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SOCIEDADE
Levantamento mostra aumento de 35 para 55 anos na expectativa de vida de 1991 a 2000; média nacional foi de 2,6 anos
Deficiente mental ganha 20 anos de vida
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Na última década, a média de vida do brasileiro com deficiência
mental aumentou 20 anos, passando de 35, em 1991, para 55
anos, em 2000, segundo estudos
científicos e levantamento da
Apae de São Paulo (Associação
dos Pais e Amigos dos Excepcionais), que comemora em abril 45
anos de fundação. Nos EUA, a
média de vida dos deficientes
mentais é de 65 anos.
Levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que a expectativa
de vida ao nascer do brasileiro aumentou dois anos e meio ao longo
da década de 90 - de 66 para 68,6
anos. O IBGE não tem estatísticas
sobre a longevidade do deficiente.
Os portadores da síndrome de
Down -a maior causa das deficiências mentais- apresentam
envelhecimento precoce, com início a partir dos 25 anos, por causa
das alterações metabólicas provocadas pelo fato de terem três cromossomos 21, em vez de dois.
A partir dos 40 anos, por exemplo, alguns já começam a desenvolver a doença de Alzheimer,
que, na população em geral, costuma se manifestar após os 65.
Segundo os médicos, o aumento da longevidade dos "downs"
está relacionado a um maior entendimento sobre a síndrome e na
adoção de uma série de medidas
preventivas mesmo antes de os
problemas de saúde surgirem.
As doenças cardíacas são a principal causa de morte entre os portadores. Hoje, sabe-se que 50%
dos bebês "downs" nascem com
cardiopatias congênitas; por isso,
as crianças devem ser investigadas e tratadas desde o nascimento, diz a médica Silvia Bragagnolo
Longhitano, geneticista da Escola
Paulista de Medicina da Unifesp.
Os "downs" também têm mais
chances de desenvolver hipertensão e hipercolesterolemia (excesso de colesterol "ruim" no sangue). Em razão disso, as instituições de apoio adotam programas
específicos, com alimentação balanceada e exercícios físicos. Na
Apae, por exemplo, há dois anos
não existe caso de hipertensão.
"O ideal é que, desde bebê, seja
adotado um protocolo de acompanhamento para cada um dos
fatores de risco ao longo da vida",
explica Longhitano. Em 2005, a
Apae realizou 15 mil atendimentos nas áreas da pediatria, neurologia, oftalmologia, fonoaudiologia, nutrição, genética, psiquiatria, cardiologia, entre outros.
Tratamentos e terapias, em especial as mais diversas formas de
estimulação, têm sido fundamentais para um melhor desenvolvimento e desempenho social do
portador da síndrome de Down,
segundo o promotor público Fabio Ramazzini Bechara, presidente da Apae desde o ano passado.
Aliado a isso, avalia, está a participação da família, que, nos últimos anos, tem acreditado no potencial do deficiente de desenvolver habilidades que permitam sua
inclusão no mercado de trabalho
e no ambiente escolar.
"O envelhecimento é uma realidade muito recente na vida do
portador da síndrome de Down.
Até bem pouco tempo atrás, ele
era visto em compasso de espera
para a morte, não havia investimento nele", afirma Bechara.
Ele diz que, no futuro, a meta é
usar o manancial histórico da instituição em pesquisas científicas
que permitam nortear ações em
todo o ciclo de vida do portador.
Zequinha
Em 1998, a Apae foi responsável
pela criação do primeiro espaço
no país voltado para pessoas com
deficiência mental em fase de envelhecimento. A proposta partiu
da presidente de honra da Apae,
Jô Clemente, cujo filho Zeca, portador de Down, chegou à velhice.
"A idéia é que, ao envelhecerem,
os deficientes mentais não percam o que aprenderam durante
toda a vida", diz Jô.
Hoje, o Centro Sócio Ocupacional Zequinha atende 347 deficientes com mais de 18 anos. Localizado no Itaim Bibi (zona oeste de
São Paulo), o local reúne várias
oficinas, entre elas artesanato, bijuterias, reciclagem, marcenaria,
tapeçaria e horticultura.
A horta é suspensa, uma adaptação para que os deficientes idosos, com problemas na coluna,
não tenham que abaixar. Aulas de
natação, teatro e música também
fazem parte das atividades.
Danimira Antonia Ursich, 60,
portadora da síndrome de Down,
é uma das mais idosas do local.
"Amo fazer tapetes. Já enjoei de
nadar. Mas fazer tapetes não enjôo nunca", conta.
Com o português perfeito e
fluente em eslovaco, a língua dos
pais, Danimira mora com a irmã
Mileni, médica endocrinologista e
professora da USP. Segundo Mileni, Dani vive uma velhice saudável e só apresenta um leve hipotireoidismo. "Viajamos juntas, passeamos no fim de semana. Ela
adora ir para Ubatuba."
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