UOL


São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Distrito tem a maior concentração de favelas da cidade; Grajaú, na mesma zona sul, lidera em extensão favelada

Barracos tomam 13% do Capão Redondo

DA REPORTAGEM LOCAL

"Da ponte João Dias pra cá é outro mundo, tá ligado? Eu nem sei o significado do nome Capão e nem por que seria Redondo. Eu era bem pivetinho e já ligava o nome Capão Redondo a sofrimento. Oitenta por cento dos primeiros moradores eram nordestinos, analfabetos, gente muito humilde, sofredora, que gosta das coisas certas. Gente que aprendeu a não perdoar falhas."
É assim que o rapper Mano Brown descreve o distrito Capão Redondo na apresentação do livro "Capão Pecado", de Ferréz, 27, escritor que, como ele, foi criado em uma das favelas da região, nas quais vivem cerca de 57.500 pessoas: 1 em cada grupo de 4 moradores.
O Capão, nas palavras de Ferréz, é o "fundo do mundo". Parece uma boa definição. Lá, de acordo com o estudo da prefeitura, 13,15% do território é tomado por favelas. É a maior concentração da cidade (veja quadro).
Na outra ponta desse ranking, figuram a zona oeste -única com redução da área favelada na década- e 14 distritos nos quais a prefeitura não localizou nenhuma favela no ano 2000.
Em extensão, o Capão perde o nada glorioso posto de líder do ranking de favelas para o Grajaú -distrito da mesma zona sul que tem a maior mancha favelada: 3,46 km2. Na comparação de 1991 com 2000, foi também no Grajaú que as favelas mais cresceram em extensão -1,689 km2 na década, o equivalente à área do parque Ibirapuera.
A zona sul -região onde também fica a maior favela de São Paulo, a Heliópolis, já no posto em 1991- tem a maior extensão territorial da cidade e também a maior área favelada -16 km2, mais da metade do registrado em toda a capital. Foi também, em dados absolutos, a que teve maior expansão territorial de favelas da década -cerca de 3,3 km2.
É ainda na zona sul que fica a menor favela localizada em 2000 -na rua Antônio Fogal, Cidade Ademar. Tinha na época apenas 46 m2 de área.
Hoje a mancha da Antônio Fogal já se funde com a extensa favela Coréia, onde, de acordo com os moradores, há cerca de 1.500 barracos. Lá, porém, todo mundo sabe qual foi a última área invadida.
"Tinha um terreno particular ali que era um lixão. Aí as pessoas limparam e foram morar", diz a balconista Márcia Aparecida Mello, 27, moradora do local.
Na favela surgida na última década não há água, esgoto ou coleta de lixo. As casas -cerca de 20 barracos- são "sobradinhos", pois não há espaço no chão, que as crianças dividem com os ratos.
(SÍLVIA CORRÊA)


Texto Anterior: SP ilegal: Cidade ganha uma favela a cada oito dias
Próximo Texto: Censo do IBGE usa outros critérios
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.