São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA

Natasha Ometto, 16, foi pega na zona oeste de SP; sequestradores deram a ela dinheiro para voltar de táxi para casa

Estudante é solta após 80 dias de sequestro

BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de passar 80 dias em poder de sequestradores, a estudante Natasha Ometto, 16, filha de um dos donos da Usina da Barra, com sede em Barra Bonita (302 km de São Paulo), foi libertada na noite de anteontem em São Paulo, após o pagamento de resgate.
Os sequestradores deram a ela dinheiro para pegar um táxi e voltar para casa, em Perdizes (zona oeste da cidade).
Segundo a família, a estudante não foi agredida e pôde escolher o que queria comer, fazendo listas dos alimentos que preferia. Natasha ficou todo o tempo em um quarto sem janela, com um colchão no chão e um cobertor.
"Uma das primeiras coisas que ela quis fazer foi ver o céu", disse o pai da estudante, o empresário Pedro Ometto Neto, 47, vice-presidente do Conselho Administrativo da Usina da Barra. "Estou muito abalado, mas feliz porque acabou. Os sequestradores foram muito profissionais. Não fizeram nada com a minha filha."
Ontem, Natasha foi a um salão de beleza para fazer as unhas. Ela também procurou um médico de confiança da família, segundo Neto, para que lhe fosse receitado um calmante.
O pagamento do resgate aconteceu na terça-feira. O dinheiro foi deixado em um orelhão por João Paulo Bernardes Teixeira, amigo de infância do pai da estudante.
Teixeira e Neto seguiram de Barra Bonita para São Paulo exclusivamente para o pagamento, por exigência dos sequestradores. Neto foi o único a negociar com os sequestradores. Falava sempre com uma mesma pessoa.
"Exigiram que eu não falasse com a imprensa nem com a polícia." Ele contou que os sequestradores chegaram a ficar 14 dias sem fazer contato depois de a notícia do sequestro ter sido divulgada na televisão.
Após negociações, o valor final -que a família prefere não divulgar- foi acertado na sexta-feira passada. "Eu vendi tudo, pedi emprestado, fiz o diabo", disse Neto.
Na terça, Teixeira, que não conhece bem a cidade de São Paulo, saiu de carro com o dinheiro e ficou recebendo instruções pelo celular por cerca de dez horas. Segundo a família, ele não soube explicar onde fica o local em que o dinheiro foi deixado.
"Estou com medo. Nunca tive, mas agora tenho medo por minha família e por todas as famílias do Brasil inteiro", declarou Neto.
Segundo ele, os sequestradores fizeram "todo o tipo" de ameaças e chegaram a dizer que iriam matar Natasha ou cortariam partes do corpo da estudante.
A estudante foi sequestrada por volta das 15h do último dia 21 de abril. De acordo com a DAS (Divisão Anti-Sequestro), Natasha voltava de uma visita que havia feito ao pai em Barra Bonita. Ela estava no carro do empresário, dirigido por um motorista, quando o veículo teria sido invadido por dois homens armados. O carro estava parado em um sinal da avenida Antártica, próximo ao shopping West Plaza, no bairro Água Branca (zona oeste de São Paulo).
Natasha estava a caminho do apartamento onde mora com a mãe, no bairro de Perdizes, próximo de onde ocorreu o sequestro.
A adolescente e o motorista foram obrigados a ficar agachados na parte traseira. Depois, o carro teria rodado por cerca de duas horas. Durante esse tempo, a menina passou para outro veículo.
O motorista foi deixado na marginal Tietê, na região do bairro do Limão (zona norte de São Paulo), por volta das 17h do mesmo dia, e os criminosos fugiram.
A Usina da Barra, que produz álcool e açúcar, tem unidades em 19 municípios do interior do Estado de São Paulo.

Manual
A Folha não divulgou o caso, como orienta o "Manual da Redação", porque a família, por meio da polícia, não havia autorizado.


Colaborou o "Agora"


Texto Anterior: Manifestantes pedem acesso a remédios genéricos
Próximo Texto: Disfarce de médico facilita roubo a hospital
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.