São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

entrevista

"Tropas não são treinadas para policiamento"

DA REPORTAGEM LOCAL

A presença do Exército no morro é considerada perigosa e poderia ter gerado algo ainda mais grave, como um tiroteio com morte de muitos civis. A opinião é de Gunther Rudzit, mestre em segurança nacional pela Universidade Georgetown de Washington (EUA) e ex-assessor do então ministro da Defesa Geraldo Quintana, no governo FHC. Professor das Faculdades Integradas Rio Branco, ele diz que as tropas não estão treinadas para a função que exercem no Rio e qualifica a entrega dos jovens ao tráfico como "cúmulo da barbaridade". A seguir, trechos da entrevista concedida após o episódio na Providência.

 

FOLHA - Qual a sua opinião sobre a presença do Exército no morro da Providência?
GUNTHER RUDZIT
- Colocaram as tropas do Exército para fazer o que elas não estão treinadas e não estão acostumadas: policiamento. Elas estão no máximo treinadas para operações de paz, como no Haiti. Podem inclusive usar a força letal. Você tira soldados que têm treinamento para guerra para fazer policiamento... Acho até que demorou para acontecer algo de ruim. Pior seria um tiroteio com muitos civis mortos. É uma região em que eles ficam em linha de frente com os traficantes.

FOLHA - Pode-se fazer um paralelo entre a presença das tropas e da Força Nacional?
RUDZIT
- A Força Nacional foi criada com policiais de diferentes Estados porque o Exército vinha se colocando contrário à ação urbana sem respaldo jurídico. O Exército só pode agir como polícia na fronteira. Desde que estive no ministério, os militares falavam que sem esse respaldo se sentiam desconfortáveis para ações de manutenção da lei e da ordem.

FOLHA - Como vê as outras participações excepcionais?
RUDZIT
- Tivemos a presença dele na Rio-92. Na época, assinou-se um convênio que, se fosse questionado juridicamente, não teria base. Nos Jogos Pan-Americanos também. Juridicamente, as Forças Armadas não têm esse poder de polícia.

FOLHA - Houve muitos incidentes nessas participações?
RUDZIT
- Houve alguns. Como quando um homem ultrapassou uma barreira do Exército, no Rio, e foi baleado. É que o da Providência foi o cúmulo da barbaridade. Mostra uma aproximação entre Exército, pelo menos de alguns indivíduos, com o crime organizado, que choca. [...] A entrega dos jovens para que lhes fossem aplicado um corretivo é o cúmulo de fugir da legalidade. [...] Mas é muito fácil criticar. Eles estão cara a cara com um grupo preparado para matar e morrer. Mexe com o psicológico. (MP)



Texto Anterior: Entrevista: "Força perdeu confiança da população"
Próximo Texto: Irmão quer vingar vítima de militar, diz mãe
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.