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CORTES
Ex-ministro chega ao número atualizando verba do início da gestão FHC, somada à CPMF
Saúde perde R$ 10 bi em 3 anos, diz Jatene
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
Pelos cálculos do ex-ministro
Adib Jatene, as perdas de receitas
do Ministério da Saúde chegam a
praticamente R$ 10 bilhões em
1998 em relação a 1995 -o primeiro ano do governo Fernando
Henrique Cardoso.
"Esse corte de agora, de R$ 821
milhões (como diz a Fazenda) ou
de R$ 1,135 bilhão (versão da Saúde), não é nada perto do total que
vem sendo cortado do setor", disse ele à Folha.
Jatene faz contas simples, a partir do que o ministério gastou em
1995: em torno de R$ 15 bilhões.
Como a inflação desses quatro
anos é estimada em 42% pela Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas), o orçamento de 95
corrigido para este ano deveria ultrapassar R$ 21,3 bilhões.
Somados a R$ 8 bilhões da previsão de arrecadação anual da CPMF
(o imposto sobre cheque), o orçamento total deveria bater em R$
29,3 bilhões. Mas é só de R$ 19,5
bilhões.
O governo, segundo Jatene, não
só diminuiu o orçamento da Saúde em termos reais como também
usou de forma errada os recursos
da CPMF.
"A CPMF era para somar e não
para substituir verbas do setor",
disse ele, que foi o grande articulador da aprovação da nova taxa no
Congresso, inclusive contra parte
da bancada governista.
"Para onde está indo o dinheiro?", perguntou. E ele mesmo respondeu: "Para a Previdência Social e para o pagamento de juros
da dívida".
Jatene é professor da USP, diretor do Incor e um dos mais conceituados cirurgiões cardíacos do
país. Além disso, se autoclassifica
como "militante da Saúde".
Segundo ele, as contas do setor
são ainda agravadas pelo impacto
diferenciado da inflação. No geral,
ela foi de 42% nesses anos. "Mas
os insumos da Saúde não estão na
cesta básica e sofreram uma inflação muito maior", disse.
Ele concorda com o temor do
atual ministro, José Serra, de que
por falta de recursos a epidemia de
dengue possa recrudescer no próximo verão.
"Aliás, eu adverti o presidente
(Fernando Henrique Cardoso)
disso na minha carta de despedida
do governo", disse Jatene.
"O Serra é um aliado precioso
na Saúde", acrescentou, para ressalvar que nem ele, sem recursos,
poderá recuperar o setor.
Jatene contou que escreveu um
artigo com o título "O entreguismo na modernidade". Ele desistiu
de enviá-lo para publicação, mas
resumiu seu teor. Ei-lo: "Antigamente, entreguismo era submissão a outros países. Agora, é ao capital internacional, que ninguém
sabe o que é".
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