São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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Para grupo, uso não leva em conta riscos

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo formado por Instituto do Coração e Universidade de Brasília, liderado pelo Ministério do Meio Ambiente, afirma que falta conhecimento sobre o uso e a composição do kambô.
"Estamos tentando descobrir uma forma ética e segura do uso da vacina por brancos. As pessoas estão usando sem saber os riscos", acredita Bruno Filizola, coordenador técnico do Probem (Programa de Bioprospecção e Desenvolvimento Sustentável da Biodiversidade). A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) providencia a proibição do comércio da substância, após denúncia dos próprios índios de que ela era vendida pela internet.
No caso da rã de onde se extrai o kambô, foram patenteadas no exterior deltorfina (usada na isquemia cerebral) e dermorfina (analgésico mais potente que a morfina), segundo a ONG Amazonlink.
Entre os índios katukina, o kambô é utilizado com dois objetivos principais: ajudar na caça e combater a preguiça. Ao chegar aos centros urbanos, porém, a substância ganhou, simbolicamente, um poder de cura muito maior e passou a ser encarada por adeptos de terapias alternativas como o remédio para todos os males, segundo a antropóloga Edilene Coffaci de Lima, que estuda os katukina desde 1991.
"Entre eles [os katukina], o kambô serve para aguçar os sentidos e como revigorante. Aqui é completamente diferente, falam que o kambô serve para tudo. O que eu percebo é que ele virou uma panacéia", diz Lima, que integra o grupo do ministério.
"O kambô chega às grandes cidades onde tem sido absorvido pelo circuito das terapias holísticas alternativas ou novas religiosidades urbanas. Não me surpreenderia se, no futuro, surgisse uma igreja do "santo Kambô da Luz Verde", diz a antropóloga Bia Labate, 33, autora do livro "A Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos". (AL)


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