São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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Religiões alteram rotina de clínicas

DA REPORTAGEM LOCAL

As diferentes culturas e etnias dos casais que procuram as clínicas de reprodução vêm impondo nova rotina a esses locais.
Entre os judeus ortodoxos, por exemplo, há os que só se submetem à fertilização in vitro se o rabino ou o seu representante puder acompanhar todo o processo.
Segundo o médico Roger Abdelmassih, os religiosos ficam presentes desde a fertilização do óvulo com o espermatozóide no laboratório até a transferência para o útero da paciente. "Existe todo um ritual, com orações."
O judaísmo veta a prática da inseminação ou da fertilização in vitro com esperma doado. Segundo o rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, o acompanhamento da fertilização depende de uma decisão pessoal do religioso.
Sobel diz que, segundo a tradição judaica, a inseminação pelo esperma de um doador estranho em mulheres casadas poderia não criar laços de parentesco entre a criança e o marido. "A mulher sente-se como se estivesse traindo o marido, e este fica diminuído na sua masculinidade."
Para Sobel, a presença do rabino na clínica deixa o casal mais tranqüilo e pode evitar práticas como troca do material genético.
No islamismo, qualquer técnica de reprodução assistida também deve envolver somente os dois cônjuges. Assim, são proibidas as doações de óvulo e de espermatozóides e o chamado útero de substituição -quando a mãe biológica não tem o órgão e recorre a outra para gerar o seu bebê.
Entre os muçulmanos ortodoxos, também há um ritual para a coleta do esperma que será utilizado na inseminação ou na fertilização in vitro. Como a religião proíbe a masturbação, o homem é orientado a manter relação sexual com a mulher usando uma camisinha especial, que depois é levada para o laboratório para a coleta dos espermatozóides.
Segundo o xeique Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da Assembléia Mundial para a Juventude Islâmica, a religião desaconselha a masturbação, mas a tolera quando o tratamento requer que a coleta do sêmen seja no laboratório. O islamismo não se opõe à utilização de embriões em pesquisa com célula-tronco porque não o consideram uma vida. "A alma só se implanta no feto com 120 dias de gestação."
A Igreja Católica condena a reprodução assistida, a não ser que se use técnicas simples, como estímulo para aumento de produção de óvulos. "O filho deve ser gerado de ato de amor e não mecanicamente", diz a médica Alice Teixeira Ferreira, assessora científica da CNBB e docente da Universidade Federal de São Paulo.
Segundo ela, do ponto de vista da ética médica, a sobrecarga hormonal que a mulher é submetida para superovular é um risco para a sua saúde. "Moralmente, o filho [por meio da reprodução assistida] é visto como um produto de consumo." (CC)

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