|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
Idéia é estimular diversidade
Rede privada
foge do
hábito de ler
A professora Lenira Buscato ajuda alunos a montar texto no
computador, no colégio Bandeirantes
da Reportagem Local
Do lado de lá do universo, no
mundo bem equipado, bem pago,
bem administrado das escolas particulares, professores motivados
fazem avançar o ensino de literatura com seus métodos inovadores.
Na Escola da Vila, no Butantã
(zona sudoeste), os alunos raramente são obrigados a ler um livro.
Tampouco se exige que demonstrem seus conhecimentos de leitura em provas bimestrais escritas.
O protocolo tradicional é substituído por "rodas de leitura" nas
quais tomam parte professores,
alunos e o bibliotecário.
Cada participante faz uma exposição sobre um livro que tenha lido
e que corresponda ao tema da roda. Em seguida é feito um debate e,
ao final, os livros são "postos na
roda", circulando entre os participantes até a próxima reunião.
"Desde o maternal a gente traz
livro para a escola, formando uma
espécie de biblioteca da classe",
conta Gabriel Arruda, 15. "Aqui se
lê muito. Resumos e resenhas são o
nosso forte", completa Guilherme
de Cerqueira César, 14.
Há um consenso entre os professores das escolas privadas de que é
preciso pôr o aluno em contato
com textos que ele não quer ler,
para romper vícios e a pobreza de
interpretação.
"Estimular o hábito de ler, a leitura pela leitura, é errado. Porque
hábito se traduz em costume, em
rotina, em acomodação. É preciso
provocar sempre o estranhamento, para que o aluno não se adapte
à fórmula", explica Maria Lúcia
Zoega de Souza, assessora de português da escola Vera Cruz.
"O aluno gostou de policial? Então vamos estudar o policial. Mas,
no bimestre seguinte, ele vai ler
poesia, crônica etc.", exemplifica.
Nas aulas de português do Colégio Bandeirantes, a sensibilidade
estética das crianças é estimulada
antes que a leitura comece. A 5ª série dá os primeiros passos no estudo do texto a partir de um livro de
pinturas.
Os alunos reproduzem os quadros a seu modo, depois montam e
fotografam naturezas mortas e
lêem os comentários que escritores fizeram sobre as telas. Findo o
processo, acumularam informação e técnica para poder escrever
uma resenha completa sobre a
obra e debatê-la com os outros colegas em classe.
Também no Bandeirantes a infra-estutura conta a favor do bom
ensino. São 14.446 títulos em sua
biblioteca, acrescidos de 76 assinaturas de periódicos (inclusive jornais argentinos e norte-americanos), 876 softwares educacionais,
hemeroteca e videoteca, que recebem 1.100 consultas eletrônicas
diárias. Um software de edição eletrônica projetado por um professor do colégio ajuda os alunos a
aprimorar seus textos.
Ainda assim, os docentes da rede
particular reclamam da falta de interesse dos estudantes pela leitura.
"Existe uma tendência contínua
de empobrecimento de vocabulário. Adotamos 'O Feijão e o Sonho'
na 6ª série e os meninos tiveram
dificuldade de entender as palavras. Perguntaram até se aquilo era
mesmo português", relata Eliane
Freitas, do São Luís, sobre o infanto-juvenil de Orígenes Lessa, cuja
linguagem é tão "antiquada"
quanto aquela falada pelos pais
dessas crianças.
Mesmo a Internet, rede mundial
de computadores que estaria redimindo a palavra escrita entre os jovens, não entusiasma muito os
professores.
"Você já viu a rapidez com que
eles lêem aquelas telas? É absorção
instantânea de informação, não
exatamente leitura", alerta Izeti
Torralvo, coordenadora de português do Bandeirantes.
Ainda assim, há aqueles títulos
que não falham em atrair o jovem,
mesmo o desacostumado ao meio
escrito. "Meninos da Rua Paulo",
"O Apanhador no Campo de Centeio", "Capitães de Areia" e
"Outsiders" tratam de temas caros à adolescência, como identidade, aceitação e comportamento de
grupo e são populares há mais de
uma geração.
(FABRIZIO RIGOUT)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|