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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Liana Friedenbach ficou ao menos 4 dias com criminosos até ser assassinada a facadas; namorado levou tiro na nuca

Antes de morrer, aluna ficou em cativeiro

Leonardo Colosso/Folha Imagem
Cemitério Israelita do Butantã, onde foi enterrada a estudante Liane Friedenbach


DA REPORTAGEM LOCAL

A estudante Liana Friedenbach, de 16 anos, permaneceu ao menos quatro dias nas mãos de criminosos antes de ser assassinada com mais de 15 facadas. O cativeiro em que a adolescente foi mantida por dias, em Embu-Guaçu (Grande SP), estava a menos de 3 km do sítio abandonado em que foi encontrada a barraca montada por ela e pelo namorado, Felipe Silva Caffé, 19, também assassinado, com um tiro na nuca.
Os dois namoravam havia menos de dois meses e tinham viajado escondidos dos pais para buscar refúgio em um local afastado. Liana e Felipe estavam desaparecidos desde o dia 1º de novembro, o sábado retrasado, quando chegaram a Embu-Guaçu. Eles se conheceram no colégio em que estudavam, o São Luís, um dos mais tradicionais de São Paulo.
A polícia e o IML (Instituto Médico Legal) divergem sobre a data das mortes do casal. O diretor do IML, Jorge Jarjura, afirmou que Liana foi assassinada no último domingo, há apenas três dias. Bem mais magra, ela levou facadas, no tórax, no pescoço e na cabeça. "Ela não deve ter demorado para morrer, pois os golpes foram fatais", afirmou. Segundo o IML, Felipe morreu na quinta-feira.
Já os policiais acreditam que Felipe tenha sido assassinado na manhã do domingo retrasado, apenas um dia depois de ter chegado com a namorada ao sítio abandonado em que costumava acampar com amigos. Para os policiais, Liana foi morta na madrugada da quarta-feira passada, às 3h, há uma semana.
As informações da polícia são baseadas no depoimento e em conversas informais com o menor R.A.A.C., 16, que já confessou ter participado das mortes. Segundo a polícia, o menor já era suspeito de outros crimes na região, entre eles um assassinato.
O jovem contou em detalhes aos policiais que o prenderam o que aconteceu desde o dia em que encontrou o casal. Segundo sua versão, quando caminhava pela mata, conheceu um homem que estava caçando na região, conhecido como Pernambuco.
Os dois, sempre de acordo com o menor preso, começaram então a conversar e avistaram os dois, que chamavam a atenção por destoar dos pessoas que normalmente vão ali. Teriam decidido, então, assaltar Liana e Felipe.
No final da tarde daquele sábado, renderam os dois. Como não tinham nada de valor, Liana e Felipe foram levados para uma casa abandonada ali perto -o cativeiro, uma chácara chamada Fazenda Boa Esperança. Foi só então que surgiu a idéia de sequestro.
É lá que estava o terceiro participante do grupo, um homem identificado apenas com Aguinaldo, que foi preso ontem. Ele era uma espécie de "caseiro" do local, uma construção de blocos aparentes, muito suja e com móveis velhos.
No dia seguinte, Pernambuco teria matado o rapaz. Liana, segundo o menor, teria sido poupada por ter dinheiro. Com a movimentação na região a partir da segunda-feira, Pernambuco, ainda na mesma versão, foi encontrar um lugar em São Paulo para levar a jovem e pedir o resgate. O plano falhou, e R. decidiu matar Liana. Depois disso, foi para a casa de uma parente, em Itapecerica, também na Grande São Paulo.
A polícia ainda buscava Pernambuco na noite de ontem, mas os delegados não descartavam que o menor estivesse aumentando os fatos em uma tentativa de amenizar a sua punição.
Os dois corpos foram achados anteontem na divisa de Embu-Guaçu e de Juquitiba. O de Liana estava próximo a um córrego, em um local de difícil acesso, a 2 km do de Felipe. O dele, localizado quase 12 horas antes, por volta de meio-dia, estava a 4 km do ponto em que foi encontrada a barraca.
Na noite de anteontem, mesmo após a polícia já ter achado o corpo de Caffé, o pai de Liana, Ari Friedenbach, dizia que ainda tinha esperança de ver a filha viva.
Já a mãe de Caffé, a enfermeira Lenice, que também percorreu trilhas perto do acampamento à procura do filho, disse ontem, durante o velório, que o desfecho do caso não a surpreendeu: "Infelizmente, já esperava por isso".
Mesmo com mais de 40 homens fazendo buscas há dez dias, a localização dos corpos só ocorreu após R. ter indicado onde os dois foram mortos. A polícia chegou até o menor após um morador da região tê-lo visto com Liana no sábado retrasado. Ontem, o menor levou a polícia ao cativeiro.
O delegado Antonio Mestre Junior, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), disse que R. confessou os crimes com frieza. "O motivo é um só: crueldade." Segundo o delegado, o menor falou que Liana foi estuprada. O diretor do IML disse que não poderia confirmar isso.
Ontem à noite, quando R. deixava o Fórum de Embu-Guaçu, onde foi depor, moradores cercaram os carros da polícia. Com gritos de "lincha, lincha", atiraram uma pedra contra um veículo. A PM jogou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo.
Horas antes de o corpo de sua filha ser localizado, Friedenbach lembrava da alegria da menina e até contou aos jornalistas que tentou convencê-la sem sucesso a não colocar um piercing.
A estudante foi enterrada no cemitério Israelita do Butantã, na zona oeste. O estudante, na Vila Alpina, zona leste.
(CHICO DE GOIS, PEDRO DIAS LEITE e AMARÍLIS LAGE)

Colaborou o "Agora"


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