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TRANSPORTE
Passageiros reclamam dos serviços do aeroporto, por onde passam 700 aeronaves por dia, mais que em Cumbica
Congonhas é teste de paciência para usuário
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
"Isto aqui parece uma feira."
A afirmação foi feita num começo de noite de sexta-feira por
um passageiro que acabava de desembarcar do Rio e tentava, com
muito custo, romper a barreira de
pessoas que se aglomeravam à
sua frente. Irritado, o homem não
quis se identificar, mas seu desabafo revela o sentimento que predomina entre os que hoje frequentam o outrora chique aeroporto de Congonhas.
Ponto de referência da cidade
-até a década de 70, era moda ir
tomar café no bar do saguão central-, Congonhas foi inaugurado
em 1936, gera 12 mil empregos diretos e recebe uma população flutuante diária de cerca de 60 mil
pessoas, sendo que metade delas é
de passageiros, transportados por
quase 700 aeronaves.
Esse número é quase uma vez e
meia o de aviões que passam pelo
aeroporto de Cumbica (que é
muito maior) e cerca de 40%
maior que o do movimento de
Congonhas mesmo, há cinco
anos. Em Cumbica, os vôos, assim como os passageiros, estão
diminuindo; em Congonhas, não
param de aumentar.
Com sua capacidade operacional no limite, excesso de vôos, excesso de passageiros, excesso de
trânsito e excesso, no seu interior,
de atividades que nada têm a ver
com aviação, o principal aeroporto da América Latina é um desafio
à paciência do usuário.
Assim como o trânsito de São
Paulo, Congonhas é ruim a qualquer dia e hora. Mas há os chamados momentos de pico -de manhã, na hora do almoço e à noite- e os dias críticos -segunda,
sexta e domingo à noite.
É quando o caos se instala.
Na sexta-feira da semana passada, por exemplo, podia-se facilmente perceber a confusão e alguns de seus agravantes, como:
1 - A alça de acesso para os carros, que sai da avenida Washington Luís e leva ao terminal, tem
apenas 800 metros, mas eram necessários pelo menos 25 minutos
para percorrê-la por causa do
congestionamento. Ou seja, o suficiente para se perder um vôo.
2 - O comércio prolifera nos
corredores do aeroporto, as lojas
oferecem desde jóias até bichinhos de pelúcia, passando por bebidas, roupas, gravatas, canetas e
cosméticos. Isso sem falar na barraquinha que vende rosquinhas
com canela. No grande hall central, que hoje se assemelha a um
espaço de uma feira de exposições, há vários estandes em que se
podem ver: um telão, uma camionete "off-road" sob iluminação
feérica, duas motocicletas, computadores, camisetas, material esportivo (com destaque para a peças alusivas à seleção brasileira),
telefones celulares e canetas. Os
estandes, inclusive um que vendia
pinturas, estavam vazios, ao contrário de qualquer outra dependência do terminal.
3 - Os painéis eletrônicos informavam que entre 19h24 e 20h30
daquela sexta-feira estavam previstas a chegada de 23 vôos e a
partida de outros 43. A média de
um pouso ou decolagem por minuto de certa forma explica as filas nos balcões das companhias,
nas salas de embarque, na lanchonete e no banheiro, o tumulto em
frente à saída do desembarque e a
imensa fila (38 pessoas) no ponto
do táxi. Aliás, a fila seria bem menor se os táxis não estivessem presos no congestionamento.
Atrasos
"Os vôos em Congonhas não
saem na hora nunca", diz o consultor de empresas Sidney Hawthorne, que nos últimos dois anos
passa pelo aeroporto pelo menos
duas vezes por semana.
Para ele, os serviços se deterioram cada vez mais e um dos principais problemas são as salas de
embarque. "Todas elas são ruins,
desconfortáveis", diz.
A principal sala do terminal dá
acesso a nada menos que cinco
portas de embarque. "E a sala não
tem espaço para suportar todo
mundo. As pessoas ficam em pé,
às vezes por quase uma hora." Segundo ele, "esse tipo de problema,
mais os congestionamentos que
ocorrem na pista com carrinhos,
caminhões, filas de passageiros e
ônibus, faz com que se perca muito dinheiro em Congonhas".
"O aeroporto se transformou
numa espécie de mercado persa.
Por isso, é claro, a qualidade dos
serviços caiu." Essa é a opinião de
Uébio José da Silva, presidente do
sindicato que congrega justamente trabalhadores que prestam serviço em Congonhas.
A comparação com um mercado se deve, conforme Silva, ao fato
de nos últimos dez anos ter aumentado os pontos comerciais.
"Aumentou o shopping, mas as
instalações e equipamentos de logística permanecem os mesmos."
E também aos tumultos ocasionados pelo excesso de passageiros.
Segundo Silva, um bom exemplo dessa situação são as salas de
embarque: "Elas são um caos. Isso aumenta muito o estresse dos
funcionários que atendem o público. Na verdade, tudo é muito
difícil no aeroporto".
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