São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Juliano aprendeu com "pai-eterno"

DA REVISTA DA FOLHA

"A zona norte de São Paulo era um amontoado de chácaras. Minha casa era separada da do vizinho por uma cerca de dois arames farpados. Era fácil para um garotinho como eu passar por baixo. Mas, se a bola caísse lá, meu pai me fazia dar a volta em toda a casa, bater palma e pedir permissão para entrar.
Aos olhos de hoje, pode parecer exagero. Mas, naquela época, havia um respeito, uma admiração, um orgulho pelo pai. Era uma época bem diferente, com pouca violência.
Papai nunca precisou me dar umas palmadas. Bastava olhar para a gente perceber que algo o desagradava. Nunca contestei meu pai. Nem em pensamento.
Éramos seis irmãos, quatro mulheres e dois homens. Eu, o caçula. Nos almoços de domingo, a cabeceira era dele.
Papai adorava falar sobre seu trabalho na Força Pública, antiga Polícia Militar. Ele era corneteiro, mas chegou a ir para o front durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
Enquanto conversava, os menores jamais emitiam opinião. Nem por isso o consideravam repressor. Talvez essa rigidez estivesse relacionada com sua origem alemã.
Sempre acreditei que a educação começa em casa. Sou pai de dois homens e de uma mulher. Meu filho mais velho, de 52 anos, também sabe pelo meu jeito de olhar se estou ou não gostando.
Apesar de a juventude de hoje ser bem diferente da do meu tempo, acredito em tudo o que aprendi com o meu pai. Infelizmente, uma pneumonia o matou em 1941.
Vivi apenas nove anos ao lado do meu pai. Foram só nove anos, mas valeram por 90."


Juliano Rolando Forster, 75, tipógrafo aposentado, é filho de João (1896-1941)


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