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CRIME EM BERTIOGA
Relato está em depoimento dado em janeiro; em entrevista anteontem, universitário mudou versão
Vítima afirma que promotor deu dois tiros de advertência
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
Thales Ferri Schoedl, 26, promotor que matou um rapaz e feriu outro em um luau em Bertioga
(litoral de São Paulo), em 30 de
dezembro do ano passado, durante uma discussão por causa de
sua namorada, só passou a atirar
contra as pessoas quando elas
tentaram tomar sua arma, uma
pistola, e depois de dar dois tiros,
um para cima e outro para o chão.
A afirmação está no depoimento do sobrevivente dos tiros, o
universitário Felipe Siqueira Cunha de Souza, 21. O testemunho
foi prestado em 9 de janeiro, em
um quarto do hospital Sírio Libanês (centro de São Paulo) ao procurador Álvaro Busana e ao promotor Luiz Roberto Salles Souza.
Esse relato coincide com o dado
por Schoedl em depoimento. O
promotor, que alega legítima defesa, disse que, após dar dois tiros
de advertência, foi perseguido por
cerca de 200 metros. Quando ficou encurralado, um rapaz o teria
agarrado e ele começou a atirar.
Anteontem, em entrevista à Folha, o estudante de direito contou
uma versão diferente. Disse que
só depois de levar um tiro no peito, disparado pelo promotor, ele e
o amigo Diego Mendes Modanez,
20, correram para tentar desarmá-lo. Por essa versão, Schoedl
recuou e atirou novamente, várias
vezes. Modanez morreu atingido
por dois tiros e Souza ficou ferido
após ser baleado quatro vezes.
O promotor fugiu e foi preso
horas depois por policiais de Bertioga e aguarda a decisão do processo em liberdade.
"Ele [promotor] deu o primeiro
tiro para cima, o segundo para
baixo e o terceiro, em mim. Antes
do segundo disparo, alguém gritou que a arma era de brinquedo.
Eu fiquei parado, no máximo gesticulava. Depois que me atingiu,
ele começou a correr. Fui atrás até
para me defender também, porque não tínhamos para onde correr. Nunca chegamos perto dele.
Era sempre ele correndo e atirando", afirmou o universitário.
O universitário afirma que nem
ele nem o amigo morto estavam
no grupo de rapazes que teria
ofendido a namorada do promotor Thales Ferri Schoedl, uma estudante de 19 anos.
Segundo Souza, ele conversava
com Modanez quando ouviu o
promotor discutindo com um
grupo de jovens. "Ele [promotor]
estava bastante alterado e nervoso. Eu e o Diego falávamos para
ele ir embora, que não valia a pena
ficar discutindo", afirmou.
Naquele instante, segundo o
universitário, Schoedl passou a
acusá-lo de ter ofendido sua namorada. "Passamos a discutir.
Em nenhum momento me dirigi
à namorada dele. Ficamos o tempo todo parados. O Thales queria
avançar contra nós, mas era seguro pela garota", contou.
O promotor, segundo o estudante, chegou a virar de costas para ir embora, mas voltou a discutir após Souza ter falado que "era
melhor ir embora mesmo".
Em seguida, afirma o universitário, o promotor começou a atirar e a correr.
Parcialidade
O advogado do jovem, Pedro
Lazarini Neto, afirmou que sentiu
"uma certa parcialidade" favorável a Schoedl por parte do procurador Busana e do promotor Salles Souza quando eles foram ouvir o universitário no hospital.
Durante o depoimento, ele conta que teve de "intervir" por três
vezes para que as declarações de
seu cliente fossem colocadas na
íntegra pelo promotor Salles.
Como exemplo, citou o instante
em que o universitário disse que
Schoedl estava "descontrolado" e
Salles Souza digitou "irritado".
Apesar disso, o advogado elogia
a atuação do procurador-geral de
Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, chefe do Ministério Público
de São Paulo. "Ele está investigando o caso com imparcialidade."
O processo contra o promotor,
no Tribunal de Justiça, é de homicídio simples, que permite ao réu
aguardar a decisão em liberdade.
A situação profissional de
Schoedl será definida no próximo
dia 31 pelo Órgão Especial do Ministério Público, que pode ratificar ou não a decisão de julho do
Conselho Superior, que votou pela exoneração dele do cargo. Se for
expulso, ele perde o direito a foro
privilegiado e será julgado pelo
Tribunal do Júri de Bertioga.
Procurado, Thales Schoedl não
quis dar entrevista.
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