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Saúde é principal queixa de presas de SP
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
O atendimento médico é uma
das principais reclamações de presas de São Paulo, segundo pesquisa feita na Casa de Detenção Feminina do Tatuapé (zona sudeste).
O levantamento do Grupo Cidadania nos Presídios, realizado entre maio e julho de 1997, revela
que 50,6% das detentas entrevistadas (246 de um total de mais de
350 presas) consideram ruim o
atendimento médico na unidade.
O grupo recebe apoio da Pastoral Carcerária e das comissões de
direitos humanos da Câmara dos
Deputados e da Assembléia Legislativa de São Paulo. Ele conta com
a participação de voluntários: advogados, psicólogos, pesquisadores sociais e estudantes de direito.
De acordo com a pesquisa, 53%
das detentas afirmaram que realizavam tratamento médico antes
de ser presas. No entanto, apenas
9% delas disseram ter continuado
esses tratamentos na prisão.
Um grande número de detentas
(42,7%) afirmou ter adquirido alguma doença na prisão. Ainda segundo as detentas, 55% das gestantes presas afirmaram que não
recebem acompanhamento médico regular.
Segundo a pesquisa, 70% da presas afirmaram nunca ter feito mamografia (exame de mama para
detectar tumores) na prisão; 25%
disseram ter ficado doentes depois
de detidas.
"Esses dados demonstram que
não há um programa de saúde para a mulher presa. A detenta é tratada como um ser assexuado na
cadeia", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Assembléia Legislativa de São
Paulo, deputado Renato Simões.
A pesquisa mostra que a maioria
da presas (56,5%) têm entre 18 e
30 anos. Já a grande maioria delas
(76,4%) não completou o ensino
fundamental. Do total das detentas entrevistadas, 75% trabalhavam antes de ser presas -54% delas eram responsáveis pelo sustento da família.
O estudo mostrou que 98% das
presas afirmaram ter filhos e que
21% delas disseram ser casadas.
"A maioria estava trabalhando
antes de ser presa. Isso demonstra
que é enganosa a idéia de que o
presidiário é um desocupado",
afirmou a pesquisadora Regina
Célia Pedroso.
Outro ponto que chamou a atenção do grupo de pesquisadores foi
a alta taxa de reincidência entre as
presas: 52,7%. "O dado revela que
o Estado não mantém assistência
ao egresso. A motivação que leva o
preso a reincidir não está sendo
combatida", disse a coordenadora do trabalho, a socióloga Maria
Cristina Jakimiak Fernandes.
A Folha procurou ontem o secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, para comentar a
pesquisa, mas sua assessoria informou que ele estava no interior.
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