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entrevista
"Tropas não são treinadas para policiamento"
DA REPORTAGEM LOCAL
A presença do Exército
no morro é considerada
perigosa e poderia ter gerado algo ainda mais grave, como um tiroteio com
morte de muitos civis.
A opinião é de Gunther
Rudzit, mestre em segurança nacional pela Universidade Georgetown de
Washington (EUA) e ex-assessor do então ministro
da Defesa Geraldo Quintana, no governo FHC.
Professor das Faculdades Integradas Rio Branco, ele diz que as tropas
não estão treinadas para a
função que exercem no
Rio e qualifica a entrega
dos jovens ao tráfico como
"cúmulo da barbaridade".
A seguir, trechos da entrevista concedida após o
episódio na Providência.
FOLHA - Qual a sua opinião
sobre a presença do Exército
no morro da Providência?
GUNTHER RUDZIT - Colocaram as tropas do Exército
para fazer o que elas não
estão treinadas e não estão
acostumadas: policiamento. Elas estão no máximo
treinadas para operações
de paz, como no Haiti. Podem inclusive usar a força
letal. Você tira soldados
que têm treinamento para
guerra para fazer policiamento... Acho até que demorou para acontecer algo
de ruim. Pior seria um tiroteio com muitos civis
mortos. É uma região em
que eles ficam em linha de
frente com os traficantes.
FOLHA - Pode-se fazer um paralelo entre a presença das tropas e da Força Nacional?
RUDZIT - A Força Nacional
foi criada com policiais de
diferentes Estados porque
o Exército vinha se colocando contrário à ação urbana sem respaldo jurídico. O Exército só pode agir
como polícia na fronteira.
Desde que estive no ministério, os militares falavam
que sem esse respaldo se
sentiam desconfortáveis
para ações de manutenção
da lei e da ordem.
FOLHA - Como vê as outras
participações excepcionais?
RUDZIT - Tivemos a presença dele na Rio-92. Na
época, assinou-se um convênio que, se fosse questionado juridicamente,
não teria base. Nos Jogos
Pan-Americanos também.
Juridicamente, as Forças
Armadas não têm esse poder de polícia.
FOLHA - Houve muitos incidentes nessas participações?
RUDZIT- Houve alguns.
Como quando um homem
ultrapassou uma barreira
do Exército, no Rio, e foi
baleado. É que o da Providência foi o cúmulo da
barbaridade. Mostra uma
aproximação entre Exército, pelo menos de alguns
indivíduos, com o crime
organizado, que choca. [...]
A entrega dos jovens para
que lhes fossem aplicado
um corretivo é o cúmulo
de fugir da legalidade. [...]
Mas é muito fácil criticar.
Eles estão cara a cara com
um grupo preparado para
matar e morrer. Mexe com
o psicológico.
(MP)
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