São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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INFINITO ENQUANTO DURE

Justiça é cada vez mais procurada no final dos romances, mas lei da união estável ainda não assusta casais

Tribunais viram "divã" de ex-namorados

Leonardo Wen/Folha Imagem
Alexandre Baroni e Alessandra Oliveira, que moram juntos, no apartamento dele no Morumbi


AMARÍLIS LAGE
FABIO SCHIVARTCHE
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

No início do namoro, parece que, para ser feliz, basta amor e uma cabana -até que o amor acaba e a briga é para saber quem, afinal, é o dono da tal cabana.
O cenário final do romance? Cada vez mais, os tribunais. No de Mangaratiba (RJ), a ex-babá Gecilda da Silva dos Santos -que ganhou R$ 500 mil ao vencer a 4ª edição do programa "Big Brother Brasil"- enfrenta o ex-namorado Sebastião Amorim, que busca metade do valor do prêmio.
Mas nem mesmo os embates judiciais de casais famosos parecem abalar os que andam enamorados. Grande parte ignora ou prefere não levar em conta o fato de que, pela lei, relações estáveis implicam comunhão de bens.
"Somos namorados, mas vivemos juntos há pouco mais de um ano. Às vezes a gente se apresenta como namorados, às vezes como marido e mulher. Na verdade, não sabemos muito como nos colocar", conta o publicitário Alexandre Baroni, 28, que não sabia que o apartamento e o carro que comprou no último ano são, segundo a legislação, dele e da companheira Alessandra.
As leis não definem prazo para definir onde acaba o namoro e começa a união estável. Amorim, o ex da ex-BBB Cida, alega que eles tinham uma relação estável. Cida, que foi um namoro de três meses.
A decisão cabe ao juiz, que avalia se eles moram juntos, tempo de relacionamento e se há intenção de constituir família -um referencial muito subjetivo.
"Essa distinção ocorre muito mais na teoria do que na prática, em que ainda há muita confusão", diz a advogada Regina Beatriz Tavares da Silva, explicando que o namoro de hoje em dia muitas vezes implica viagens de fim de semana e mudança para o apartamento do parceiro. Esse namoro moderno, para a Justiça, é geralmente considerado união estável.
Há deveres e direitos, como ser dependente do companheiro em planos de saúde e em clubes. Amélia Paes, 25, e Rafael Costa Lima, 24, atestaram a união numa carta. "O plano de saúde nos casou", brinca Amélia.
Quando as leis da união estável foram aprovadas, em 1994 e 1996, houve corrida aos escritórios de advocacia para fazer os chamados "contratos nupciais". Para fugir dos compromissos, há contratos de separação total de bens. Foi o que fez a apresentadora Adriana Galisteu em 1998, quando se casou com Roberto Justus. "Há separação total de bens. Isso mostra que a união é por sentimento."
"Hoje, poucas as pessoas que fazem esse tipo de contrato. Os juízes se mostraram exigentes no reconhecimento da união estável", diz a desembargadora gaúcha Berenice Dias, ela mesma casada cinco vezes -só uma no papel.
Na Justiça, os problemas continuam. O advogado Sérgio Dantino, conta por ano 40 casos de amor que vão à Justiça. "O amor nem sempre é para sempre."

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