São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2001

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AMBIENTE

Órgão não pediu avaliação de solo e água por entender que poluentes ficariam restritos à área da Shell em Paulínia

Cetesb admite que errou em contaminação

ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS

A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo) admitiu ontem que errou em não solicitar a avaliação das condições do solo e da água no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia (126 km de São Paulo).
De acordo com o diretor da divisão de controle de poluição ambiental da Cetesb, Orlando Cassetari, a companhia "entendeu que a contaminação por drins (compostos químicos tóxicos) ficaria restrita à área da empresa e não chegaria às chácaras".
No Recanto dos Pássaros, as 54 chácaras ficam a 15 metros da área da antiga Shell Química.
O avanço da contaminação foi detectado em novos exames realizados pela Cetesb e pela própria empresa, no fim do ano passado.
Com base nas avaliações da Cetesb de que as famílias não corriam risco de contaminação, o Ministério Público havia decidido arquivar o inquérito civil, em 95.
Mas os resultados das novas análises fizeram com que o Ministério Público reabrisse o inquérito em fevereiro deste ano.
A investigação foi iniciada em 1995, depois de a Shell Brasil ter admitido em uma autodenúncia que a água e o solo do bairro em que estava instalada tinham sido contaminados.

Retirada do solo
A Cetesb exige, agora, que a companhia retire 1.200 toneladas de solo contaminado na área onde ficava a antiga fábrica.
No local, hoje, está instalada a empresa alemã Basf, que também produz defensivos agrícolas.
A vice-presidente da divisão química da Shell, Maria Lúcia Pinheiro, afirmou ontem que não vai retirar o solo imediatamente, como quer a Cetesb. "Precisamos conversar para acordarmos os procedimentos que serão adotados na remediação da área contaminada. Se tirarmos a terra, poderemos estar causando outros problemas ambientais", disse.
De acordo com o diretor de controle de poluição ambiental da Cetesb, o não-cumprimento das determinações em até dez dias pode causar multa de R$ 100 mil.
Outra medida determinada pela Cetesb é que a empresa providencie, imediatamente, a instalação de uma nova cortina hidráulica para evitar uma expansão ainda maior dos drins.
Substâncias químicas tóxicas, os drins eram utilizados pela Shell para a produção de pesticidas. Os compostos tiveram seu uso proibido nos Estados Unidos em 1974 e, no Brasil, em 1985.

CPI
A Shell prestou ontem esclarecimentos sobre a contaminação do solo e da água do Recanto dos Pássaros em audiência pública na Assembléia Legislativa.
A audiência foi convocada pelo deputado Rodolfo Costa e Silva (PSB). Os depoimentos serão utilizados como fontes de informação na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Shell, que ainda não foi criada.
O pedido de CPI foi protocolado anteontem na Assembléia. No entanto existem 34 pedidos de CPI na fila. A Casa só pode conduzir cinco comissões por vez.
O presidente da Assembléia, Walter Feldman (PSDB), informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a prioridade da CPI da Shell será discutida na próxima terça-feira, na reunião do colégio de líderes.
A empresa embasou suas explicações na audiência no relatório encomendado por ela à empresa holandesa de consultoria ambiental Haskoning.
O laudo produzido pelo laboratório holandês confirmou a contaminação do solo e da água do bairro por drins e por alguns tipos de metais como, chumbo, bário, prata, magnésio e arsênico.
A Shell nega que tenha manipulado metais pesados em suas unidades em Paulínia.


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