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FRANCO DA ROCHA
Corpo de adolescente foi queimado no teto da unidade; outros cinco internos e 11 monitores ficaram feridos
Menor é morto em rebelião na Febem
ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O interno V.L., 17, foi assassinado durante uma rebelião na unidade da Febem em Franco da Rocha (Grande São Paulo), que começou na noite de anteontem e só
terminou às 17h de ontem, após a
intervenção de 70 policiais da tropa de choque.
O adolescente foi morto por
volta das 22h30 a golpes de estilete. Seu corpo foi levado para o teto
da unidade e queimado.
Segundo a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social,
V.L. foi morto em um acerto de
contas entre os internos. V.L. era
acusado de ser autor de homicídios na zona norte.
Outros cinco internos e 11 monitores ficaram feridos. Segundo
os funcionários, o estado de um
dos monitores é grave.
Inaugurada em maio deste ano,
a unidade de Franco da Rocha já
registrou várias denúncias de
maus-tratos contra os menores e
pelo menos três grandes rebeliões. Na quarta-feira, o Deij (Departamento de Execuções da Infância e Juventude) deu prazo de
30 dias para que a Febem solucione as irregularidades apontadas
na unidade.
A rebelião começou às 22h de
quinta-feira na unidade educacional de número 31, onde estão internados 463 menores. A confusão começou na ala D e logo se espalhou para outras sete alas.
Os menores usaram como arma
as barras de ferro das camas e
mantiveram cerca de 15 monitores como reféns. Segundo a secretaria, os internos queriam o aumento do período de visita e a
transferência de alguns monitores
para outras unidades.
O secretário de Assistência e
Desenvolvimento Social, Edsom
Ortega, disse que os menores fizeram exigências "absurdas".
"Queriam que a gente facilitasse
a entrada de drogas na unidade,
por exemplo", disse Ortega.
Marcelo Oliveira, 28, foi um dos
primeiros monitores a serem detidos pelos menores. "Não dava
para controlar. Eu fiquei por duas
horas em um colchão em que estava escrita a palavra "refém", junto de uma das janelas", afirmou.
Após duas horas, Oliveira foi levado para o teto da unidade, no
mesmo momento em que o corpo
de V.L. era queimado.
Oliveira foi jogado e caiu de
uma altura de oito metros, mas
apenas torceu o tornozelo e teve
luxações no joelho.
Segundo os monitores, os motins começaram no sábado no horário da visita e continuaram no
domingo, mas a situação havia sido controlada pelos funcionários.
Na segunda-feira, o dia foi calmo, mas na terça, às 12h, um funcionário foi espancado na unidade 30 e teve traumatismo craniano. Na quarta-feira, a situação
voltou a ficar tensa com uma nova
rebelião na unidade 31. Os menores colocaram fogo em colchões e
lençóis. No mesmo dia, houve
uma tentativa de fuga na unidade
30, vizinha à 31, e um protesto de
funcionários, que pediam mais
segurança e novas contratações.
Bombas
Ontem, a tropa de choque teve
de lançar bombas de efeito moral
para obrigar os menores a voltar
para as celas. Eles ameaçaram jogar objetos nos policiais, mas, segundo o comandante da tropa,
Reinado Pinheiro, não houve
mais resistência.
Procuradores da República e
promotores da Infância e da Juventude acompanharam a ação
da tropa de choque.
Até a conclusão desta edição,
eles não haviam saído do prédio.
Do lado de fora da unidade, as
mães que aguardavam informações sobre os filhos se desesperaram quando ouviram o barulho
das bombas.
Ortega confirmou apenas uma
morte, apesar de alguns monitores terem dito que dois menores
haviam sido assassinados.
No final da tarde de ontem, a
tropa de choque estava transferindo alguns menores para a unidade 30, que estava subocupada,
com apenas 80 menores.
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