São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Discussão sobre custo do ensino superior marca debate

DA REPORTAGEM LOCAL

A comparação entre o custo do aluno e a qualidade do ensino nas universidades públicas e particulares foi um dos pontos mais polêmicos do debate "O Impasse da Academia", organizado pela Folha, na semana passada, no auditório do prédio do jornal.
A discussão foi iniciada pelo reitor da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo), Heitor Pinto Filho.
Ele disse que a Uniban tem uma receita anual de R$ 120 milhões por ano e 30 mil alunos em seus campi. A Unicamp, afirmou Pinto, tem 10 mil alunos a menos do que a Uniban e gasta quase quatro vezes mais: R$ 470 milhões.
O debate teve a mediação do jornalista Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha, e contou com a presença do reitor da Uniban, do presidente da UNE, Wadson Ribeiro, do diretor de políticas públicas para o ensino superior do MEC, Luiz Roberto Curi, do diretor do Instituto de Física da Unicamp e presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Carlos Henrique de Brito Cruz, e do reitor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Antônio Manoel dos Santos Silva.
Para o reitor da Unesp, não é possível comparar o custo do aluno da universidade pública e da particular sem levar em conta que a primeira produz pesquisa e que sua função social não é apenas a de formar alunos para o mercado de trabalho, mas também produzir tecnologia e extensão.
Para o presidente da UNE, Wadson Ribeiro, o gasto com o aluno nas universidades públicas ainda é pequeno. "O governo precisa aumentar o investimento na contratação de professores, reforma de prédios e laboratórios", disse.
Ele criticou também os cortes nas bolsas de iniciação científica e de assistência aos universitários carentes, além do fechamento de refeitórios para estudantes nas faculdades.
O reitor da Uniban defendeu no debate que o MEC crie alternativas de financiamento das mensalidades de estudantes de instituições particulares.
"O trabalhador pode sacar o FGTS dele para ajudar na compra da casa própria, mas não pode financiar a mensalidade do filho", reclamou Pinto.
Um dos argumentos do reitor da Uniban para justificar essa demanda é o crescimento do número de alunos na rede particular de ensino superior.
Luiz Roberto Curi, do MEC, disse que os dados de expansão do ensino superior, apresentados pelo ministério há duas semanas, são positivos. "Em cinco anos, aumentou em 40% o número de brasileiros no ensino superior", afirmou.
Para Wadson Ribeiro, da UNE, esse dado não significa um avanço considerável. "Continuamos com uma taxa muito pequena da população no ensino superior. Além disso, essa expansão aconteceu principalmente na rede particular. Na década de 60, quase 70% dos alunos estavam na rede pública. Hoje, esse quadro se inverteu", disse Ribeiro.
Respondendo a Wadson, Curi afirmou que não se pode comparar duas realidades diferentes e que a expansão do ensino superior nos últimos anos não pode ser desprezada.

Avanços
"Não chegamos ao patamar ideal, mas não se pode negar que está havendo uma expansão acelerada, sem perda de qualidade", disse.
Ele lembrou que o número de doutores e mestres nas universidades brasileiras está aumentando em um ritmo superior ao da expansão dos alunos.
O presidente da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, afirmou que, apesar de a palavra crise ser usada nas universidades há mais de 30 anos, houve avanços significativos no setor.
"A discussão sobre a crise às vezes nos faz desmerecer alguns avanços. O projeto de sequenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa foi desenvolvido por universidades públicas de São Paulo e foi pioneiro no mundo", disse Cruz.
Ele lembrou também a contribuição do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) para o desenvolvimento da Embraer.
"Há 30 anos, quem poderia imaginar que o Brasil iria ganhar dinheiro exportando aviões? Essa realidade foi possível, em grande parte, graças à contribuição do ITA", lembrou o presidente da Fapesp.


Texto Anterior: Secretária diz que reposição está normal
Próximo Texto: Panorâmica: Chuvas causam mortes em AL e RN
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.