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"É como estar na montanha-russa"
DA REPORTAGEM LOCAL
Sentado na sala de espera da clínica, o artista plástico Paulo Nilson, 29, aguarda o cacique Ni-í
chamá-lo para a aplicação do
kambô. Embora já tenha tomado
a vacina sete vezes, os minutos
que antecedem a experiência ainda lhe causam um frio na barriga.
"É como se eu estivesse no trenzinho da montanha-russa, começando a subir. Quando a gente
percebe que está chegando, pede
"ai meu Deus, me ajude". O consolo é que é breve."
Paulo tomou o kambô pela primeira vez em agosto de 2002, por
sugestão da mulher. Quem lhe
aplicou a vacina foi um homem
conhecido como caboclo Chiquinho, em sessão coletiva. "Eu não
sabia de nada e pensei que poderia ir embora em seguida. Aí comecei a sentir o rosto quente. Parece que o sangue começa a circular mais rápido, a garganta fecha,
era como se meu corpo estivesse
passando por um scanner. Não
sabia que a gente se sentia mal."
Os efeitos, porém, foram leves
em comparação às sessões seguintes. Em algumas, Paulo vomitou e teve diarréia. Em outras,
chegou a ficar com o rosto inchado, com vergões na face. Além
disso, passou por experiências
alucinógenas. "Tive algumas visões. Eram florestas, cipós, uma
coisa muito bonita e iluminada,
mas que é muito breve. Isso de tomar para ter alucinação não rola",
afirma Paulo, que usa o kambô
com o intuito de realizar uma limpeza geral no organismo.
Além disso, ressalta, o bem-estar proporcionado pela substância após alguns minutos é muito
grande. "Não é uma sensação de
prazer. É que aumenta a visão, a
audição, o paladar. Diminui a
sensação de fome e de sede."
As funcionárias da clínica o chamam. Na sala vizinha, um outro
paciente se recupera. Vermelho e
suado, ele conta que vomitou
muito. "Foi punk", afirma o rapaz, que não quis se identificar. E
vai fazer de novo? Ele sorri -a
próxima sessão já está marcada.
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