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Distrito tem a maior concentração de favelas da cidade; Grajaú, na mesma zona sul, lidera em extensão favelada
Barracos tomam 13% do Capão Redondo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Da ponte João Dias pra cá é
outro mundo, tá ligado? Eu nem
sei o significado do nome Capão e
nem por que seria Redondo. Eu
era bem pivetinho e já ligava o nome Capão Redondo a sofrimento.
Oitenta por cento dos primeiros
moradores eram nordestinos,
analfabetos, gente muito humilde, sofredora, que gosta das coisas
certas. Gente que aprendeu a não
perdoar falhas."
É assim que o rapper Mano
Brown descreve o distrito Capão
Redondo na apresentação do livro "Capão Pecado", de Ferréz,
27, escritor que, como ele, foi criado em uma das favelas da região,
nas quais vivem cerca de 57.500
pessoas: 1 em cada grupo de 4 moradores.
O Capão, nas palavras de Ferréz,
é o "fundo do mundo". Parece
uma boa definição. Lá, de acordo
com o estudo da prefeitura,
13,15% do território é tomado por
favelas. É a maior concentração
da cidade (veja quadro).
Na outra ponta desse ranking,
figuram a zona oeste -única
com redução da área favelada na
década- e 14 distritos nos quais a
prefeitura não localizou nenhuma
favela no ano 2000.
Em extensão, o Capão perde o
nada glorioso posto de líder do
ranking de favelas para o Grajaú
-distrito da mesma zona sul que
tem a maior mancha favelada:
3,46 km2. Na comparação de 1991
com 2000, foi também no Grajaú
que as favelas mais cresceram em
extensão -1,689 km2 na década,
o equivalente à área do parque
Ibirapuera.
A zona sul -região onde também fica a maior favela de São
Paulo, a Heliópolis, já no posto
em 1991- tem a maior extensão
territorial da cidade e também a
maior área favelada -16 km2,
mais da metade do registrado em
toda a capital. Foi também, em
dados absolutos, a que teve maior
expansão territorial de favelas da
década -cerca de 3,3 km2.
É ainda na zona sul que fica a
menor favela localizada em 2000
-na rua Antônio Fogal, Cidade
Ademar. Tinha na época apenas
46 m2 de área.
Hoje a mancha da Antônio Fogal já se funde com a extensa favela Coréia, onde, de acordo com os
moradores, há cerca de 1.500 barracos. Lá, porém, todo mundo sabe qual foi a última área invadida.
"Tinha um terreno particular ali
que era um lixão. Aí as pessoas
limparam e foram morar", diz a
balconista Márcia Aparecida Mello, 27, moradora do local.
Na favela surgida na última década não há água, esgoto ou coleta
de lixo. As casas -cerca de 20
barracos- são "sobradinhos",
pois não há espaço no chão, que
as crianças dividem com os ratos.
(SÍLVIA CORRÊA)
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