São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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MARIA INÊS DOLCI

Dilema digital

A SUA INTERNET está mais lenta do que de costume? Seus e-mails não chegam ao destino, e os que enviaram para você também não? Isso não está acontecendo somente com você. Quase todos os provedores de acesso têm enfrentado, nas últimas semanas, problemas técnicos.
Problemas acontecem, é claro. Ainda mais com alta tecnologia, suscetível a uma série de ataques de hackers ou a simples falhas. A questão é: alguém nos avisou? Vamos ser ressarcidos pelo tempo perdido, pelos e-mails desaparecidos, pelos negócios prejudicados pela falta de conexão?
Não. Nessa área, lamentavelmente, impera a antiga lei da "rebimboca da parafuseta", da época em que os motoristas não entendiam nada de mecânica. Um pretenso profissional chutava o motivo dos problemas no motor do carro e apelava para nomes incompreensíveis.
Pelo Código de Defesa do Consumidor, os usuários têm direito à informação. Justamente o que não receberam. Isso que somos mais de 33 milhões de internautas, conforme pesquisas deste ano, sendo mais de 13 milhões de usuários domésticos.
Deveríamos ter superado isso em uma área tão sofisticada quanto a digital. Mas o desrespeito é igual ao da turma da rebimboca. Você tem dúvida sobre isso? Tente consertar seu microcomputador. Tente utilizar um programa navegador da internet e receba, periodicamente, mensagens de erro.
Somos um dos países em que mais cresce o acesso à internet por uma série de razões: dimensões continentais, curiosidade e apelo que a tecnologia tem para o brasileiro, oferta de conteúdo de qualidade na web.


Vamos ser ressarcidos pelos e-mails desaparecidos, pelos negócios prejudicados pela falta de conexão?

Então, por que, em termos de serviços as coisas são tão difíceis? Há alguns dias, um usuário ligou para um provedor de acesso à internet, pois estava sem conexão. A resposta, gravada, era: "Informamos que estamos com dificuldades nas regiões...".
Essa falha generalizada de acesso via banda larga, que acometeu, pelas informações que recebemos, São Paulo, criou uma vantagem esquisita: quem experimentava o acesso discado (pelo telefone fixo comum) à internet, conseguia enviar seus e-mails com muito mais facilidade do que pela banda larga.
Essa espécie de "apagão digital disfarçado" passou batida, sem que os direitos dos usuários fossem respeitados. E nos provocou uma forte apreensão, em uma sociedade que cada vez mais depende do correio eletrônico (e-mail) e da internet: temos infra-estrutura e tecnologia suficientes para suportar o exponencial crescimento do número de usuários?
Isso poderia melhorar, com mais concorrência. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidiu a favor dos consumidores quando tentou democratizar o leilão do WiMax (serviço de banda larga sem fio). Lamentavelmente, o Ministério das Comunicações adotou postura diversa, apoiando a participação das operadoras de telefonia fixa e móvel no leilão, suspenso pela Justiça.
Até agora, em lugar de respostas, temos um dilema digital.

NA INTERNET - http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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