São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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"É como estar na montanha-russa"

DA REPORTAGEM LOCAL

Sentado na sala de espera da clínica, o artista plástico Paulo Nilson, 29, aguarda o cacique Ni-í chamá-lo para a aplicação do kambô. Embora já tenha tomado a vacina sete vezes, os minutos que antecedem a experiência ainda lhe causam um frio na barriga.
"É como se eu estivesse no trenzinho da montanha-russa, começando a subir. Quando a gente percebe que está chegando, pede "ai meu Deus, me ajude". O consolo é que é breve."
Paulo tomou o kambô pela primeira vez em agosto de 2002, por sugestão da mulher. Quem lhe aplicou a vacina foi um homem conhecido como caboclo Chiquinho, em sessão coletiva. "Eu não sabia de nada e pensei que poderia ir embora em seguida. Aí comecei a sentir o rosto quente. Parece que o sangue começa a circular mais rápido, a garganta fecha, era como se meu corpo estivesse passando por um scanner. Não sabia que a gente se sentia mal."
Os efeitos, porém, foram leves em comparação às sessões seguintes. Em algumas, Paulo vomitou e teve diarréia. Em outras, chegou a ficar com o rosto inchado, com vergões na face. Além disso, passou por experiências alucinógenas. "Tive algumas visões. Eram florestas, cipós, uma coisa muito bonita e iluminada, mas que é muito breve. Isso de tomar para ter alucinação não rola", afirma Paulo, que usa o kambô com o intuito de realizar uma limpeza geral no organismo.
Além disso, ressalta, o bem-estar proporcionado pela substância após alguns minutos é muito grande. "Não é uma sensação de prazer. É que aumenta a visão, a audição, o paladar. Diminui a sensação de fome e de sede."
As funcionárias da clínica o chamam. Na sala vizinha, um outro paciente se recupera. Vermelho e suado, ele conta que vomitou muito. "Foi punk", afirma o rapaz, que não quis se identificar. E vai fazer de novo? Ele sorri -a próxima sessão já está marcada.


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