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AMAZÔNIA
Equipe do médico Drauzio Varella utiliza conhecimentos de um mateiro e já recolheu 40 plantas
Expedição busca cura para câncer e Aids
ANDRÉA DE LIMA
da Agência Folha, em Novo Airão
Uma expedição da Unip (Universidade Paulista) na floresta
amazônica catalogou, em apenas
três dias, 40 plantas que podem
conter princípios ativos para o
tratamento de doenças, particularmente câncer e Aids.
Coordenada pelo médico Antonio Drauzio Varella, 56, a viagem
se utilizou largamente dos conhecimentos do mateiro Luiz Fernandes Coelho, que identificou a
maior parte das plantas.
Criado há quatro anos, a um
custo de US$ 1 milhão, o projeto
na Amazônia produz mensalmente, segundo a universidade,150 extratos vegetais.
"Fazemos oito viagens ao rio
Negro por ano. Ainda não chegamos a um princípio ativo, que é a
base de composição de remédios", afirmou Riad Younes, 40,
oncologista e professor da Unip.
Segundo o presidente-executivo da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), José Eduardo Bandeira de
Mello, o processo de desenvolvimento de um medicamento pode
durar de 10 a 15 anos.
A última expedição da universidade, realizada entre os dias 24 e
27 de fevereiro e acompanhada
pela Agência Folha, é uma das
quatro organizadas no Brasil e no
exterior desde dezembro passado, segundo o Ibama (Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis).
De acordo com dados do órgão,
apenas 10% das expedições do gênero são legais, como a da Unip.
A região amazônica vem sendo
rastreada por pesquisadores da
universidade desde 96, logo depois da criação da OMC (Organização Mundial do Comércio), em
94, que legalizou a questão da patente para princípios ativos encontrados na natureza.
Boa parte do trabalho dos pesquisadores é recuperar o conhecimento empírico acumulado pelas
populações locais e, baseados nele, achar pistas de princípios que,
patenteados, podem valer muito
no mercado mundial.
Na expedição de Varella, composta pelo coordenador, Wilson
Malavazi, o botânico Alexandre
de Oliveira, 33, e a farmacêutica
Ivana Suffredini, 32, o mateiro
Luiz Coelho é o homem-chave.
Aos 71 anos de idade, ele é o
principal elo entre os cientistas e a
floresta. Ex-funcionário do Inpa
(Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia), o seu Luiz -como
é chamado pelo grupo- identifica há 40 anos as plantas típicas da
região. Apesar de não ter o primeiro grau completo, ele sabe os
nomes científicos, em latim, das
plantas e o uso medicinal que os
caboclos fazem delas.
"Já identifiquei mais de 22 mil
plantas. Nem sei quantas conheço
e quais eu mais gosto. É o que sei
fazer melhor na vida. Já ensinei e
aprendi com botânicos do mundo todo", disse o mateiro.
Os vegetais são colhidos em terra firme ou, em épocas de cheia
do rio Negro, em matas de igapós.
O principal trecho da coleta se dá
entre Manaus e Novo Airão, a 200
km da capital amazonense.
A água escura do rio deve-se ao
acúmulo de ácidos húmicos, produto da decomposição dos restos
vegetais que caem nos solos arenosos e são levados até o rio.
Nos três dias de coleta, Coelho
saiu à frente da equipe nas entradas de picadas. Ele logo reconhece
as árvores e as descreve em latim.
A abundância de formigas e carapanãs (pernilongos) só não incomoda o mateiro, que usa um podão (espécie de tesoura de metal),
um facão e uma lupa como instrumentos de trabalho.
No primeiro dia de coleta, os
cientistas colheram 15 exemplares
de plantas. Parte deles foi levada
para o barco, picada e colocada
em sacos de algodão, com suas fichas de identificação.
Outra parte foi armazenada entre folhas de jornal e prensadas
em uma pasta de madeira, para
compor o herbário. No laboratório do barco da Unip, o material
ensacado foi secado em estufa.
No laboratório da universidade
em São Paulo, o material coletado
é transformado em extrato para
ser testado em animais e comprovar seu potencial de cura.
A jornalista Andréa de Lima e o repórter-fotográfico Evelson de Freitas viajaram a
convite da Unip
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