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AMBIENTE
Órgão não pediu avaliação de solo e água por entender que poluentes ficariam restritos à área da Shell em Paulínia
Cetesb admite que errou em contaminação
ANA PAULA MARGARIDO
DA FOLHA CAMPINAS
A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo) admitiu ontem que errou em não solicitar a avaliação das condições do
solo e da água no bairro Recanto
dos Pássaros, em Paulínia (126
km de São Paulo).
De acordo com o diretor da divisão de controle de poluição ambiental da Cetesb, Orlando Cassetari, a companhia "entendeu que
a contaminação por drins (compostos químicos tóxicos) ficaria
restrita à área da empresa e não
chegaria às chácaras".
No Recanto dos Pássaros, as 54
chácaras ficam a 15 metros da
área da antiga Shell Química.
O avanço da contaminação foi
detectado em novos exames realizados pela Cetesb e pela própria
empresa, no fim do ano passado.
Com base nas avaliações da Cetesb de que as famílias não corriam risco de contaminação, o
Ministério Público havia decidido
arquivar o inquérito civil, em 95.
Mas os resultados das novas
análises fizeram com que o Ministério Público reabrisse o inquérito
em fevereiro deste ano.
A investigação foi iniciada em
1995, depois de a Shell Brasil ter
admitido em uma autodenúncia
que a água e o solo do bairro em
que estava instalada tinham sido
contaminados.
Retirada do solo
A Cetesb exige, agora, que a
companhia retire 1.200 toneladas
de solo contaminado na área onde ficava a antiga fábrica.
No local, hoje, está instalada a
empresa alemã Basf, que também
produz defensivos agrícolas.
A vice-presidente da divisão
química da Shell, Maria Lúcia Pinheiro, afirmou ontem que não
vai retirar o solo imediatamente,
como quer a Cetesb. "Precisamos
conversar para acordarmos os
procedimentos que serão adotados na remediação da área contaminada. Se tirarmos a terra, poderemos estar causando outros problemas ambientais", disse.
De acordo com o diretor de
controle de poluição ambiental da
Cetesb, o não-cumprimento das
determinações em até dez dias
pode causar multa de R$ 100 mil.
Outra medida determinada pela
Cetesb é que a empresa providencie, imediatamente, a instalação
de uma nova cortina hidráulica
para evitar uma expansão ainda
maior dos drins.
Substâncias químicas tóxicas,
os drins eram utilizados pela Shell
para a produção de pesticidas. Os
compostos tiveram seu uso proibido nos Estados Unidos em 1974
e, no Brasil, em 1985.
CPI
A Shell prestou ontem esclarecimentos sobre a contaminação do
solo e da água do Recanto dos
Pássaros em audiência pública na
Assembléia Legislativa.
A audiência foi convocada pelo
deputado Rodolfo Costa e Silva
(PSB). Os depoimentos serão utilizados como fontes de informação na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Shell, que ainda não foi criada.
O pedido de CPI foi protocolado anteontem na Assembléia. No
entanto existem 34 pedidos de
CPI na fila. A Casa só pode conduzir cinco comissões por vez.
O presidente da Assembléia,
Walter Feldman (PSDB), informou, por meio de sua assessoria
de imprensa, que a prioridade da
CPI da Shell será discutida na próxima terça-feira, na reunião do
colégio de líderes.
A empresa embasou suas explicações na audiência no relatório
encomendado por ela à empresa
holandesa de consultoria ambiental Haskoning.
O laudo produzido pelo laboratório holandês confirmou a contaminação do solo e da água do
bairro por drins e por alguns tipos
de metais como, chumbo, bário,
prata, magnésio e arsênico.
A Shell nega que tenha manipulado metais pesados em suas unidades em Paulínia.
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