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Alô, ladrão! O Raul Gil quer te mandar flores!
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Meu mundo caiu. Sempre fui
fã do Raul Gil, apresentador
daquele programa da TV Record desde os tempos em que
homem comer homem, como
diria meu amigo Faustão, se
chamava antropofagia. Não
me pergunte por que, mas sempre gostei do Raul Gil.
Pois não é que na última
quarta-feira, em pouco menos
de cinco minutos, ele conseguiu
destruir de uma só pernada várias décadas da mais desinteressada admiração?
Liguei a TV na Record, esperando o jornal do Boris começar, porque não perco o Boris
nem a machadada, especialmente agora que ele também
está defendendo os direitos do
cão pit bull.
O programa "Cidade Alerta"
(meglio perderlo che trovarlo,
como diriam os italianos), ainda não tinha terminado.
Em um dos últimos blocos, eis
que surge o Raul Gil, dizendo
que tinha sido assaltado e fazendo um apelo para que o ladrão devolvesse seus documentos. Uma coisa, assim, bem caseira. Roubaram os documentos do Raul Gil e um programa
da emissora em que ele trabalha abre espaço no horário nobre para que ele se manifeste.
Nada mais normal.
Menos normal foi o discurso
de Gil. Analise: "Ô garotão, você aí que me assaltou, queria te
agradecer por ter poupado a
minha vida. Muito obrigado,
mesmo. Só queria te pedir uma
coisa: será que dava para você
deixar os meus documentos na
portaria da Record? Por favor,
tá? Viu, Datena (apresentador
do "Cidade Alerta"), eu faço
show de graça para detento e
dou presente no Dia das Mães
para mãe de detento. Isso não
quer dizer que o bandido não
vá assaltar o Raul Gil. Mas justo eu? Quer levar o carro, tudo
bem. Tem seguro, pode levar,
sem problema"".
Eu pergunto: o Raul Gil
enlouqueceu? Vamos por partes: uma coisa é dar graças a
Deus que nada de mais grave
tenha acontecido. Outra é
agradecer bandido, na TV, por
ter sido assaltado. Que tipo de
imoralidade é essa?
E que diferença faz se o Raul
Gil realiza shows para detentos? E que história é essa de que
levar o carro tudo bem? Vá perguntar para as seguradoras se
elas também pensam assim.
Tudo bem o escambau! Tudo
bem, só em uma cidade em que
ser roubado e vilificado tornou-se um percalço natural do
dia-a-dia. Tudo bem, coisa nenhuma, seu Raul Gil! Ai, que
saudades da época em que o senhor estava no ostracismo!
QUALQUER NOTA
Fim de uma era
Estou pensando em fundar um
movimento, tipo salve as baleias,
para resgatar o astral do restaurante Le Casserole, um dos mais tradicionais da cidade. Até o maître
Cardoso, que trabalhou na casa
por 32 anos, se mandou e agora está no Pimentel, do Itaim.
Na veia
Fumantes criativos encontraram
um jeito para driblar a proibição
do cigarro nos aviões. A fim de suprir a quantidade necessária de nicotina nos vôos internacionais eles
estão apelando para os adesivos
antifumo.
Distração
Dona Ruth Cardoso não percebeu que estava diante de um mito
na noite da abertura da exposição
de Bia Lessa na Faap. Quase passou
reto pelo grande Jamelão, que cantava na entrada da mostra.
E-mail: barbara@uol.com.br
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