São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO HISTÓRICO

No dia 28, missa comemora restauração do templo de paredes de taipa cujo padroeiro é são Cristóvão

Centro de SP recebe de volta igreja de 1856

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Parte importante da história de São Paulo ganha neste mês um final feliz. No dia 28, uma missa especial irá comemorar a restauração da igreja de São Cristóvão, no bairro da Luz, região central.
Há seis anos, as paredes ameaçavam cair sobre os fiéis e sobre quem passasse pela rua 25 de Janeiro, onde está localizada, na esquina com a avenida Tiradentes.
A mesma igreja abrigou, no início do século passado, a elite financeira e intelectual da cidade, em duas dúzias de bancos.
Os trabalhos de restauro do prédio são uma aula de história da arquitetura. Isso porque a construção é singular -mistura paredes de taipa, espessas, de barro prensado, e adobe, também de solo argiloso socado, nesse caso, com estrutura de madeira entrelaçada.
"Essas madeiras estavam podres de tanto cupim. Foi preciso encontrar alternativas para sustentar as paredes quando tivemos de retirar o madeiramento. A solução adotada foi preencher o espaço vazio com concreto, mas foi difícil", conta o advogado e empresário Osório Henrique Furlan, presidente da Sociedade Amigos da Igreja de São Cristóvão.
A sociedade foi a grande responsável pela restauração, que consumiu seis anos de trabalho e R$ 2,5 milhões de investimentos, captados por meio da Lei Mendonça. Dos 20 membros da organização, alguns não chegaram a ver a obra concluída, entre eles o empresário João Jorge Saad, proprietário da Rede Bandeirantes, morto em 1999.
No entanto, pondera Furlan, a história da recuperação da igreja de São Cristóvão tem muitos personagens importantes. "Cerca de cem pessoas estiveram direta ou indiretamente envolvidas", diz. O arquiteto Paulo Bastos, responsável pelo projeto, e o pároco local, padre Xavier Sáez de Ibarra Ruiz de Azúa, são dois protagonistas.
"Em 1990, pedi ao então cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, para assumir a paróquia. Ele ficou admirado porque a igreja ameaçava não existir mais, de tão ruim que estava. Eu sonhava vê-la restaurada, porque não se trata de um patrimônio só dos católicos, mas dos paulistanos", conta o padre.
Naquele ano, Ruiz de Azúa iniciou a peregrinação atrás de patrocínio para restaurar uma construção prestes a desmoronar e vizinha da cracolândia, região da Luz onde o consumo e o tráfico de crack era intenso. "Em oito anos, fui assaltado 18 vezes. Até a cruz do altar me roubaram", lembra.
O primeiro passo foi bater à porta dos empresários que conhecia. Nesse momento, pesou o valor sentimental que muitos dão até hoje à igreja. "Há 50 anos, o centro da cidade era na Luz. Muitos começaram a se estabelecer aqui, e, lógico, davam uma passadinha por lá", diz Osório Furlan.
Segundo ele, a parte mais difícil da pequena epopéia da restauração não foi bem a arrecadação de fundos. "As doações sempre vieram, e a prefeitura foi correta na operação com a Lei Mendonça."
O difícil foi conciliar o trabalho dos engenheiros com o dia-a-dia da paróquia, que não fechou durante a execução das obras, e, principalmente, com as exigências do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).
A igreja é tombada desde 1982, e, por essa razão, cada ripa original retirada do prédio exigia consulta ao conselho.

Hora oficial
A igreja de São Cristóvão ganhou este nome em 1940. Sua história começou em 1856, quando começou a ser construída como a capela do Primeiro Seminário Episcopal de São Paulo, cujos limites territoriais eram as ruas São Caetano e Mauá.
Pelos bancos da escola comandada por capuchinhos franceses, passaram, entre outros bem-nascidos da capital, o arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928). O local abrigava ainda um relógio de sol que determinava a hora oficial da cidade no século 19.



Texto Anterior: Ambiente: Cetesb admite que errou em contaminação
Próximo Texto: São Cristóvão é padroeiro dos motoristas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.