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Troca de acusações afeta motim
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A rebelião que provocou a morte de um adolescente na noite de
anteontem na unidade Franco da
Rocha da Febem é o prolongamento de uma rixa constante e de
troca de acusações que acontecem fora dos muros da entidade.
A discussão envolve os funcionários da unidade e familiares de
internos. Ontem, depois que os
ânimos haviam se acalmado à força, mães diziam que a rebelião só
havia acontecido porque os monitores costumam espancar "os
meninos".
Numa outra roda de conversa,
eram os agentes de segurança que
reclamavam. De acordo com um
deles, que não quis se identificar,
na visita de sábado, as mães teriam incentivado os adolescentes
a fazer uma rebelião para fugir.
Elas negam. Segundo a irmã de
um dos internos, durante a visita,
"os meninos" não demonstraram
sinais de que iriam se rebelar, apesar de, novamente, terem reclamado de maus-tratos.
No entanto, naquele mesmo
dia, houve um princípio de motim, controlado pelos próprios
funcionários. O secretário da Assistência e Desenvolvimento Social, Edsom Ortega, esteve no local, mas negou que tenha havido
revolta entre os internos.
O secretário admitiu, porém,
que "há rebeliões que a imprensa
nem fica sabendo". Ortega afirmou que os adolescentes reclamaram da rigidez das normas internas. "Vamos escrever as normas para que saibam quais são."
Para Ortega, "os meninos ficam
o tempo todo provocando os funcionários". A mesma declaração
foi feita por um monitor que ficou
como refém dos adolescentes.
As mães que foram para a porta
da unidade para ter notícias de
seus filhos só conseguiam aumentar sua ansiedade por causa
da falta de informação. Quando a
tropa de choque chegou ao local,
uma das mães entrou em desespero, num choro convulsivo, sentada no meio-fio e encostada no
muro. "Tomara que chore lágrimas de sangue", disse um funcionário para um colega.
O desdém pela dor alheia também era demonstrado pelos familiares dos adolescentes. Um monitor chamado Valmor, que ficou
refém dos rebelados e apresentava hematomas no rosto e nas pernas, foi criticado pelas mães. "Este
é um dos que batem nos meninos", acusavam.
A explicação de Ortega para os
motins é que "a fúria está presente nos adolescentes, e o nível de
agressividade aumentou muito".
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