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entrevista
"Força perdeu confiança da população"
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda na porcentagem de pessoas favoráveis
à ação do Exército é um reflexo da recente ação no
Rio e da morte dos três jovens entregues por militares a traficantes. É o que
opina o diretor do núcleo
de estudos de instituições
coercitivas da Universidade Federal de Pernambuco, Jorge Zaverucha.
Ele argumenta que a
ação no morro da Providência é um retrocesso,
que favorece um projeto
político e que o caso deveria ser julgado também pela Justiça comum. Leia
trechos da entrevista.
FOLHA - A queda na avaliação é um retrato da morte dos
três jovens?
JORGE ZAVERUCHA - Acredito intuitivamente que sim.
Não me parece ter acontecido nenhum outro fator
que possa justificar uma
queda de confiança nas
Forças Armadas.
FOLHA - A população ficou
com medo do Exército?
ZAVERUCHA - O pessoal interpretou a ação como desastrada e perdeu a confiança em que as Forças
Armadas possam desempenhar um papel "x",
quando fizeram "y". A razão pela qual se quer a
Força é por acreditar que
são mais eficientes e mais
bem preparadas.
FOLHA - Como o senhor interpretou a presença do Exército
no Rio?
ZAVERUCHA - A colocação
das Forças Armadas no
morro da Providência para proteger um plano partidário do bispo Crivella,
que é o do mesmo partido
do vice-presidente da República, José Alencar, foi
um retrocesso institucional impressionante.
FOLHA - De quem foi a responsabilidade pela ação?
ZAVERUCHA - A principal é
do poder político que colocou o Exército lá. Não foi o
Exército que pediu para ir.
O jogo político ficou na
frente da segurança da população. Chegaram ao
ponto de colocar o Exército, não a polícia. Porque,
na cabeça deles, a polícia
não tinha força necessária.
FOLHA - E o governo do Rio?
ZAVERUCHA - Houve consentimento mesmo que
por omissão do governador Sérgio Cabral
(PMDB). Mesmo que pessoalmente ele não tenha
relações com o Crivella,
admitiu por saber que o
Lula gosta do senador.
Tanto é que o secretário
de Segurança Pública do
Rio de Janeiro [José Mariano Beltrame] foi contra
a presença das tropas.
FOLHA - Como deve ser o julgamento do caso?
ZAVERUCHA - No Brasil,
militar não é julgado por
um tribunal civil. Nas democracias, sim. Os responsáveis deveriam ser
julgado nas duas. Na militar, por desvio de conduta,
e na comum, por ter supostamente participado
em crime doloso contra a
vida de civis.
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