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PATRIMÔNIO HISTÓRICO
No dia 28, missa comemora restauração do templo de paredes de taipa cujo padroeiro é são Cristóvão
Centro de SP recebe de volta igreja de 1856
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Parte importante da história de
São Paulo ganha neste mês um final feliz. No dia 28, uma missa especial irá comemorar a restauração da igreja de São Cristóvão, no
bairro da Luz, região central.
Há seis anos, as paredes ameaçavam cair sobre os fiéis e sobre
quem passasse pela rua 25 de Janeiro, onde está localizada, na esquina com a avenida Tiradentes.
A mesma igreja abrigou, no início do século passado, a elite financeira e intelectual da cidade,
em duas dúzias de bancos.
Os trabalhos de restauro do prédio são uma aula de história da arquitetura. Isso porque a construção é singular -mistura paredes
de taipa, espessas, de barro prensado, e adobe, também de solo argiloso socado, nesse caso, com estrutura de madeira entrelaçada.
"Essas madeiras estavam podres de tanto cupim. Foi preciso
encontrar alternativas para sustentar as paredes quando tivemos
de retirar o madeiramento. A solução adotada foi preencher o espaço vazio com concreto, mas foi
difícil", conta o advogado e empresário Osório Henrique Furlan,
presidente da Sociedade Amigos
da Igreja de São Cristóvão.
A sociedade foi a grande responsável pela restauração, que
consumiu seis anos de trabalho e
R$ 2,5 milhões de investimentos,
captados por meio da Lei Mendonça. Dos 20 membros da organização, alguns não chegaram a
ver a obra concluída, entre eles o
empresário João Jorge Saad, proprietário da Rede Bandeirantes,
morto em 1999.
No entanto, pondera Furlan, a
história da recuperação da igreja
de São Cristóvão tem muitos personagens importantes. "Cerca de
cem pessoas estiveram direta ou
indiretamente envolvidas", diz. O
arquiteto Paulo Bastos, responsável pelo projeto, e o pároco local,
padre Xavier Sáez de Ibarra Ruiz
de Azúa, são dois protagonistas.
"Em 1990, pedi ao então cardeal
arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, para assumir a
paróquia. Ele ficou admirado
porque a igreja ameaçava não
existir mais, de tão ruim que estava. Eu sonhava vê-la restaurada,
porque não se trata de um patrimônio só dos católicos, mas dos
paulistanos", conta o padre.
Naquele ano, Ruiz de Azúa iniciou a peregrinação atrás de patrocínio para restaurar uma construção prestes a desmoronar e vizinha da cracolândia, região da
Luz onde o consumo e o tráfico de
crack era intenso. "Em oito anos,
fui assaltado 18 vezes. Até a cruz
do altar me roubaram", lembra.
O primeiro passo foi bater à
porta dos empresários que conhecia. Nesse momento, pesou o
valor sentimental que muitos dão
até hoje à igreja. "Há 50 anos, o
centro da cidade era na Luz. Muitos começaram a se estabelecer
aqui, e, lógico, davam uma passadinha por lá", diz Osório Furlan.
Segundo ele, a parte mais difícil
da pequena epopéia da restauração não foi bem a arrecadação de
fundos. "As doações sempre vieram, e a prefeitura foi correta na
operação com a Lei Mendonça."
O difícil foi conciliar o trabalho
dos engenheiros com o dia-a-dia
da paróquia, que não fechou durante a execução das obras, e,
principalmente, com as exigências do Condephaat (Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico,
Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).
A igreja é tombada desde 1982,
e, por essa razão, cada ripa original retirada do prédio exigia consulta ao conselho.
Hora oficial
A igreja de São Cristóvão ganhou este nome em 1940. Sua história começou em 1856, quando
começou a ser construída como a
capela do Primeiro Seminário
Episcopal de São Paulo, cujos limites territoriais eram as ruas São
Caetano e Mauá.
Pelos bancos da escola comandada por capuchinhos franceses,
passaram, entre outros bem-nascidos da capital, o arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928). O
local abrigava ainda um relógio
de sol que determinava a hora oficial da cidade no século 19.
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