São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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SAÚDE

Manual distribuído pelo Ministério da Saúde à rede pública só recomenda o tratamento em casos específicos, como osteoporose

SUS limitava terapia hormonal desde 95

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Saúde informou ontem que já recomendava cautela, desde 1995, em relação a tratamentos de reposição hormonal antes da divulgação da pesquisa norte-americana que mostra aumento de doenças cardiovasculares e de câncer de mama em mulheres submetidas à terapia.
A coordenadora da área técnica da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Tânia Lago, disse que a divulgação da pesquisa era esperada pela comunidade médica havia cinco anos, quando os testes foram iniciados.
Segundo ela, a falta de estudos sobre o tema fez o ministério adotar uma posição de segurança. "A pesquisa mostra que a nossa dúvida tem razão de ser."
Em seu Manual Técnico para Assistência no Climatério, distribuído para a rede pública, o ministério só indica, há mais de sete anos, a reposição hormonal para casos específicos, principalmente mulheres com osteoporose.
"Os riscos são maiores do que os benefícios. Qualquer pessoa séria teria cautela ao recomendar o tratamento", disse Tânia.
O manual sobre climatério será atualizado, mas o ministério vai aguardar os resultados da segunda etapa da pesquisa para orientar melhor os profissionais de saúde. Tânia Lago acredita que, até o ano que vem, os estudos estejam finalizados.
O levantamento, do qual participaram 16,6 mil mulheres americanas de 50 a 79 anos, analisou, no entanto, apenas um dos tipos de reposição hormonal existente, a terapia combinada e contínua de reposição de estrogênio e progesterona (hormônios femininos), em doses de 0,625 mg/dia e 2,5 mg/dia, respectivamente. Foram utilizados dois tipos desses hormônios na avaliação: estrogênio conjugado equino e acetato de medroxyprogesterona.
A TRH, como a terapia de reposição hormonal é chamada no meio médico, é uma das modalidades de tratamento utilizadas por mulheres para diminuir sintomas da menopausa e prevenir problemas de saúde. Existem diferentes tipos de estrogênio e progesterona que não foram alvos do estudo. Também há diversos "esquemas" de aplicação da TRH e dosagens.
No Brasil, a Febrasgo (Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) estima que 4 milhões de mulheres acima dos 45 anos utilizem o tratamento. Mas não há dados sobre o tipo de TRH prevalecente.
A pesquisa americana comparou mulheres que usavam a droga com outras que receberam uma substância inócua. Houve 41% de aumento nos derrames em relação ao grupo que tomou placebo, 29% a mais de ataques cardíacos e o dobro de casos de tromboembolia (coágulos nos vasos). O ensaio mostrou ainda aumento de 22% nas doenças cardiovasculares e de 26% no câncer de mama.
Houve queda de 37% nos casos de câncer de reto e de 24% nas fraturas em geral. Nenhuma diferença na mortalidade foi encontrada.
Especialistas prevêem que pode acontecer um aumento na procura por terapias alternativas, principalmente com fitoterápicos (remédios à base de plantas), para substituir a TRH tradicional.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou ontem que não há nenhum medicamento fitoterápico aprovado com indicação para tratamento de reposição hormonal. Há apenas dois produtos à base de isoflavona (um tipo de hormônio vegetal presente na soja) com registro, mas indicados apenas para alívio de sintomas da menopausa, como as ondas de calor.
Segundo Décio Luís Alves, presidente da comissão de terapias naturais da Febrasgo (Federação Brasileira de Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), esses remédios não trazem risco de câncer. Mesmo assim, afirma, necessitam de orientação médica. Alguns deles podem prejudicar a absorção de outras drogas, por exemplo.



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