São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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TRANSPORTE

Passageiros reclamam dos serviços do aeroporto, por onde passam 700 aeronaves por dia, mais que em Cumbica

Congonhas é teste de paciência para usuário

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Isto aqui parece uma feira."
A afirmação foi feita num começo de noite de sexta-feira por um passageiro que acabava de desembarcar do Rio e tentava, com muito custo, romper a barreira de pessoas que se aglomeravam à sua frente. Irritado, o homem não quis se identificar, mas seu desabafo revela o sentimento que predomina entre os que hoje frequentam o outrora chique aeroporto de Congonhas.
Ponto de referência da cidade -até a década de 70, era moda ir tomar café no bar do saguão central-, Congonhas foi inaugurado em 1936, gera 12 mil empregos diretos e recebe uma população flutuante diária de cerca de 60 mil pessoas, sendo que metade delas é de passageiros, transportados por quase 700 aeronaves.
Esse número é quase uma vez e meia o de aviões que passam pelo aeroporto de Cumbica (que é muito maior) e cerca de 40% maior que o do movimento de Congonhas mesmo, há cinco anos. Em Cumbica, os vôos, assim como os passageiros, estão diminuindo; em Congonhas, não param de aumentar.
Com sua capacidade operacional no limite, excesso de vôos, excesso de passageiros, excesso de trânsito e excesso, no seu interior, de atividades que nada têm a ver com aviação, o principal aeroporto da América Latina é um desafio à paciência do usuário.
Assim como o trânsito de São Paulo, Congonhas é ruim a qualquer dia e hora. Mas há os chamados momentos de pico -de manhã, na hora do almoço e à noite- e os dias críticos -segunda, sexta e domingo à noite.
É quando o caos se instala.
Na sexta-feira da semana passada, por exemplo, podia-se facilmente perceber a confusão e alguns de seus agravantes, como:
1 - A alça de acesso para os carros, que sai da avenida Washington Luís e leva ao terminal, tem apenas 800 metros, mas eram necessários pelo menos 25 minutos para percorrê-la por causa do congestionamento. Ou seja, o suficiente para se perder um vôo.
2 - O comércio prolifera nos corredores do aeroporto, as lojas oferecem desde jóias até bichinhos de pelúcia, passando por bebidas, roupas, gravatas, canetas e cosméticos. Isso sem falar na barraquinha que vende rosquinhas com canela. No grande hall central, que hoje se assemelha a um espaço de uma feira de exposições, há vários estandes em que se podem ver: um telão, uma camionete "off-road" sob iluminação feérica, duas motocicletas, computadores, camisetas, material esportivo (com destaque para a peças alusivas à seleção brasileira), telefones celulares e canetas. Os estandes, inclusive um que vendia pinturas, estavam vazios, ao contrário de qualquer outra dependência do terminal.
3 - Os painéis eletrônicos informavam que entre 19h24 e 20h30 daquela sexta-feira estavam previstas a chegada de 23 vôos e a partida de outros 43. A média de um pouso ou decolagem por minuto de certa forma explica as filas nos balcões das companhias, nas salas de embarque, na lanchonete e no banheiro, o tumulto em frente à saída do desembarque e a imensa fila (38 pessoas) no ponto do táxi. Aliás, a fila seria bem menor se os táxis não estivessem presos no congestionamento.

Atrasos
"Os vôos em Congonhas não saem na hora nunca", diz o consultor de empresas Sidney Hawthorne, que nos últimos dois anos passa pelo aeroporto pelo menos duas vezes por semana.
Para ele, os serviços se deterioram cada vez mais e um dos principais problemas são as salas de embarque. "Todas elas são ruins, desconfortáveis", diz.
A principal sala do terminal dá acesso a nada menos que cinco portas de embarque. "E a sala não tem espaço para suportar todo mundo. As pessoas ficam em pé, às vezes por quase uma hora." Segundo ele, "esse tipo de problema, mais os congestionamentos que ocorrem na pista com carrinhos, caminhões, filas de passageiros e ônibus, faz com que se perca muito dinheiro em Congonhas".
"O aeroporto se transformou numa espécie de mercado persa. Por isso, é claro, a qualidade dos serviços caiu." Essa é a opinião de Uébio José da Silva, presidente do sindicato que congrega justamente trabalhadores que prestam serviço em Congonhas.
A comparação com um mercado se deve, conforme Silva, ao fato de nos últimos dez anos ter aumentado os pontos comerciais. "Aumentou o shopping, mas as instalações e equipamentos de logística permanecem os mesmos." E também aos tumultos ocasionados pelo excesso de passageiros.
Segundo Silva, um bom exemplo dessa situação são as salas de embarque: "Elas são um caos. Isso aumenta muito o estresse dos funcionários que atendem o público. Na verdade, tudo é muito difícil no aeroporto".



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