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SAÚDE
Fabricante de droga retirada do mercado teria tentado influenciar médicos nos EUA
Merck quis anular oposição ao Vioxx
BARRY MEIER
STEPHANIE SAUL
DO "NEW YORK TIMES"
Há momentos em que é necessário "neutralizar" a oposição, ou
pelo menos era isso que alguns
executivos do laboratório farmacêutico Merck pareciam acreditar. Em 1999, o novo antiinflamatório da empresa, o Vioxx, perdeu
a corrida e chegou às drogarias
dos EUA depois de um concorrente, o Celebra. A Merck aparentemente esperava que reumatologistas de fama nacional nos EUA,
como Roy Altman, pudessem ajudá-la a recuperar terreno.
Em um jantar naquele ano, em
Miami, um executivo da Merck
perguntou a Altman o que seria
preciso para obter seu apoio, e este respondeu que desejava realizar um teste clínico usando o
Vioxx; mais tarde, a Merck ofereceu US$ 25 mil para financiar o
projeto. "Mostre-me o dinheiro",
era a anotação que constava ao lado do nome de Altman, em um
memorando interno da Merck. O
médico diz que essas não foram
suas palavras, e nem sua intenção.
E que a lista de medicamentos que
costuma receitar não foi afetada.
A campanha de marketing da
empresa era apenas uma parte de
um projeto que ajudou a impulsionar as vendas anuais do Vioxx
à casa dos US$ 2,5 bilhões, até que
a droga fosse retirada do mercado
em setembro passado, depois que
se constatou que aumentava o risco de ataques cardíacos e derrames. Em comunicado, a Merck
diz que seus programas de marketing visavam oferecer informações precisas sobre seus produtos.
Nos últimos meses, investigadores do governo norte-americano, comitês do Congresso e advogados de queixosos obtiveram
milhares de documentos internos
da Merck. Parte dos registros envolve médicos que a Merck estava
tentando "neutralizar", enquanto
outros descrevem atividades para
influenciar médicos.
Nos documentos de "neutralização", funcionários da empresa
identificaram médicos influentes,
mas "problemáticos", que a companhia acreditava terem opinião
negativa sobre o Vioxx, ou que
eram vistos como partidários ativos do Celebra. Para conquistá-los, funcionários da Merck planejavam oferecer estímulos como
testes clínicos, postos de consultoria ou verbas para pesquisas.
Em uma lista do laboratório
aparecem os nomes de 36 médicos a serem neutralizados. Um
nome da lista, o médico Ettlinger,
de Tacoma, foi descrito como assessor de um conselho de formulação em uma seguradora que vinha sendo "pesadamente cortejado pela Searle e Pfizer". Na época,
a Searle era a fabricante do Celebra, e a Pfizer ajudava a comercializar a droga. Um documento da
Merck recomendava que o médico recebesse mais convites para
palestras pagas. "Vamos mantê-lo ocupado", dizia o documento.
O médico disse que faz palestras
regularmente para laboratórios, o
que jamais afetou a lista de medicamentos que receita, afirma.
Ainda segundo os documentos,
um representante da Merck solicitou em 1999 que a empresa
doasse US$ 25 mil à West Coast
Sports Medicine Foundation, organização sem fins lucrativos fundada pelo médico Keith Feder, da
Califórnia. Um representante de
vendas da Merck alega no documento que o pagamento de US$
25 mil à fundação era preciso para
"manter a competitividade com a
Searle". Em formulário solicitando o pagamento, esse representante definiu o "resultado/ retorno esperado do investimento" como "participação de 51% no mercado de COX-2 em 2000".
Feder disse que o dinheiro não
tinha por objetivo influenciar sua
lista de remédios e não o fez.
Outro lado
A Merck informou que os documentos obtidos pelo "New York
Times" refletem apenas uma parcela dos materiais de marketing
do grupo e, assim, talvez representem indevidamente as suas
atividades.
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