São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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TRÂNSITO SELVAGEM

CET diz que alta recorde de 20% em vítimas de atropelamento pode estar ligada a novos corredores de ônibus

Morte de pedestre sobe pela 1ª vez em 11 anos

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Mulher e criança atravessam correndo o cruzamento das avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio, na região central de São Paulo


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A quantidade de pedestres mortos na cidade de São Paulo disparou 20% em 2004, na primeira elevação dos últimos 11 anos e no maior salto anual do histórico de estatísticas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que recolhe os dados do IML (Instituto Médico Legal) desde 1979.
As ocorrências subiram de 458 para 549 e foram responsáveis pelo crescimento de 4,5% no total de mortes no trânsito na capital paulista -de 1.268, em 2003, para 1.325, no ano passado-, depois de dois anos seguidos de redução.
O resultado assustou os técnicos da CET, que elencavam como a maior preocupação da década a expansão das motos, cujas mortes ficaram praticamente estáveis no período -de 405 para 407-, enquanto a soma total de mortes de ocupantes de veículos chegou até mesmo a cair 4,2% em 2004. Ou seja, não foi algo generalizado, mas concentrado nos pedestres.
Essa constatação leva a CET a trabalhar como a principal hipótese para a alta de 20% a inauguração dos corredores exclusivos de ônibus à esquerda, projeto de transporte da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) batizado de Passa-Rápido e que também é apoiado pela gestão José Serra (PSDB). A possibilidade é reforçada pelo fato de a elevação ter sido maior a partir do segundo semestre, quando a maioria passou a funcionar.
"A única coisa diferente na cidade de São Paulo em 2004 foram esses corredores. O reflexo dos pedestres ainda não está condicionado", afirmou Luiz de Carvalho Montans, engenheiro da CET.
Essa hipótese é admitida por especialistas, sob a ressalva de que, se confirmada, não se trata de um problema da existência do corredor de ônibus à esquerda, que tem a aprovação de mais de 80% dos usuários, mas da forma como foi implantado e da falta de ações de orientação aos pedestres. Não se trata, portanto, de uma proposta que esteja em xeque, dizem.
Eles lembram ainda que, em 2004, os pedestres da capital paulista foram os que mais sofreram por conta da série de obras viárias, inclusive as do Passa-Rápido. Um caso emblemático se deu na avenida Rebouças, que teve a construção da passagem subterrânea para os autos antecipada, diferentemente das calçadas, que sofreram atrasos constantes e não ficaram prontas no final de 2004.
A CET ainda não tem, porém, os detalhamentos das estatísticas do IML, para apontar onde houve as mortes, os perfis das vítimas e dos veículos envolvidos para confirmar as hipóteses iniciais. A equipe da companhia que fazia esse trabalho foi praticamente desativada no começo do governo Marta Suplicy, que deixou de divulgar os números detalhados.

Carros parados
Os atropelamentos nos corredores à esquerda já eram uma preocupação apontada por especialistas antes de serem inaugurados. Os pontos ficam nos canteiros centrais e não há separação das faixas por obstáculos físicos.
Desatentos e desacostumados, muitos pedestres observam os veículos parados e pensam que podem atravessar, ainda que no semáforo vermelho. O resultado é que eles acabam sendo atingidos pelos ônibus ou carros que estão na pista livre, também liberada parcialmente aos taxistas. Ou, então, por motoristas infratores que utilizam a pista exclusiva.
O primeiro Passa-Rápido da gestão Marta Suplicy, o Pirituba-Lapa-São João, foi inaugurado em dezembro de 2003. Os demais sete corredores do mesmo tipo começaram a ser liberados ao tráfego entre junho e setembro de 2004.
Os riscos no começo da implantação são maiores, quando os pedestres do entorno ainda não se acostumaram com as mudanças.
A elevação das mortes de pedestres ficou concentrada no período de junho a dezembro, quando a alta beirou 30% na comparação com os mesmos meses de 2003. O crescimento no intervalo de janeiro a maio era tímido, de 4,5%.
A última vez em que os dados do IML apontaram elevação da morte de pedestres em São Paulo foi em 1993, quando houve alta de 12,5% em relação a 2002. A maior alta anual do índice até então havia sido registrada entre 1985 e 1986 -na época, de 19,6%.
Nos últimos dez anos, as mortes por atropelamento sofreram quedas drásticas e consecutivas, atribuídas, entre outros fatores, à implantação de radares que controlam a velocidade dos carros e ao maior rigor aos infratores previsto no novo Código de Trânsito Brasileiro, em vigor desde 1998.


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