São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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entrevista

"Força perdeu confiança da população"

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda na porcentagem de pessoas favoráveis à ação do Exército é um reflexo da recente ação no Rio e da morte dos três jovens entregues por militares a traficantes. É o que opina o diretor do núcleo de estudos de instituições coercitivas da Universidade Federal de Pernambuco, Jorge Zaverucha. Ele argumenta que a ação no morro da Providência é um retrocesso, que favorece um projeto político e que o caso deveria ser julgado também pela Justiça comum. Leia trechos da entrevista.

 

FOLHA - A queda na avaliação é um retrato da morte dos três jovens?
JORGE ZAVERUCHA
- Acredito intuitivamente que sim. Não me parece ter acontecido nenhum outro fator que possa justificar uma queda de confiança nas Forças Armadas.

FOLHA - A população ficou com medo do Exército?
ZAVERUCHA
- O pessoal interpretou a ação como desastrada e perdeu a confiança em que as Forças Armadas possam desempenhar um papel "x", quando fizeram "y". A razão pela qual se quer a Força é por acreditar que são mais eficientes e mais bem preparadas.

FOLHA - Como o senhor interpretou a presença do Exército no Rio?
ZAVERUCHA
- A colocação das Forças Armadas no morro da Providência para proteger um plano partidário do bispo Crivella, que é o do mesmo partido do vice-presidente da República, José Alencar, foi um retrocesso institucional impressionante.

FOLHA - De quem foi a responsabilidade pela ação?
ZAVERUCHA
- A principal é do poder político que colocou o Exército lá. Não foi o Exército que pediu para ir. O jogo político ficou na frente da segurança da população. Chegaram ao ponto de colocar o Exército, não a polícia. Porque, na cabeça deles, a polícia não tinha força necessária.

FOLHA - E o governo do Rio?
ZAVERUCHA
- Houve consentimento mesmo que por omissão do governador Sérgio Cabral (PMDB). Mesmo que pessoalmente ele não tenha relações com o Crivella, admitiu por saber que o Lula gosta do senador. Tanto é que o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro [José Mariano Beltrame] foi contra a presença das tropas.

FOLHA - Como deve ser o julgamento do caso?
ZAVERUCHA
- No Brasil, militar não é julgado por um tribunal civil. Nas democracias, sim. Os responsáveis deveriam ser julgado nas duas. Na militar, por desvio de conduta, e na comum, por ter supostamente participado em crime doloso contra a vida de civis.


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