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AIDS
Produto está em fase final de testes com 7.900 pessoas nos EUA e na Tailândia
Vacina pode chegar ao país em 2002
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma primeira vacina contra o
vírus da Aids poderá chegar ao
Brasil já no início de 2002. Essa
perspectiva ainda depende de
uma série de acertos, mas até agora os passos do processo apontam
nessa direção.
A vacina, produzida pela empresa norte-americana VaxGen, é
a primeira no mundo em teste na
fase 3. É a fase que inclui testes
com humanos em grandes grupos e que antecede a liberação da
droga no mercado. A vacina é
produzida por engenharia genética, sem nenhum risco de contaminar as pessoas.
Ontem, em São Paulo, o pesquisador Donald Francis, da Universidade de Harvard, informou que
o primeiro resultado sobre a eficácia da vacina será conhecido no
final do próximo ano. A droga
vem sendo testada por 5.400 homossexuais norte-americanos e
2.500 usuários de drogas injetáveis da Tailândia.
Metade desses voluntários está
recebendo a vacina, a outra parte
toma um placebo (uma vacina
inócua). Caso o número de infectados entre os que recebem a droga verdadeira seja significativamente menor que o grupo do placebo -o que comprovaria sua
eficácia-, todos os voluntários
passarão a receber a vacina.
O estudo foi desenhado para
terminar no final de 2002. Mas,
caso a comprovação da eficácia se
dê já no final do ano que vem, a
vacina poderá ser colocada à disposição para populações maiores.
É nessa fase que o Brasil pode
vir a entrar como cliente. O interesse do país ainda não foi manifestado oficialmente, mas Francis
desembarcou em São Paulo com
o propósito de conhecer a infra-estrutura dos laboratórios públicos e saber dos estudos feitos com
grupos em maior risco. No próximo dia 18, o pesquisador se reúne
em São Paulo com membros do
Comitê Nacional de Vacina.
No dia 17, às 14h, ele participa
na Faculdade de Saúde Pública da
USP de uma mesa sobre protocolo de vacinas, com pesquisadores
e representantes de ONGs.
Donald Francis esteve à frente
do trabalho de combate ao vírus
Ebola na África, na erradicação da
varíola na Ásia e na identificação
do HIV como agente causador de
Aids. É um dos principais estudiosos em vacina do mundo.
Ele está agora à frente da VaxGen, a empresa que vem desenvolvendo a vacina. Na sua opinião, os investidores estão mais
interessados em financiar remédios. "A voz da prevenção é fraca", afirma. "As pessoas que têm
Aids conseguem se organizar politicamente e fazer pressão junto
aos seus governos. Já as pessoas
que não estão infectadas não fazem pressão por uma vacina."
Francis vê com otimismo a possibilidade de o Brasil se tornar um
dos primeiros clientes da vacina.
Ele lembra que o país é um dos
poucos com uma política pública
de tratamento e que o financiamento de uma vacina poderia reduzir esses custos.
O pesquisador afirmou que há
grande otimismo com relação aos
resultados da atual pesquisa. Sua
preocupação é com uma possível
mutação do vírus. No início dos
anos 90, depois de resultados animadores em chipanzés, as pesquisas sofreram um revés. De 128
usuários de drogas injetáveis que
tomaram a vacina, 7 deles se infectaram num período de dois
anos e meio. Constatou-se então
que a vacina não protegia contra
todos os subtipos do vírus e os estudos recomeçaram.
A vacina que está em pesquisa
nos EUA e na Tailândia foi preparada para dois diferentes subtipos
do vírus, o B e o E.
Outro desafio, diz Francis, é a
produção em grande escala e,
mais que isso, a distribuição da
vacina às populações mais pobres. "Com a hepatite B, os grupos
mais necessitados só receberam a
vacina depois de 15 anos", afirma
o pesquisador. Ele estima que
uma dose da vacina contra a Aids
custe hoje US$ 30.
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