paulo na última década. É como
se uma nova favela tivesse se formado na capital paulista a cada
oito dias de 1991 a 2000.
São núcleos de habitação com
precárias condições de saneamento e construção para os quais
ruma uma legião de novos favelados equivalente a 74 pessoas/dia.
Esse movimento resultou em
uma população favelada total de
1,16 milhão de pessoas em 2000.
Elas vivem em 2.018 favelas, cujas
extensões variam de quase 1 km2
-caso de Heliópolis, a maior delas, no Sacomã (zona sul)- até 46
m2, como a pequena Antônio Fogal, na Cidade Ademar (também
na zona sul), a menor de todas.
Em 1991, havia 1.975 favelas na
cidade. Pela velocidade com que
surgem, chegariam ao final da década ainda mais numerosas se 419
delas não tivessem desaparecido
-ou porque se fundiram a maiores ou porque foram desfeitas,
muitas vezes depois de tragédias.
Reunida, a população das favelas paulistanas formaria a 12ª
maior cidade do país, com mais
habitantes que Guarulhos -a segunda metrópole paulista.
As áreas faveladas somam 30,62
km2 -2% do território paulistano. Equivalem à extensão de terra
ocupada pelos dez distritos da região central da cidade. A mancha
cresceu 6 km2 em uma década
-um bairro de Perdizes inteiro.
O raio x que demonstra a acentuada tendência de favelização da
capital paulista consta de um estudo feito pela Prefeitura de São
Paulo e pelo Centro de Estudos da
Metrópole. Com divulgação prevista para hoje, ele foi apresentado com exclusividade à Folha.
No estudo, com 8.500 fotos aéreas e 800 inspeções físicas, os
pesquisadores do CEM e da Secretaria Municipal da Habitação
mapearam as favelas existentes
no município, definiram seus perímetros e estimaram suas populações. Em seguida, compararam
a situação encontrada com a mapeada em 1991, no primeiro Censo de Favelas do município.
Bordas mais pobres
Os dados do estudo do governo
revelam um movimento social
preocupante. Há uma década havia 891.673 pessoas nas favelas.
Em 2000, esse grupo já havia crescido 30%. No mesmo período,
porém, a população total da cidade aumentou apenas 8%.
Para pesquisadores e autoridades, o raciocínio é simples: a perda de renda está pressionando a
população paulistana em direção
à precariedade habitacional.
"A favela é a cara da pobreza dos
anos 90", diz Paulo Teixeira, secretário da Habitação da administração petista, iniciada em 2001.
"O ritmo de favelização é consequência da política econômica
-que acentuou o desemprego e
diminuiu a renda dos ocupados- e da falta de ação social dos
governos locais", completa Amilton Moretto, pesquisador da Unicamp, assessor técnico da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade
e um dos autores do "Atlas da Exclusão Social no Brasil".
Em alguns distritos periféricos
da cidade, a renda média do chefe
de família caiu 10,96% nos anos
90, puxada, em geral, pelo aumento dos sem renda. Em 1991, os
chefes de domicílio que não tinham nenhum rendimento eram
123.638. Em 2000, saltaram para
311.318 -um aumento de 152%
em números absolutos e um crescimento de 5,8 pontos percentuais em relação ao total de chefes
de família do município.
Cada vez menor, o poder aquisitivo do paulistano se divorcia dos
interesses do mercado. Na cidade
de 286.954 domicílios favelados
há 420.327 domicílios particulares vagos, segundo o Censo 2000
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). O distrito
com mais domicílios vagos é Sapopemba -com 9.073 deles-,
um dos mais favelizados.
Fazer esses universos se cruzarem é, na opinião de urbanistas
que estudam a dinâmica paulistana, um dos grandes desafios da
administração municipal.
A solução passaria por incentivos diversos vindos do poder público -inclusive financeiros-
para a ocupação desses imóveis
por famílias de renda mais baixa.
O secretário concorda.
"Estamos traçando o perfil desse imóveis exatamente para poder
aproveitá-los no programa de locação social", diz Teixeira.
A locação social consiste em
complementar o aluguel para as
famílias mais pobres. Hoje, o governo tem 700 famílias no programa, que pagam de aluguel 15% de
suas rendas, tendo o resto subsidiado pelo poder público. A meta
é chegar a 3.000 famílias atendidas até o final de 2004, último ano
de governo da atual gestão.
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