|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Inquérito não indica culpados por caos aéreo
Investigação aberta pela Aeronáutica sobre operação-padrão realizada pelos controladores de vôo descarta motim
De acordo com a promotora que recebeu o material, houve casos isolados de indisciplina, "como existe em qualquer quartel"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Inquérito Policial Militar
(IPM) aberto pela Aeronáutica,
em dezembro, para investigar a
operação-padrão dos controladores de vôo que gerou atrasos
nos aeroportos do país, não
aponta responsáveis pelo caos
aéreo. Com isso, o Ministério
Público Militar deverá encerrar as investigações sobre a
conduta dos controladores sem
apontar culpados.
A promotora do Ministério
Público Militar encarregada do
caso, Ione de Souza Cruz, disse
que, em tese, eles poderiam ser
denunciados por conspiração,
mas que não há elementos hoje
para indicar nenhum responsável pelo caos aéreo que se instalou nos aeroportos do país a
partir de novembro.
Ela recebeu no último dia 6 o
relatório do IPM aberto para
apurar a hipótese de insubordinação dos operadores de vôo. A
promotora afirmou que a possibilidade de ter havido motim
está totalmente descartada.
Dando a entender que arquivará o caso por falta de provas, a
promotora disse que, se isso
vier a ocorrer, nada impede que
seja reaberto no futuro se surgirem evidências para apontar
eventuais culpados.
"Se você levar ao pé da letra,
se não levar em consideração
outros elementos, poderia ter,
em tese, uma conspiração. Mas
não temos base hoje para afirmar isso", disse ela.
Ione admitiu, contudo, que
houve casos "isolados" de indisciplina, "como há em qualquer quartel", mas que isso não
caracterizaria ação conjunta
deliberada para prejudicar o
tráfego aéreo.
"Se houve algum caso de indisciplina, não teve nenhuma
ligação com aquela situação de
atrasos de vôos que aconteceu
em novembro", afirmou.
Segundo ela, dois fatos explicam os transtornos que os passageiros enfrentaram nos aeroportos.
Em primeiro lugar, a falta de
controladores no Cindacta-1
(Centro Integrado de Defesa
Aérea e Controle do Tráfego
Aéreo), baseado em Brasília,
após o acidente entre o Boeing
da Gol e o jato da Embraer, que
provocou a morte de 154 pessoas.
Ela lembrou que, depois do
desastre, vários controladores
de vôo do Cindacta-1 foram
afastados de suas funções por
orientação médica. Isso, disse a
promotora, reduziu a capacidade do centro de controle, impedindo que fosse feito o acompanhamento do mesmo número
de vôos de antes.
De acordo com Ione, após o
acidente, um grupo de controladores reuniu-se no Parque da
Cidade, em Brasília.
Por isso, entre outros fatores,
seria possível falar em conspiração. Ela afirmou, no entanto,
que a iniciativa partiu de "uma
meia dúzia de maus elementos"
e que não foi possível reunir
provas contra eles até o momento.
Além disso, disse a promotora, algumas companhias teriam
se aproveitado da situação para
imputar aos controladores problemas criados aos passageiros
por deficiências das próprias
empresas.
Sem citar nomes, ela disse
que, em dezembro, a confusão
se deu porque algumas companhias aéreas venderam muito
mais passagens do que teriam
condições de atender.
"Houve um aproveitamento
de crise", disse a promotora.
Ela tem 15, a partir do recebimento do relatório da Aeronáutica, para concluir o caso ou
pedir novas diligências.
Colaboraram ELIANE CANTANHÊDE E LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Overbooking: Empresa vendeu passagens além da capacidade de navio Próximo Texto: "Em segredo", Suvaco de Cristo reúne 10 mil Índice
|