São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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CORTES
Ex-ministro chega ao número atualizando verba do início da gestão FHC, somada à CPMF
Saúde perde R$ 10 bi em 3 anos, diz Jatene

ELIANE CANTANHÊDE

Diretora da Sucursal de Brasília

Pelos cálculos do ex-ministro Adib Jatene, as perdas de receitas do Ministério da Saúde chegam a praticamente R$ 10 bilhões em 1998 em relação a 1995 -o primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso. "Esse corte de agora, de R$ 821 milhões (como diz a Fazenda) ou de R$ 1,135 bilhão (versão da Saúde), não é nada perto do total que vem sendo cortado do setor", disse ele à Folha.
Jatene faz contas simples, a partir do que o ministério gastou em 1995: em torno de R$ 15 bilhões.
Como a inflação desses quatro anos é estimada em 42% pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o orçamento de 95 corrigido para este ano deveria ultrapassar R$ 21,3 bilhões.
Somados a R$ 8 bilhões da previsão de arrecadação anual da CPMF (o imposto sobre cheque), o orçamento total deveria bater em R$ 29,3 bilhões. Mas é só de R$ 19,5 bilhões.
O governo, segundo Jatene, não só diminuiu o orçamento da Saúde em termos reais como também usou de forma errada os recursos da CPMF.
"A CPMF era para somar e não para substituir verbas do setor", disse ele, que foi o grande articulador da aprovação da nova taxa no Congresso, inclusive contra parte da bancada governista.
"Para onde está indo o dinheiro?", perguntou. E ele mesmo respondeu: "Para a Previdência Social e para o pagamento de juros da dívida".
Jatene é professor da USP, diretor do Incor e um dos mais conceituados cirurgiões cardíacos do país. Além disso, se autoclassifica como "militante da Saúde".
Segundo ele, as contas do setor são ainda agravadas pelo impacto diferenciado da inflação. No geral, ela foi de 42% nesses anos. "Mas os insumos da Saúde não estão na cesta básica e sofreram uma inflação muito maior", disse.
Ele concorda com o temor do atual ministro, José Serra, de que por falta de recursos a epidemia de dengue possa recrudescer no próximo verão.
"Aliás, eu adverti o presidente (Fernando Henrique Cardoso) disso na minha carta de despedida do governo", disse Jatene.
"O Serra é um aliado precioso na Saúde", acrescentou, para ressalvar que nem ele, sem recursos, poderá recuperar o setor.
Jatene contou que escreveu um artigo com o título "O entreguismo na modernidade". Ele desistiu de enviá-lo para publicação, mas resumiu seu teor. Ei-lo: "Antigamente, entreguismo era submissão a outros países. Agora, é ao capital internacional, que ninguém sabe o que é".



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