São Paulo, Sexta-feira, 12 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mortes na BA foram causadas por metanol

CHRISTIANNE GONZÁLEZ
da Agência Folha, em Salvador

A aguardente que provocou a morte de 35 pessoas em dez cidades do sudoeste da Bahia estava contaminada com álcool metílico (metanol).
Este é o resultado do laudo divulgado ontem pelo DPT (Departamento de Polícia Técnica) de Salvador (BA). Os exames atestaram que as amostras de aguardente recolhidas nos municípios onde ocorreram as mortes continham de 2,85% a 24,84% de metanol.
"Diante da quantidade de metanol encontrada nas amostras, podemos dizer que a contaminação não ocorreu de forma acidental, pelo uso de recipientes com resíduos de metanol, por exemplo. Houve intenção criminosa de lucro por parte dos responsáveis pela fabricação da aguardente", disse o secretário da Saúde do Estado, José Maria de Magalhães.
Segundo técnicos do DPT, caso a contaminação tivesse ocorrido de forma acidental, a quantidade máxima de metanol encontrada nas amostras seria de 0,25 ml por 100 ml de álcool anidro.
Nas amostras de sangue analisadas, o DPT registrou a presença de metanol em proporções até 500 vezes superiores a do álcool etílico. O laudo do DPT foi baseado na análise de sete amostras de aguardente e cinco amostras de sangue.

Crime
"Esse foi um ato criminoso. Espero que dessa vez haja punição para os responsáveis, ao contrário do que aconteceu há nove anos em Santo Amaro", disse o secretário.
Em 1990, 14 pessoas morreram em Santo Amaro (71 km de Salvador) após a ingestão de cachaça contaminada por metanol.
Até hoje, a Justiça de Santo Amaro ainda não concluiu o processo que apura a responsabilidade criminal de quatro comerciantes envolvidos com a venda do produto contaminado.
Há dois anos, outras 13 pessoas morreram em Serrinha (173 km da capital baiana) pelo mesmo motivo.
Embora tenha recebido laudos do Ministério da Agricultura e do Departamento de Polícia Técnica de Salvador atestando a presença de metanol na cachaça, a Delegacia de Polícia de Serrinha ainda não concluiu o inquérito que apura a responsabilidade pela comercialização do produto.
Nos últimos 20 dias, 450 pessoas foram internadas em hospitais do sudoeste baiano com sintomas de contaminação por metanol -dor de cabeça, pressão alta, vertigem e cegueira.
Até o fim da tarde de ontem, Carlos Andrade, apontado como o fabricante da aguardente contaminada em Iguaí (cidade da região sudoeste da Bahia), não havia se apresentado à polícia. Seus advogados alegam que ele deve se apresentar ainda hoje.


Texto Anterior: Ribeirão Preto confirma mais 23 casos de dengue em 2 dias
Próximo Texto: SUS terá de fazer cirurgia de mama
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.