São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saúde é principal queixa de presas de SP

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O atendimento médico é uma das principais reclamações de presas de São Paulo, segundo pesquisa feita na Casa de Detenção Feminina do Tatuapé (zona sudeste).
O levantamento do Grupo Cidadania nos Presídios, realizado entre maio e julho de 1997, revela que 50,6% das detentas entrevistadas (246 de um total de mais de 350 presas) consideram ruim o atendimento médico na unidade.
O grupo recebe apoio da Pastoral Carcerária e das comissões de direitos humanos da Câmara dos Deputados e da Assembléia Legislativa de São Paulo. Ele conta com a participação de voluntários: advogados, psicólogos, pesquisadores sociais e estudantes de direito.
De acordo com a pesquisa, 53% das detentas afirmaram que realizavam tratamento médico antes de ser presas. No entanto, apenas 9% delas disseram ter continuado esses tratamentos na prisão.
Um grande número de detentas (42,7%) afirmou ter adquirido alguma doença na prisão. Ainda segundo as detentas, 55% das gestantes presas afirmaram que não recebem acompanhamento médico regular.
Segundo a pesquisa, 70% da presas afirmaram nunca ter feito mamografia (exame de mama para detectar tumores) na prisão; 25% disseram ter ficado doentes depois de detidas.
"Esses dados demonstram que não há um programa de saúde para a mulher presa. A detenta é tratada como um ser assexuado na cadeia", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Renato Simões.
A pesquisa mostra que a maioria da presas (56,5%) têm entre 18 e 30 anos. Já a grande maioria delas (76,4%) não completou o ensino fundamental. Do total das detentas entrevistadas, 75% trabalhavam antes de ser presas -54% delas eram responsáveis pelo sustento da família.
O estudo mostrou que 98% das presas afirmaram ter filhos e que 21% delas disseram ser casadas.
"A maioria estava trabalhando antes de ser presa. Isso demonstra que é enganosa a idéia de que o presidiário é um desocupado", afirmou a pesquisadora Regina Célia Pedroso.
Outro ponto que chamou a atenção do grupo de pesquisadores foi a alta taxa de reincidência entre as presas: 52,7%. "O dado revela que o Estado não mantém assistência ao egresso. A motivação que leva o preso a reincidir não está sendo combatida", disse a coordenadora do trabalho, a socióloga Maria Cristina Jakimiak Fernandes.
A Folha procurou ontem o secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, para comentar a pesquisa, mas sua assessoria informou que ele estava no interior.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.