São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2006

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SAÚDE

Pesquisa de médicos brasileiros afirma que amifostina diminui efeitos colaterais de técnica de tratamento do câncer

Droga reduz dano de radioterapia, diz estudo

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

Médicos do Núcleo Brasileiro de Oncologia Baseada em Evidências, com sede em Campinas (95 km de São Paulo), comprovam que a adição da droga amifostina à terapia de radiação (radioterapia) reduz os efeitos colaterais no tratamento de todos os tipos de câncer e não protege o tumor.
Antes da pesquisa, a droga era utilizada somente em casos de tratamento de câncer na cabeça e no pescoço, e alguns médicos suspeitavam que o medicamento também protegia o tumor da radiação, segundo o coordenador da pesquisa, André Deeke Sasse.
Na maioria dos casos de tratamento de câncer, os efeitos colaterais podem ser tão severos que o procedimento tem de ser interrompido.
Entre os efeitos colaterais provocados pela terapia de radiação estão a secura da boca, a dificuldade de engolir, a inflamação do pulmão e da bexiga, problemas com o esôfago e a inflamação e feridas nas membranas mucosas.
O estudo foi publicado na edição de março de um dos principais jornais sobre o tema -o "International Journal of Radiation Oncology Biological Physics", conhecido como "Red Journal", que é o informativo oficial da Astro (Sociedade Americana para Terapia Radiológica e Oncologia).

Confiabilidade
Foram pesquisados 1.451 pacientes. O estudo tem o nível de evidência número um, ou seja, o de maior confiabilidade.
A amifostina é uma substância que protege as células normais contra a radiação e é pesquisada desde a década de 70. A droga foi desenvolvida nos EUA durante a Guerra Fria para proteger as tropas de um eventual enfrentamento nuclear.
"Não sabíamos, anteriormente, se a droga, além de minimizar os efeitos colaterais, protegia o tumor do tratamento. Agora provamos com segurança que a amifostina não provoca redução na atividade antitumoral da radioterapia", afirmou Sasse.
O estudo teve início em 2003 por meio da chamada metanálise -revisão sistemática da literatura- de 14 pesquisas mundiais que tratam do tema. Os 1.451 pacientes foram divididos em dois grupos: um somente para a realização da terapia de radiação e o outro para a radioterapia com a adição da amifostina. O estudo foi concluído em julho de 2005.

Radioterapia
A radioterapia isolada, ou em combinação com a quimioterapia, é hoje uma das principais estratégias no tratamento contra o câncer. "No entanto, devido aos seus efeitos colaterais agudos, a dose inicialmente planejada da radioterapia é por vezes reduzida, e o tratamento pode ser interrompido e até suspenso."
Desde a descoberta da amifostina, cerca de 400 estudos clínicos já foram realizados com o medicamento. "A pesquisa dos médicos brasileiros é a mais nova, contundente e segura em apontar a diminuição dos efeitos colaterais e a potencialização do tratamento com o uso do remédio", diz Sasse.
Os especialistas recomendam agora que os pacientes que se submetem ao tratamento de radioterapia questionem seus médicos sobre a adição da droga.
Apenas um laboratório no Brasil produz a droga, que custa, em média, R$ 300 a ampola. O remédio não é distribuído pelo SUS.
O núcleo que fez o estudo agora deve informar o resultado ao Ministério da Saúde para que a bula da amifostina seja alterada.


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