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Juliano aprendeu com "pai-eterno"
DA REVISTA DA FOLHA
"A zona norte de São Paulo
era um amontoado de chácaras.
Minha casa era separada da do
vizinho por uma cerca de dois
arames farpados. Era fácil para
um garotinho como eu passar
por baixo. Mas, se a bola caísse
lá, meu pai me fazia dar a volta
em toda a casa, bater palma e
pedir permissão para entrar.
Aos olhos de hoje, pode parecer exagero. Mas, naquela época, havia um respeito, uma admiração, um orgulho pelo pai.
Era uma época bem diferente,
com pouca violência.
Papai nunca precisou me dar
umas palmadas. Bastava olhar
para a gente perceber que algo
o desagradava. Nunca contestei
meu pai. Nem em pensamento.
Éramos seis irmãos, quatro
mulheres e dois homens. Eu, o
caçula. Nos almoços de domingo, a cabeceira era dele.
Papai adorava falar sobre seu
trabalho na Força Pública, antiga Polícia Militar. Ele era corneteiro, mas chegou a ir para o
front durante a Revolução
Constitucionalista de 1932.
Enquanto conversava, os
menores jamais emitiam opinião. Nem por isso o consideravam repressor. Talvez essa rigidez estivesse relacionada com
sua origem alemã.
Sempre acreditei que a educação começa em casa. Sou pai
de dois homens e de uma mulher. Meu filho mais velho, de
52 anos, também sabe pelo
meu jeito de olhar se estou ou
não gostando.
Apesar de a juventude de hoje ser bem diferente da do meu
tempo, acredito em tudo o que
aprendi com o meu pai. Infelizmente, uma pneumonia o matou em 1941.
Vivi apenas nove anos ao lado
do meu pai. Foram só nove
anos, mas valeram por 90."
Juliano Rolando Forster, 75, tipógrafo aposentado, é filho de João (1896-1941)
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