São Paulo, domingo, 12 de março de 2000


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NASCIMENTO
Pioneira fez 1.300 partos desde 1985
"Primeira filha" já completou 16 anos

da Reportagem Local

A primeira criança que nasceu pelas mãos da parteira Angela Geherke se chama Juliana e tem hoje 16 anos. A última se chama Ana e nasceu no dia 27 de agosto do ano passado.
Nesse período, ela fez cerca de 1.300 partos, a grande maioria em mães da favela Monte Azul, zona sudoeste, sem contabilizar nenhuma morte. "Esses dois nasceram com ela", diz Ana Cristina dos Santos, 26, mostrando Luis Gustava, 4, e David Wesley, 3. "Ficava com a gente, fazendo massagens. Nunca me deu medo."
"Angela saía de um parto e ia para outro, como se não precisasse dormir", diz Maria Helena de Miranda, avó de duas "afilhadas" de Angela. Dezenas de relatos de mães fizeram parte da homenagem prestada a Angela, na última quinta-feira, quatro dias após sua morte.
Parteira formada na Alemanha, Angela chegou ao Brasil em 1983. Dois anos depois, inaugurava uma casa de parto dentro da favela onde vivia, a Monte Azul. A casa virou referência internacional. "Ninguém entendia porque eu deixava o Horto Florestal, onde tinha plano de saúde, para ter um filho na favela", diz a jornalista Maria do Rosário Mendes, 32, mãe de Odara, 6, e Ananda, de um ano e oito meses.
A casa de parto e o trabalho de Angela ficaram tão conhecidos que ela deixou seguidores. Jessica, que nasceu em 88 na casa de Angela, aprendeu a dar banho nos bebês que nasciam e decidiu que será parteira.
Práticas que poderiam soar fantasiosas, se restritas a uma favela, estão sendo adotadas por hospitais como o Santa Marcelina, um instituição de referência na zona leste que faz 900 partos por mês, 90% pelo SUS.
Em outubro passado, o hospital lançou o programa "100% natural", substituindo as salas cirúrgicas de parto por um espaço onde as gestantes fazem o pré-parto, o parto e o puerpério (o pós-parto).
As mulheres que entram no programa podem ficar com acompanhantes, não têm os pelos raspados e não passam por lavagem intestinal. O parto acontece na própria cama ou de cócoras -apoiada em uma cadeira especial. E a episiotomia, corte do períneo para facilitar a saída do bebê, é empregada em menos de 15% dos casos. A idéia do parto humanizado está atraindo também profissionais de maternidades privadas, onde o índice de cesáreas chega a 80%.
A razão, neste caso, é mais de custos do que de conforto. Quando se compara o parto natural com a cesárea, vê-se que o primeiro custa 50% mais, provoca quatro vezes mais mortes e 40 vezes mais infecção hospitalar.


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