São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2001

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GREVE

Governador resolveu pedir ajuda ao governo federal após decisão da tropa de choque de aderir à paralisação dos policiais

Exército assume a segurança na Bahia

Xando P./"A Tarde"
PMs em greve fazem manifestação em frente a batalhão em Salvador; a paralisação dos policiais já dura oito dias e ganhou ontem a adesão da tropa de choque


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O governo da Bahia reconheceu ontem que perdeu o controle sobre a segurança pública no Estado. Após oito dias de greve dos policiais civis e militares, o governador César Borges (PFL) assinou de manhã decreto que transfere em caráter "temporário e emergencial" o controle da PM para a 6ª Região Militar do Exército.
"Foi a saída que tínhamos que dar, em respeito à sociedade baiana, para instalar um clima de ordem e tranquilidade no Estado", afirmou o governador.
A decisão de pedir ao governo federal a convocação do Exército foi tomada após Borges ser informado que os 600 integrantes da tropa de choque do Estado, que vinham patrulhando as ruas, resolveram aderir à greve.
"O governador foi precipitado ao convocar o Exército. Desde já, os baianos ficam sabendo que ele será o principal responsável por uma eventual tragédia", disse o presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Crispiniano Daltro.
Segundo Borges, o Exército tem "carta branca" para decidir o que fazer com os militares rebelados -negociar ou invadir os batalhões e companhias ocupadas na semana passada. A Justiça já autorizou as medidas em liminar.
As duas categorias em greve reivindicam piso salarial de R$ 1.200, a reintegração de 68 militares e a libertação de dois líderes do movimento, o tenente Ewerton Uzeda e o sargento Isidório Santana, presos há nove dias sob acusação de insubordinação. O governo estadual ofereceu reajuste de 14%.
Com as gratificações, um policial civil recebe R$ 600. Um soldado da Polícia Militar que faz trabalhos de rua ganha R$ 450 por mês, incluindo também as gratificações. A polícia baiana tem 24.400 PMs e 3.600 policiais civis.
Segundo a assessoria da PM, há soldados rebelados em 5 dos 9 batalhões da região metropolitana de Salvador. Outros três batalhões e cinco companhias independentes do interior também pararam.
Nos batalhões, o clima é tenso. Com os rostos encapuzados, os rebelados dizem que estão armados e preparados para resistir a eventual invasão do Exército.
Ainda pela manhã, o governador encaminhou uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso em que pede a convocação do Exército. Borges também participou de reunião com o general Alberto Cardoso (Segurança Institucional). "O governador foi preciso em seu relatório. As providências serão tomadas", afirmou o general. Cabe a FHC autorizar o envio das tropas.
No final da tarde, o comandante da 6ª Região Militar, general José Benedito Barros Moreira, teve um rápido encontro com assessores do governador para traçar os planos para a intervenção, que deve ocorrer hoje cedo.
Ontem, dos 2.125 PMs convocados para trabalhar, só 820 compareceram, de acordo com a Polícia Militar. A Associação de Cabos e Soldados disse que apenas 213 soldados trabalharam. Segundo o governador, as negociações só serão retomadas após "o clima de tranquilidade" ser restabelecido.



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