São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

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Gays são 35% dos casos de Aids na AL

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

Cerca de 35% dos casos de Aids na América Latina e Caribe foram transmitidos por sexo feito entre homossexuais e bissexuais. Dos gastos em prevenção nessa região, só 5% são destinados a programas voltados para "homens que fazem sexo com homens".
A culpa pelos poucos investimentos é atribuída ao conservadorismo dos governos, à resistência da Igreja Católica e ao preconceito das agências internacionais que financiam os projetos. O resultado pode ser uma epidemia da doença em todo o continente.
O alerta foi feito ontem, em Barcelona (Espanha), às vésperas do encerramento da 14ª Conferência Internacional de Aids. Uma publicação lançada pela Rede de Investigação em Sexualidade e HIV/Aids na América Latina, com apoio da Unaids (órgão das Nações Unidas para a Aids), faz um balanço sobre a "Aids e o sexo entre homens".
"O Brasil só recentemente fez sua primeira campanha nacional voltada aos homens que fazem sexo com homens. No resto da América Latina, praticamente não há campanhas", disse Veriano Terto, um dos editores da publicação e membro da Task Force, uma frente da Unaids voltada para os direitos humanos entre homossexuais e bissexuais.
No México, por exemplo, os casos de Aids por sexo nesse grupo chega a 54,5%. Nos países andinos (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), são 48,3%.
Para Terto, os homossexuais são o grupo mais culpabilizado e, por isso, menos integrado à prevenção. Faz-se prevenção com grupos de mulheres e de homens como se não tivessem a ver com a Aids entre os homossexuais.
Na Argentina, a primeira campanha sobre a camisinha é de 2001. No Equador e na Nicarágua, segundo a Task Force, há leis penalizando o homossexualismo.
Noel Alicea, do GMHC, organização não-governamental homossexual voltada para a saúde, diz que a prevenção entre gays está perdendo espaço nos EUA até em cidades como San Francisco, onde ocorre uma das maiores paradas dos homossexuais.
Segundo Mario Scheffer, do Grupo Pela Vidda, de São Paulo, a tendência é cada vez mais visível no Brasil. "Há mais projetos voltados para usuários de drogas e presidiários do que para gays." Segundo ele, ONGs homossexuais no Brasil e nos países desenvolvidos estão tendo de retomar campanhas do fim dos anos 80, quando a epidemia crescia muito.
Denise Doneda, da Coordenação Nacional de Aids, disse que entre os 675 programas de intervenção com apoio direto do Ministério da Saúde, 105 são voltados para homossexuais. Segundo ela, os programas atingem 600 mil homossexuais, ou cerca de 21% do total dessa comunidade.


O jornalista Aureliano Biancarelli viajou a convite do laboratório Abbott


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